O diretor Peter Weir, de genialidades como “Show de Truman” de 1998, opta por não subjulgar a capacidade do espectador, ao não lançar na tela dados como data e localidade, está tudo nas entrelinhas, basta um pouco de atenção, e veremos em diálogos como "-Há 100 anos, em 1859..." para poder entender que a história se passa entre o fim dos anos '50 e o início dos anos '60, em um colégio interno para garotos, onde o conservadorismo, o machismo e outros ismos imperavam na américa.
Nesta linha do conservadorismo, em certo ponto do filme, um dos personagens luta por suas escolhas na vida, assunto no qual o pai linha-dura sempre acaba se impondo. O espectador pode perguntar "e a mãe, que lado toma nesta luta?". A resposta é: nenhum! Que direito tinham as mulheres naquela época? E podemos ver isso claramente quando, a primeira vez que vemos a mãe do garoto em cena, ela está simplesmente chorando, sem sequer ter tentado convencer o pai, ou consolar o filho.
Já outro personagem, sempre quieto e temeroso, tentando ao máximo manter distância de qualquer coisa "anormal" em sua conduta no colégio, mostra-nos outra boa escolha do diretor. A princípio podemos dizer: "ah... O velho clichê do garoto pobre que não quer perder a bolsa". Mas não. Unicamente é um garoto tímido que mal tem coragem de ler em público, apesar de aparentar ser poeta, ao tentar esconder suas literaturas do colega brincalhão.
O filme acaba de maneira muito realista. Fugindo dos padrões atuais de cinema, onde o objetivo normalmente é agradar os egos de quem o assiste, para que o diga "nossa, que belo filme!", nesta obra de '94, onde o personagem central John Keating, (Robin Willians, de Jumanji, 1995), um professor a frente de seu tempo, com métodos não convencionais de ensino (talvez fonte de inspiração para Escritores da Liberdade, 2007) vem com o objetivo de mostrar novos valores às vidas destes estudantes, num momento em que seguem a dura rotina de estudar, estudar e estudar, se formar e ser o que agradar o papai e a mamãe, de modo assim, jamais vivendo a vida. "Carpe Diem". Do latim, “Aproveite o dia”, é o lema ensinado por Keating, que aos poucos influencia aqueles alunos, que passam a arriscar mais, querer mais e viver mais. Aproveitar mais. "Carpe...".
A Sociedade dos Poetas Mortos era o ponto de escape daquelas almas aprisionadas no tédio do cotidiano, sociedade oriunda dos tempos em que John foi aluno daquele mesmo colégio, provavelmente tentando se libertar. Liberdade é tudo o que os jovens procuram, e por quê sempre acabam perdendo isso ao atingir a idade adulta?
Mas porquê o final é realista?
Experimente dizer ao seu chefe que não irá trabalhar hoje por que, afinal, não tem nada pra fazer no escritório hoje mesmo... (E realmente não tendo!); você receberá um aviso prévio e logo não precisará trabalhar dia nenhum! O correto seria ir para o escritório, fingir que está fazendo algo até o final do dia, e chegar em casa cansado, e no dia seguinte, desgastado para as tarefas que virão.
E assim o mundo continua, a hipocrisia impera, mudaram as estações, mas nada mudou. Se você tentar mudar a rotina, o rumo pode tomar proporções fatais, assim como apresentado neste "Sociedade dos Poetas Mortos" e em "Beleza Americana", 1999. Você deve não viver, e sim funcionar. Seguir os padrões, mostrar lá fora o quê você não é e nunca alcançar o que realmente almeja para a sua vida.
Ou então, fazer o que realmente quer, dar um belo dane-se para a hipocrisia, e ver no quê isso vai resultar.
Carpe Diem!
\"Experimente dizer ao seu chefe que não irá trabalhar hoje por que, afinal, não tem nada pra fazer no escritório hoje mesmo... (E realmente não tendo!); você receberá um aviso prévio e logo não precisará trabalhar dia nenhum! O correto seria ir para o escritório, fingir que está fazendo algo até o final do dia, e chegar em casa cansado, e no dia seguinte, desgastado para as tarefas que virão.\"
Parabéns pelo texto.