A sororidade é um conceito que remete a um comportamento de não julgar outras mulheres. Com isso, o termo também se refere à escuta respeitosa de uma mulher por outra. Assim, a sororidade diz respeito à empatia. Ou seja, versa sobre o exercício de cada mulher se colocar no lugar uma das outras, de modo a respeitar os respectivos contextos. Portanto, a sororidade é um movimento importante para destruir a ideia de rivalidade socialmente construída e enraizada sobre as mulheres. E mais do que isso: é crucial para pautar um sentimento de união que é independente da afinidade de uma mulher com outra.
Este conceito é o mote da comédia romântica dos anos 2000 Tudo Contra John. Na trama, três mulheres muito diferentes umas das outras se percebem ludibriadas pelo mesmo homem. Mas, em vez de seguirem brigando, elas resolvem se unir e, com intermédio da protagonista vivida por Brittany Snow, articular uma vingança contra o personagem título, papel de Jesse Metcalfe. A partir de então, o filme toca em um assunto delicado com um bom humor que consegue ser ao mesmo tempo besteirol e inteligente. Isso porque há algo de esperto na sátira de comportamentos femininos e masculinos em relacionamentos amorosos. E é muito revigorador ver uma discussão que geralmente é feita em filmes mais melancólicos aparecer em uma comédia pastelão. Afinal, a gente reflete muito melhor quando se move pelos afetos.
O que é mais interessante em Todas Contra John é que o percurso cômico e até os clichês das comédias românticas estão a serviço de mostrar novas possibilidades às mulheres vítimas de relacionamentos como esse. Isso não quer dizer que o filme cai na armadilha de enaltecer comportamentos vingativos ou demonizar experiências masculinas. O personagem-título é a prova disso. Ele tem aquele jeito de galã irresistível, as artimanhas de um galinha detestável e o corpo perfeito de Jesse MetCalfe, que se encaixa como uma luva no papel. Mas o personagem também tem a chance de aprender e ensinar durante o decorrer da produção.
E as relações entre as protagonistas e coadjuvantes femininas, que dominam a obra, não são menos interessantes. Nesse sentido, destaca-se a interpretação humanizada de Jenny McCarthy. Ela, que sempre foi muito mais uma socialite de reality shows e personalidade midiática de talk shows do que uma atriz reconhecidamente talentosa, mostra que no papel certo pode até conduzir caminhos interessantes. Isso porque, como a mãe da protagonista, ela personifica uma série de paradoxos comuns à vivência feminina dos relacionamentos. Assim, a personagem é admirada por todos ao seu redor, mas não tem a autoestima necessária para escapar da mão de situações hipócritas nessas relações. Então, ela se vê repetindo padrões de sofrimento, pelo menos dentro do que podemos esperar de uma comédia com um quê despretensioso. Mas ela também tem seus valores, seus princípios e é uma confidente importante da filha. Aliás, o modo como a personagem de Brittany Snow se envolve na trama de vingança para proteger a mãe é de fácil identificação para quem já viu alguém que ama sofrer com casos assim.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário