https://cinecomlaranja.blogspot.com.br/2017/08/critica-dunkirk.html
Tensão. Se me pedissem para definir Dunkirk em um sentimento certamente escolheria esse já que a mesma com certeza é a alma do novo filme de Cristopher Nolan. O diretor que já mostrou que quer tornar cada novo filme seu um espetáculo memorável consegue fazer isso novamente com maestria ao trazer o espectador para dentro da segunda guerra mundial, deixando o cada vez mais nervoso durante os 106 minutos do longa, com uma abordagem diferente da maioria dos filmes do gênero. Esqueça cenas de alistamento, de treinamento ou mesmo grandes sequencias de ação sangrentas no front de batalha, o longa não tem nenhuma cena desse tipo, nem mesmo o nome da maioria dos personagens é revelado, assim como não vemos o rosto de nenhum inimigo. Acredito que a essa altura já deve estar muito claro para você que esse claramente é um longa bem diferente do habitual.
Diretor e roteirista do filme, Nolan faz um trabalho excelente na primeira função, quase todas as escolhas do realizador acabam se mostrando acertadas durante a projeção. Há duas delas que valem a pena ser destacadas, a primeira, e que já pode ser percebida logo nos primeiros minutos, é a forma como a ação é filmada, sempre focando nos rostos aflitos dos soldados de forma que o espectador acabe sentindo junto a angustia de um eventual ataque. A segundo é a decisão de fazer um filme bem mais curto do que seus trabalhos anteriores ajuda com que o longa mantenha seu ritmo insano, isso claro aliado ao belíssimo trabalho de montagem e a escolha de contar a história de forma não linear.
A maioria dos filmes de Nolan conta com roteiros grandiosos, vide Batman – O Caveleiro das Trevas (2008) e A Origem (2010), porém em Dunkirk temos o texto mais simples do cineasta até aqui, e isso não é um ponto negativo já que estamos falando de um trabalho com cunho muito mais visual do que narrativo, porém isso não significa que o roteiro seja raso ou algo do tipo, ou seja, não é brilhante, mas também está muito longe de comprometer. Não há revelações sobre o passado dos soldados, ou coisas do tipo, não sabemos nem o nome da maioria deles, mas nesse caso não era necessário, não precisamos saber muito sobre o caráter deles ou sobre suas histórias para nos importamos com eles, o olhar e o silêncio dos mesmos já é o suficiente.
A história do longa é divida em três núcleos, o molhe, que mostra os soldados tentando sobreviver na praia de Dunquerque, o mar, que mostra três civis partindo em seu barco para tentar resgatar os soldados, e o ar, que mostra dois pilotos tentando destruir os aviões nazistas. O mar é o que recebe mais atenção do roteiro, nele estão provavelmente mais da metade dos (poucos) diálogos do filme, apesar de ter vários ótimos momentos, boa parte deles envolvendo o personagem de Mark Rylance, esse núcleo tenha o que talvez seja a única “gordura” do longa que é o arco um tanto quanto desnecessário para o personagem de Barry Keoghan.
É verdade que esse não é um filme que exige o máximo de seu elenco, mas ainda assim temos boas performances. Os experientes Mark Rylance, que interpreta um civil comandando seu barco na tentativa de ajudar os soldados na tentativa de evacuação da praia de Dunquerque, e Kenneth Branagh, que interpreta um comandante da marinha, vão muito bem com seus personagens que apesar da situação desesperadora ainda conseguem manter uma expressão serena. Cillian Murphy, que interpreta um soldado traumatizado, e o estreante Harry Styles, um dos soldados encurralados na praia, também vão bem com seus personagens que visivelmente foram fortemente abalados psicologicamente pela situação desesperadora em que se encontram.
Dunkirk tem uma parte técnica simplesmente brilhante. Começando pela trilha sonora fenomenal do compositor Hans Zimmer que incrementando sons como o de um tic-tac de um relógio, de um estrondoso barulho de um avião e até mesmo o potente de som de um poderoso alarme as suas composições consegue ajudar, e muito, a manter a atmosfera de tensão do longa. A edição e mixagem do som do filme, como já é de costume em filmes de guerra, também são excelentes. A fotografia, principalmente nas cenas que envolvem o núcleo do ar, e a montagem, que consegue conciliar muito bem os três núcleos do filme, são outros pontos dignos de elogios.
Com uma excelente direção e uma parte técnica irretocável Dunkirk é mais um grande filme na carreira de Nolan, colocaria esse como seu melhor filme atrás apenas de Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008) e A Origem (2010). Trata-se de uma experiência extremamente imersiva e grandiosa. Extremamente barulhento e silencioso ao mesmo tempo. Se essa critica foi aberta com um sentimento que define o filme, acho justo fecha-lá com uma frase, citada pela critica Ana Maria Bahiana em seus comentários sobre o filme, que o define perfeitamente: "A guerra é monstruosamente barulhenta e terrivelmente silenciosa, ao mesmo tempo."
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