Obviamente na vida, quando certos objetivos são atingidos é necessário tomar novos ares e tentar traçar novas metas e foi o que aconteceu com Tom Hanks. Tendo vencido dois Globos de Ouro e dois Oscar na categoria de Melhor ator em um curto espaço de tempo, era hora de se aventurar atrás das câmeras e confesso que não esperava muito do primeiro trabalho de Hanks como diretor e fiquei até surpreso ao saber que era Hanks o responsável por um filme que eu assisti bastante na sessão da tarde e ainda por cima um filme muito bom por sinal. Um dos atores mais queridos de Hollywood e por que não, do mundo todo, infelizmente não conseguiu o mesmo sucesso que teve frente as câmeras. Não que o filme seja péssimo, muito pelo contrário, Hanks mostrou um tato que deveria ter investido mais na cadeira de diretor visto que até hoje só dirigiu esse exemplar e um outro que sim, é uma infeliz realização que é "Larry Crown". "The Wonders" é um filme que começa mágico, e termina melancólico, mas com um clima de esperança e nostalgia no final...
Projeto pessoal de Hanks, que além de dirigir escreveu também o roteiro, “The Wonders” tem início quando o jovem Guy Patterson aceita substituir o baterista de uma banda num concurso local de sua cidade e, ao alterar o ritmo da canção, acaba ajudando a criar um hit instantâneo que, com o auxilio de um empresário da ficticia Play-Tone Records, rapidamente levará os quatro rapazes para o topo das paradas de sucesso. No entanto, os conflitos entre eles começam a ameaçar o futuro do grupo. O curioso que a trajetória de ascensão e queda da banda se assemelha e muito com a história de várias bandas reais de uma música só que existiram por aí. O filme apresenta nitidamente referencia para as bandas dos anos 60 e a mais evidente é para com os The Beatles e outra ponte com a realidade de vários conjuntos, inclusive os Beatles, é a forma diferente de pensamento de cada integrante. Alguns possuem o ego mais inflado que ereção de ator pornô, outros já são mais submissos e acarretam mais as "ordens" mas isso em nada ajuda para conclusões amigáveis e satisfatórias.
O tom da fita é bem alegre, colorida e empolgada em contraste com a psicodelia e felicidade da época retratada. Esse trabalho é evidenciado graças a fotografia de Tak Fujimoto que ora efetua um certo lado obscuro e melancólico como por exemplo quando a banda se apresenta em restaurantes ou quando grava a musica em uma igreja, mas vai amenizando as coisas e progressivamente vai cedendo espaço para tons mais alegres a medida que os garotos vão se apresentando em locais aberto e iluminados e quando a banda faz o concerto na TV, os holofotes também se mostram coloridos e vivos ao espectador. Mesmo que comece a aparecer artistas mais underground e adeptos do universo 'sexo, drogas e rock n' roll' como Rolling Stones, Led Zeppelin e Jimi Hendrix aqui o lance está mais voltado para o lado politicamente correto e bonitinho da coisa, talvez Hanks tenha feito assim até para tentar angariar mais fãs para a película.
Realçando esse lado feliz da coisa, Colleen Atwood, responsável pelo figurino faz questão de acarretar trajes vibrantes e muito esparrados para os membros da banda, gerando inocência para os garotos e suas fãs. Finalizando o destaque da parte técnica, Victor Kempster, diretor de arte nos insere no período dos anos 60 com louvor exibindo carros da época, cenários e até os aparelhos eletrônicos na loja da família de Patterson que eram caros e sonhos de consumo para o período. O elenco parece ter sido escolhido a dedo por Hanks e todos estão muito bem. Guy Patterson, interpretado com carisma por Tom Everett Scott, o que é essencial para que o sucesso dele com as garotas se justifique, entrega uma excelente atuação. Lentamente ele acaba deixando de lado sua namorada Tina, interpretada por ninguém menos que Charlize Theron, para dedicar-se à banda, numa ilustração perfeita do quanto é difícil manter um relacionamento quando se vive na estrada desta forma, ainda que a frieza do relacionamento deles seja evidente desde o princípio.
O quarteto de atores da banda, assim como a banda não conseguiu atingir voos altos, mesmo que como mencionei todos sejam bons. Steve Zahn, Giovanni Ribisi, Johnathon Schaech e o próprio Everett Scott até hoje permanecem no ostracismo do grande público. As participações especiais ficam a cargo do cineasta Jonathan Demme, Kevin Pollak e Colin Hanks que não conta nem com um terço do carisma do Pai. Liderando o grupo com naturalidade, Tom Hanks tem uma atuação discreta e eficiente como o empresário Sr. White, mas sua presença sempre acaba chamando a atenção de todos. Ciente disto, Hanks evita que seu personagem roube a cena ao deixá-lo muitas vezes fora de campo, o que permite focar mais na dinâmica do relacionamento da banda. E fechando a equipe de elenco, surge a estonteante Liv Tyler na pele da doce e inteligente Faye. Tyler conduz talvez o papel mais importante da trama, já que Faye funciona como uma espécie de balança, um ponto de equilíbrio para aquele frágil grupo.
Todas as sequencias musicais são excelentes e Hanks executa uma direção contida e discreta mas com firmeza e no decorrer da projeção apresenta momentos emocionantes. A primeira vez que o carro chefe da banda é executada na rádio por exemplo é exibida com primor, sendo impossível não se emocionar e não se contagiar com a alegria de todos envolvidos na situação. Eu como muitos, já tive uma bandinha de garagem na adolescência e com certeza sonhávamos em alcançar o sucesso, mas esse árduo trabalho já é outra história, mas quem não queria ganhar uma fortuna rodando o país e com centenas de mulheres e fãs desesperados correndo atrás de você? Talvez não seja o sonho de muitos, mas mesmo que o filme não martele muita a memoria do espectador após assisti-lo, não tem como ficar cantarolando "Dance with Me Tonight" e "That Thing You Do" por tempos e tempos depois...
Também concordo com a nota, mas adoro este filme! Por muito tempo, That Thing You Do! foi meu toque de celular!!