Já fazem quase 25 anos do lançamento de Independence Day, filme que enfim explodiu o nome de Roland Emmerich nos Estados Unidos em sua oitava produção, sendo a quinta americana. O diretor alemão aos poucos notabilizou uma fórmula para seu cinema, decalcada da desconhecida ficção científica de horror típica dos anos 50, e partiu criando um selo particular de destruição em massa de escala cada vez mais global, com uma ou outra exceção a esse campo comum nos anos recentes. Apesar de aparentar um respiro inicialmente, Midway expõe ao público características sempre presentes em suas produções, aqui exacerbadas.
As proporções épicas de tintas grandiloquentes que sempre foram uma segunda base pro cinema de Emmerich aqui estão na comissão de frente, emoldurando eventos e personagens reais que são flagrados no momento da destruição do porto de Pearl Harbor pelas tropas japonesas durante a Segunda Guerra Mundial. Tais eventos e suas consequências bélicas são o palco principal para o diretor retomar um cinema histórico com o qual tinha flertado em O Patriota, com certo sucesso. Diferente de lá, aqui o potencial imagético da produção é parcialmente afetado por um texto de difícil tratamento.
Ao elenco de peso, coube repetir frases heróicas, superlativas e definitivas, que não ajudam a evolução de seu trabalho. Por melhores que fossem as intenções de Woody Harrelson, Dennis Quaid, Mandy Moore, Patrick Wilson, Nick Jonas, entre outros, toda a credibilidade é posta à prova com a forma quadrada da natureza das relações, sem qualquer nuance que borre os personagens, e os diálogos que não os coloca em posição confortável, eventualmente constrangendo a audiência. Também não ajuda Midway seu protagonista ser Ed Skrein, carisma inexistente e uma propensão extra à canastrice.
Tecnicamente, é um "filme de faz de conta". Lógico que temos a consciência de que nenhuma das peripécias aéreas que o filme apresenta podem ter ocorrido na realidade, mas é tudo muito bem confeccionado, de manufatura muito eficaz, que acaba por nos pegar pelo pé. A cena inicial, a tão propalada destruição de Pearl Harbor, acaba por ser a menos eficiente, exatamente porque a magia do cinema se faz muito evidente, com focos de incêndio claramente artificiais que tiram a concentração do jogo lúdico. Mas a partir desse início, é longa 1 hora e meia de momentos aéreos concebidos com esmero, o mesmo que Emmerich sempre apresentou.
Ufanista como é a maior parte de sua filmografia, o alemão volta a declamar amor e reverência à pátria que o acolheu em momentos que resvalam na pieguice, principalmente por conta da desagradável trilha sonora que induz cada milésimo de segundo da narrativa e impõe a emoção a ser experimentada pelo espectador não apenas com insistência, mas sem qualquer sutileza, movendo o filme por lugares muito óbvios. Mas estamos diante de um blockbuster feito para uma multidão de cidadãos norte-americanos patriotas e fãs de Mel Gibson aos cinemas, logo fica claro que o filme funciona e se presta a uma fatia de público muito específica, que corroborou ao chamado colocando o filme em primeiro lugar nas bilheterias.
Midway se entende, acima de tudo, como um produto de massa. Ainda que nem sempre a obviedade das intenções de uma produção seja tão explícita quanto aqui, seus méritos (e defeitos) foram calculados para vender um material, como uma peça descartável mesmo. Riscos aparados, o que resta é um longa autoconsciente de sua durabilidade na memória do público, irrisória. Vale a pena então esquecer os diálogos melodramáticos, os personagens unidimensionais e o protagonista em tudo desagradável (ok, esse é bem difícil colocar de lado), e partir para a diversão sem qualquer compromisso e que acaba flertando aqui e ali com alguma relevância temática, como o desperdício de vidas humanas inábeis, explorado graficamente e textualmente.
Ao fim e ao cabo, é só mais um filme do diretor do divertido O Dia Depois de Amanhã, como esperar algo além do escapismo puro e simples? A essa altura de sua carreira, a grande surpresa virá quando e se algum dia ele se elevar para muito longe disso.
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