Quando eu tinha 11 anos de idade, após assistir o filme "Colcha de Retalhos" eu achei o filme muito bom e posteriormente ao encontrar com um amigo meu, perguntei se ele já havia assistido o filme. Após receber um sonoro 'não', contei-lhe a história e escutei uma certa frase; "Ah! Esse é filme de mulherzinha!". Quando eu adquiri certa maturidade, percebi que até hoje, existe certo preconceito de alguns homens com certos filmes dramáticos e de romance. É criado um certo subgênero e uma afirmação besta de alguns filmes são direcionados somente para o público feminino e essa máxima é um grande equivoco, vide que existem inúmeras fabulas de amor que são excelentes. Muitos alegam desnecessariamente e erroneamente que determinadas películas somente são somente apreciadas por mulheres, pois é necessário uma certa 'sensibilidade feminina' para compreender melhor a história retratada. Ledo engano. Se um filme é bom, é bom independente do gênero, mesmo que se a pessoa não goste de determinado gênero, deve ao menos reconhecer as qualidades de certos longas. "Tomates Verdes Fritos" sofre do mal dos 'filmes de mulherzinha'...
A premissa da trama é bem simples, sem reviravoltas mais extremas durante todo o desenrolar ou nenhum suspense e nem ao menos tramas paralelas mirabolantes. Tudo começa quando Evelyn Couch, uma esposa dedicada que vive de tentar apimentar seu morno casamento com aulas especializadas, acompanha o marido em uma visita à tia que mora em um asilo. Por não ser bem recebida pela antipática velhinha, Evelyn passa essas ocasiões na sala de espera e é lá que conhece Ninny Threadgoode, uma senhora simpática que começa a lhe contar a história de amor e amizade entre duas mulheres. Na época do lançamento da película, muitos alegaram que o filme fazia apologia ao homossexualismo, mas na verdade esse ponto é apenas um aspecto que fica subentendido e de toda forma nada é afirmando, fica tudo implícito. O filme foca bastante mesmo é na história de amor e cumplicidade, em momentos corriqueiros e situações do cotidiano, uma crônica de amizade, e acima de tudo, coragem para enfrentar os nossos medos e o preconceito da sociedade em que estamos inseridos.
O excelente roteiro da fita, é baseado em romance de Fannie Flagg e a mesma foi escolhida para escrever o roteiro, tendo parceria com Carol Sobieski. Talvez o principal acerto da escrita, seja em não maquiar o imenso preconceito que existia na época e hoje vemos que a obra continua atual, pois até mesmo no século XXI nos deparamos com os julgamentos a cerca de várias pessoas. A forma como era a relação entre negros e brancos é mostrada sem frescura de forma nua e crua. No período retratado, os afrodescendentes eram tratados unicamente como meros criados, destinados apenas a servir a classe branca da melhor maneira possível, o que obviamente causava muita indignação por parte deles. O filme exibe ao longo de sua duração muitos flashback's, o que é necessário e que funciona otimamente bem, isso devido a constante narração de Ninny e tudo isso executado graças a dinâmica montagem de Debra Neil-Fisher, que alterna passado e presente num ritmo totalmente harmonioso.
O filme conta com pouca trilha sonora, mas quando aparece pontua bastante, contribuindo para reforçar a carga dramática no enredo da fita. Thomas Newman utiliza bastante violino e piano para compor uma leve mas marcante melodia. Numa óbvia referencia ao nome do filme, a fotografia de Geoffrey Simpson, auxiliada pela direção de arte de Larry Fulton, adota clara preferência pela cor verde, notável através dos locais arborizados, do sofá do hospital e do telhado da casa de Idgie, entre vários outros objetos. A cor faz alusão conjuntamente a esperança, que era o que Evelyn mais precisava devido sua condição. Gradativamente, a fotografia passa a escurecer, devido ao fato das personagens principais forem passar por um grande evento e também refletindo a amargura das pessoas envolvidas nos tais acontecimentos. Vale ressaltar em conjunto, o ótimo trabalho de Elizabeth McBridge, responsável pelo figurino e faz um ótimo trabalho em diferenciar as roupas da época de Evelyn e as dos dias atuais.
A força matriz do longa se concentra nas formidáveis atuações do quarteto principal. Kathy Bates que vinha do Oscar de Melhor Atriz no ano anterior por "Louca Obsessão", aqui entrega uma atuação totalmente diferente da assustadora e psicopata Annie Wilkes. Aqui, Bates entrega um trabalho divertido e empolgante. Infelizmente a atriz Mary Stuart Masterson permanece no ostracismo até hoje, mas aqui, realiza um trabalho excepcional. A veterana Jessica Tandy realiza um trabalho majestoso, como uma senhora apaixonada pela vida e totalmente encantadora, aquelas doninhas que da vontade até de você levar pra casa e aos poucos ela vai renovando o espirito de Evelyn com discursos otimistas e animados. A sempre bela Mary-Louise Parker também está fantástica e sobra até espaço para um então jovem bastante promissor, Chris O'Donnell que infelizmente ao longo do tempo não correspondeu com o potencial que havia exibido no inicio da carreira. Fechando o time, vemos Mick Searcy na pele de Frank Bennett que atormenta a vida de Ruth a todo momento. Pelo menos na visão de Ninny Threadgoode.
Em 92, o Filme teve indicações no BAFTA e no Globo de Ouro, ambas premiações nas categorias de Melhor Atriz para Kathy Bates e Melhor Atriz Coadjuvante para Tandy e no Oscar não foi diferente, mas eu acredito que caberia ao menos mais uma indicação para Melhor Roteiro Adaptado, já que o filme é muito bem escrito. O trunfo do filme, para quem assistiu e pode perceber, está no fato de desenvolver a história de uma forma bastante sutil. Independente do tipo de relação que Ruth e Idgie constroem, a ênfase é dada apenas ao sentimento que as une. Até mesmo a antipatia que as duas mulheres despertam em habitantes mais conservadores da cidade não está ligada ao fato das duas estarem juntas, mas sim por elas tratarem com igualdade todos os excluídos da sociedade de então, ou seja elas dão um banho de agua fria e um tapa na hipocrisia, preconceito e imbecilidade daqueles em questão. "Tomates Verdes Fritos", por mais que seja "filme de mulherzinha" é de um otimismo impar e é impossível não se contagiar e não se renovar diante de tanta felicidade...
É um belo filme - acho que pode ser considerado um pequeno clássico - , mas não o guardo tão bem assim na memóri. Preciso rever.... Texto badtante bacana, meu amigo. Meus parabéns