A guerra sob as lentes sem emoção de Christopher Nolan
Eu não vi muitos filmes do Nolan, eu até vi metade de Interstelar, mas acabou que por um imprevisto não consegui terminar, tentei ver O Grande Truque, mas a narrativa era confusa demais para mim, vi A Origem, que um, excelente filme, vi também Cavaleiro das Trevas que é muito bom. Dito isso, Dunkirk é o terceiro filme que vi do diretor e mesmo com diversos problemas mais uma vez ele conseguiu me fisgar com o filme, que é bom, mas também me faz temer o futuro do cinema.
Deixa eu explicar, vou começar pelo o que eu não gosto, infelizmente é o roteiro, não inteiro, mas uma parte crucial, as personagens, Dunkirk é um filme de guerra em que nenhuma personagem tem uma personalidade, com exceção de Mark Rylance, com seu patriotismo gigante e Kenneth Branagh que transmite pelo seu olhar a sensação de presságio do que está por vir. Esses são as únicas personagens com personalidade e isso não é culpa do elenco que está muito bem, mas sim do roteiro. Ok, essa é uma escolha consciente de Nolan que quis retratar a guerra e a tristeza dela como a principal personagem, mas a melhor forma de passar essa mensagem é criando algum personagem, ao menos um, que o público irá se relacionar. Isso fica mais notável com o Tom Hardy que faz um personagem que poderia ter sido feito por qualquer outro ator, já que ele fica com uma máscara o filme inteiro e não tem um pingo de personalidade. Mesmo consciente a decisão do Nolan afeta o investimento do público com o filme que procura mais ser grandioso do que emocionante, ou no mínimo que criasse um vínculo público personagem. Me assusta a total negligência de alguns críticos em relação a isso, tratando o filme como perfeito apenas pela experiência sensorial que ele traz, os filmes ficarão cada vez mais focados em te impressionar e serão frios como esse a partir de agora? Não estou dizendo que isso não é cinema, ou que isso é uma expressão inferior de arte, é apenas preocupante ver que as pessoas não estão mais se importando com a relação que teremos com as personagens presentes em tela.
Ok, dito sobre as personagens eu gosto de Dunkirk, é um filme extremamente bem feito. Acho interessante a escolha de uma montagem não linear que opta por focar em 3 linhas narrativas durante a batalha de Dunquerque, o filme acompanha a narrativa de uma semana na praia, um dia no mar e uma hora no ar, interligando as três narrativas e abordando-as durante o filme sem uma extensão cronológica padrão, a montagem e a edição são muito boas, mas há momentos que elas causam uma certa confusão no público sobre o período temporal, mas é um problema menor, apenas acho que o Oscar deveria ter ido para Em Ritmo de Fuga que trabalha perfeitamente a montagem e a edição, e diga-se de passagem, é um filme melhor, ainda assim é espetacular esse trabalho.
Outro show é na parte sonora, a mixagem é perfeita misturando em certos momentos o som dos efeitos sonoros com a espetacular trilha de Hans Zimmer que ajuda a construir a tensão e suprir a falta de emoção por parte do roteiro, além de ser a obra prima do compositor alemão, o que não quer dizer pouca coisa.
Nolan manda bem na direção e parcialmente na escrita do roteiro, mesmo com a total impessoalidade das personagens o roteiro sabe transmitir a sensação de calmaria antes da tempestade e do luto que a guerra traz, mesmo que não seja por meio dos protagonistas, gosto também que ao invés dele ir pro padrão de filmes de guerra que é mostrar o quão difícil é viver durante a guerra, aqui há priorização da tristeza da guerra. Já na direção Nolan está perfeito, ele consegue criar criar tensão e trabalha muito bem com a câmera, auxiliado pela excelente cinematografia do Hoyte van Hoytema que trabalha bem com as cores e os contrastes entre elas. Nolan também tem total controle dos recursos cênicos presentes em cena, ele sabe exatamente com distribuir cada elemento no cenário de forma que auxilie a cena.
Algo que admiro em Nolan é a sua priorização efeitos práticos, o que dá uma maior sensação de realismo as cenas, afinal eles são coisas reais, ou construídas para o filme e não apenas imagens geradas por computador, mas aqui, tendo em vista a natureza do projeto, ele mistura os dois tipos e não da para diferencias os dois, isso apenas mostra a habilidade do diretor e sua equipe ao trabalhar com efeitos especiais.
Dunkirk, é sem emoção e impessoal, mas consegue criar tensão e é perfeito tecnicamente, além de ter um bom elenco e um roteiro que foge do lugar comum dos filmes de guerra. É um filme que não me emocionou, mas me impressionou.
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