Após formar-se com honras, o jovem advogado Mitch McDeere aceita a proposta de uma pequena firma localizada em Memphis, que lhe oferece um alto salário e diversos benefícios em troca de seu talento. Mas na medida em que ele inicia os trabalhos, começa a desconfiar da empresa e de seus companheiros, como o misterioso Avery, que paralelamente tenta seduzir sua esposa. McDeere que vê a grande oportunidade de sua vida lentamente se transformar num verdadeiro pesadelo, ao descobrir valiosos segredos de seus novos chefes. Dirigido por Sydney Pollack, o longa aposta na alta carga de tensão e em seu talentoso elenco, conseguindo certo sucesso simplesmente pela forma em que a narrativa é conduzida, sem apelar para inúmeras sequências de ação ou suspense. O primeiro filme a ser baseado nas obras do autor best-seller, John Grisham, que mundo a fora já vendeu mais de 250 milhões de exemplares, com títulos traduzidos para mais de 29 línguas, sempre figurando nas listas dos mais vendidos, acaba se mostrando um thriller bastante eficiente...
A produção logo de inicio já aposta em nomes de peso para compor seu vasto elenco. A começar pela pequena mas razoável participação de Tobin Bell, o eterno Jigsaw de "Jogos Mortais" já aprontando seus assassinatos desde sempre. Os papéis na verdade não exigem uma carga dramática tão minuciosa assim e todos estão muito bem em cada um. O saudoso Paul Sorvino dá as caras e vemos um então jovem David Strathairn na pele de Ray McDeere. Conta-se ainda com os sempre excelentes Ed Harris, Hal Holbrook e Gene Hackman e as lindas e competentes Holly Hunter e Jeanne Tripplehorn como Abby McDeere, esposa do protagonista. Eu particularmente sempre achei a carreira de Tripplehorn bastante infeliz. De grande promessa no inicio dos anos 90, até mesmo por esse exemplar aqui e no grande sucesso "Instinto Selvagem", teve seus dias de glória como boa atriz e até mesmo sex symbol, foi gradativamente se perdendo em papeis insignificantes e sem expressão, vendo sua carreira sucumbir ao ostracismo.
Tom Cruise é um cara de sorte. Além de seus atributos físicos, Cruise não pode se gabar de ser um exímio ator, mas no mínimo, em todos seus papeis se mostrou ao menos um camarada esforçado, tendo sido até mesmo indicado três vezes ao Oscar na categoria de Melhor Ator. Aqui, Cruise já era conhecido mundialmente, sem o rabo cheio de dinheiro ainda, como um jovem galã e seu perfil ainda permanecia como bom moço, pois o mesmo só viria a fazer um vilão quase 10 anos depois, em "Colateral". Cruise consegue demonstrar piamente bem a frustração que McDeere vai sentindo ao decorrer da trama. Todos os ideias que o jovem prestou em sua formatura e tudo o que era correto e honrado para seus princípios e ideias vão caindo a medida que os podres dos componentes da tal Firma vão aparecendo, como exemplo, Mitch ao chegar em Memphis se mostra extremamente feliz e com semblante alegre ao pensar ter realizado seus objetivos pessoais e profissionais e a carranca no rosto do ator ao término de uma conversa com um membro da firma, Lambert, quando é dito pra ele "guardamos os segredos entre nós"... Cruise consegue com expressões verossímeis traduzir todos os sentimentos de seu personagem com exatidão.
Porém, o sonho de Mitch vai ficando cada vez mais distante, após uma serie de fatos duvidosos que vão ocorrendo logo após sua estadia na Firma. Mitch já estava atolado de trabalho e material de estudo e logo se depara com crimes e assassinatos o que faz com que ele tente sair de uma rede de corrupções pior do que ele poderia imaginar. Pollack consegue imprimir na tela um ritmo ágil e eficiente, não deixando o enredo cair no marasmo em nenhum momento. O diretor conta com os irmãos Fredric e William Steinkamp para ditar a nuance da narrativa e fazem os momentos de transições extremamente bem como exemplo os momentos de carinho e afeto entre o casal principal e as sequencias de suspense e tensão e também, intercalam de forma magistral os pouquíssimos momentos cômicos, como é ilustrado o desespero de Mitch ao se deparar do tanto de pastas que diversos advogados deixam em cima de sua mesa.
A fotografia de John Seale executa otimamente um contraste entre ambientes. Cores claras e serenas para a casa dos McDerre e para a apolínea cidade de Memphis e Seale exibi cores escuras e acinzentadas para os escritórios e toda a Firma. A direção de arte a cargo de John Willett é formidável ao retratar e dar vida a todos os ambientes e cenários percorridos pelo casal principal e é notável conjuntamente o trabalho realizado na composição dos imponentes escritórios e salas de reuniões onde ocorre as falcatruas e importantes decisões dos advogados. O maior destaque técnico é executado pelo compositor Dave Grusin que mescla a sonoridade leve nos momentos em Boston e vai aumentando a frequência a medida que é necessário como nos momentos de tensão já para o fim do longa. Grusin acabou sendo indicado ao Oscar por seu trabalho na categoria de Melhor Trilha Sonora.
De certa forma, Pollack mete um dedo na ferida do "american dream" ao fazer alusão ao céu e inferno vivido pelo personagem principal. Damos muito valor as aparências e certas vezes o terno bonito e limpinho pode fazer muito mais mal do que uma vestimenta simples. As aparências enganam. Esqueci de mencionar a boa atuação de Holly Hunter que rouba a cena com seu excelente desempenho na pele da corajosa e descolada Tammy, agraciada com uma indicação ao Oscar na categorai de Melhor Atriz Coadjuvante, que ajuda e muito Mitch a sair da enrascada em que se meteu. Com direção eletrizante, "A Firma" demonstra seu maior problema no frágil roteiro, que da muita atenção a subtrama do irmão do Mitch desnecessariamente, ocupando muito tempo na tela sem chegar a lugar nenhum e a reviravolta final com um desfecho de situações absurdas, acabando por tirar um pouco do brilho da narrativa. De toda forma a fita é um thriller astucioso, talvez um expoente para estudantes de Direito e ao termino do longa, um dito popular remente imediatamente ao pensamento... "Quando a esmola é demais, o santo desconfia..."
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