É um daqueles filmes que tem a capacidade de contribuir para formar o caráter de alguém. Como aspecto positivo, o filme tem o conteúdo. Como negativo, a forma. Começo pelo segundo. Há um tom de afetação excessiva na interpretação dos atores. Além disso, as coreografias, principalmente na encenação dos combates, são de um "expressionismo" um tanto caricato demais. Toda a parte dramática do filme sofre com a afetação, de forma que, em todo diálogo, os atores reagem com excesso em suas expressões, gestos e entonação. Dito isso, passemos ao conteúdo, essência que torna o filme brilhante. Com muitas camadas, iremos pontuar apenas as mais importantes entre as que foram percebidas. Em primeiro lugar, há um debate sobre um princípio fundamental caro ao mundo civilizado, o da fraternidade, ou da solidariedade. O clã que protagoniza o filme foi incapaz, em virtude de um suposto apego às tradições, de demonstrar, por Motome Chijiiwa, a menor solidariedade. Por que? Como Hanshiro Tsugumo diz em uma de suas explanações, por uma crônica incapacidade de se colocar no lugar do outro. Em seu cerne, o filme é sobre aquele movimento moral que o ser humano é capaz de fazer: projetar-se para a condição do outro. Embora pressuponha pouca energia, é de difícil execução. É um movimento intelectual que nos torna capaz de compartilhar e compreender a experiência do próximo. Dessa forma, foram capazes de deixar que um desgraçado ex-guerreiro cometesse suicídio com uma espada de bambu, em terrível e desnecessário sofrimento. A saga de Hanshiro Tsugumo é movida pela vingança e por uma chance de se redimir por sua inércia, para extirpar a culpa que o assola. Contudo, serve para demonstrar aos líderes do clã que talvez não tenha sido por respeito a uma moribunda tradição que tenham cometido tamanha crueldade. Talvez tudo tenha sido causado por uma crônico problema moral. Tanto o é que Hanshiro Tsugumo debocha dos grandes espadachins formados pelo clã, os quais, envergonhados pelo fracasso em duelos, escolhem a mentira, em detrimento de assumirem, com coragem, a derrota e enfrentarem seus pares. Estavam todos "adoentados". O próprio líder do clã é o símbolo máximo do desvirtuamento da tradição: trama nos bastidores o assassinato de Hanshiro Tsugumo, isola-se em seus aposentos, covardemente, enquanto aguarda seus súditos morrerem em combate, mente sobre a história que ali acontecera, registrando-a em seus anais. Assim, a cena em que Hanshiro Tsugumo lança ao solo, destruindo-a, a imagem que representa a ancestralidade samurai é a metáfora que resume o filme: os valores samurais estavam se tornando meros símbolos destituídos de conteúdo, diante de uma corrupção dos sentimentos que avançava, solapando, inclusive com o uso de armas de fogo, a solidariedade e honra que fundamentavam a vida samurai.
Críticas
9,0
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