Um ano depois de "The Exorcist" ter reconduzido o cinema de horror aos grandes holofotes, foi a vez da produção independente "The Texas Chainsaw Massacre",do jovem diretor Tobe Hooper,abalar as estruturas do gênero. Dessa vez não se lidaria com o medo do sobrenatural,mas sim,com o medo de algo mais concreto,em outras palavras,um confronto direto com a crueldade humana.
Lançando em uma época contestatória e de grande inquietação no mundo,em grande parte,provocado pela paranóia decorrente da Guerra do Vietnã,;é de esperar que o filme tenha captado boa parte dessa atmosfera - veja-se o clima de insanidade e tensão vigente,além dos aspectos da contracultura presentes desde a caracterização dos personagens.
O filme apresenta a trajetória de um grupo de cinco jovens hippies que atravessam as áridas paisagens do deserto do Texas para visitar uma propriedade abandonada,e vêem sua viagem de domingo ser transformada em um pesadelo inesperado ao cruzarem com uma demente família, com hábitos canibais,habitante do local. A história,aparentemente simples,entretanto,se desdobra de tal forma a nos apresentar uma das mais genuínas materializações do horror e do nervosismo já feitas.
Tobe Hooper comanda o show de horror que já nos incomoda desde seus momentos iniciais com a sua fotografia imperfeita e documental(algo que foi desintencionalmente ajudado pelo baixo orçamento do projeto).Aliado a isso,temos a caracterização suja e repugnante dos ambientes do filme(veja-se,por exemplo,o sórdido ambiente da casa dos Sawyer,quando Pam adentra um dos cômodos) e uma quase total ausência de trilha sonora(o máximo que temos é a tétrica trilha instrumental nos minutos iniciais) que torna a atmosfera da película ainda mais sinistra. É incrível ver como Hooper consegue manter esse clima atmosférico na película durante toda a projeção,algo que,por si só,já constitui um diferencial e ponto alto da produção.
O desenrolar da película praticamente não perde tempo com fatos secundários: é incisivo e direto. Não tarda para que já estejamos envoltos com o desespero desencadeado por aquela situação enervante. Os principais assassinatos do filme ocorrem,essencialmente, em um curto e frenético intervalo de tempo no fim da primeira metade do filme. Engana-se,entretanto,quem imagina que a película perca sua força aí,ao contrário, - Hooper executa a direção de tal forma,que a cada segundo tudo torna-se mais emocionante,em especial,a partir das tensas cenas de perseguição da última sobrevivente na escuridão do local.
Hooper demonstra,aqui,um grande talento para o manuseio de sua câmera,que nos mostra movimentações sufocantes e ótimas angulações. O maior exemplo,é,sem dúvida, a inesquecível e marcante cena do banquete(uma das mais sádicas já feitas): onde abusa dos 'travellings',fazendo a câmera viajar pelo cenário e lança mão de uma série 'zoons ins'(o que causa ainda mais desconforto no espectador ao dar 'closes' na 'remela' dos olhos da vítima e mais profundamente,em suas pupilas inquietas), aproveitando muito bem a dinâmica perversa instalada entre os vilões a vítima em questão. Observem como o diretor dá esporádicos 'zoons ins' e 'zoons out' até na imagem da Lua no deserto,para reforçar a atmosfera misteriosa e desalentadora da noite na projeção e o sentimento de não ter a quem recorrer naquela situação.
É notável que se consigam todos esses efeitos sem jamais apelar para a violência gráfica explícita:em determinado momento, por exemplo,o plano de filmagem desvia no exato
momento em que o assassino vai lacerar o corpo da vítima com sua motoserra e em vez de se preocupar em mostrar como ficou o estado do corpo, exibe-se o turbilhão de sangue saltando no avental do vilão; o que não compromete de forma alguma o grau de violência e tensão na cena.
As atuações exageradas do filme e,em alguns momentos,até mesmo ridículas(em especial de Edwin Neal e seu sinistro 'Hitchhiker') contribuem para reforçar o já ressaltado tom de insanidade vigente no filme. Marilyn Burns se destaca, e está ótima e visceral, com a sua Sally extremamente histérica e atormentada nos momentos de desespero,o que lhe conferiu um lugar na galeria das 'scream queens' eternas do cinema de horror. Gunnar Hansen,mesmo no silêncio de seu personagem,compôs o doentio Leatherface,um dos antagonistas mais temidos da história cinematográfica.
Além de tudo,"The Texas Chainsaw Massacre"também acerta por não se preocupar em estabelecer o motivo pelo qual aquilo está acontecendo:apenas está acontecendo,não importa o porquê;fato que realça o clima enigmático e angustiante do filme. E se falei muito de Hooper,anteriormente,não é a toa:é ele a principal estrela desta película.Sem sua direção intensa e beirando ao verossímil,não seria possível ter construído esse verdadeiro divisor de águas na história do gênero 'terror',que,a despeito da polêmica que causou na época,elevou,sobremaneira,a importância dos 'slashers movies' e provou que sim - é possível realizar-se filmes independentes e de baixo orçamento com qualidade.
Um clássico imperdível,que faz merecer a alcunha que recebeu por parte crítica especializada,de 'cinema de verdade'(em alusão a sua ousadia e realismo).
Belo texto. Clássico absoluto do terror. Pena que nem aa seqüências, nem os remakes fizeram algo digno para carregar o nome da franquia.
Um dos filmes mais insanos, perturbadores e sádicos do cinema. A obra-prima de Hooper.
Valeu Cristian!! Concordo com você - a franquia é tão extensa e nunca se conseguiu fazer um filme que fizesse jus ao original. O vúmulo foi o ridículo "Leatherface 3D".
Fato, Luiz. 😎