Certas personalidades já fazem parte do patrimônio cinematográfico mundial. Um exemplo deles é Denzel Washington. Talvez o afro-americano mais boa praça e carismático do cinema, possui em seu gabarito 7 indicações ao Globo de Ouro e 6 ao Oscar, mas acho que o cara dispensa apresentações. Dependendo da produção, Denzel cobra seu cache em torno de U$S 10 Milhões ou até mais. Astro absoluto de Hollywood a bastante tempo o ator possui um exímio agente e escolhe a dedo os filmes dos quais vai participar, mesmo que as vezes os mesmos não sejam tão bons assim, mas seu nome é aliado a projetos de sucesso garantido ao menos gerando retorno de investimento. "O Livro de Eli" se mostra um filme talvez mal compreendido ou ruim mesmo, mas que mostra força ao mesclar sci-fi, ação de primeira e alguns questionamentos religiosos, tudo isso envolto num climão mezo "Mad Max", mezo "A Estrada" tudo isso sem passar da conta...
Em um futuro não muito distante, algo aconteceu que deixou o mundo quase inabitável. São áreas pós-apocalípticas em que a única lei é a lei do mais forte. Estes sobrevivem levando vantagem em cima dos outros. Claro que em todo filme de desgraças, o lado ruim das pessoas sempre passa por cima do lado bom. E não dá pra falar de instinto de sobrevivência, é a maldade das pessoas mesmo. Eles não roubam as pessoas, eles roubam e torturam e estupram e matam. Eli vaga pelo que já foi os Estados Unidos da América junto a seu livro, sempre rumo ao oeste. No seu caminho, todas as outras pessoas são um perigo em potencial. Ignorando as injustiças que testemunha em seu caminho, estando focado apenas em levar o seu livro para o seu destino. Certo dia, ele encontra uma “cidade”, na qual ele pode recarregar seus mantimentos. O lugar é dominado por Carnegie que mantém um exército de vândalos sustentado por seu bar e regados água, álcool e mulheres. Daí que seus problemas triplicam...
E é isso, em alguns filmes e tramas voltadas para esse tipo de história, não sabemos ao certo como a humanidade chegou aquele ponto, mas no fundo tudo gira em torno da ganancia e podridão do ser humano. Claro, podemos deduzir que como em "Eu Sou a Lenda" uma cura para certa doença tentava ser desenvolvida e acabou desencadeando uma praga ou um pandemônio zumbi do inferno, mas fato é que no intimo somos egoístas e oportunistas, tentamos tirar proveito de tudo e todos, isso é evidenciado não só pela nossa sociedade atual, mas também no filme quando Eli se depara com o 'bondoso' casal de velhinhos. Carnegie é perverso, porém funciona como um ditador, um Saddam Hussein ou George W. Bush e ele é a prova viva que o poder está acima de tudo, que dominar as pessoas é extremamente prazeroso e deslumbrante. Infelizmente, desde a idade da pedra, a lei do mais forte é a que prevalece.
O roteiro de Gary Whitta possui inúmeros furos e a história em que eles se apega e praticamente força o espectador a abraçar é da religião, mais especificamente o cristianismo. Whitta martela durante toda a projeção, que se desde séculos antes desse suposto apocalipse se a humanidade tivesse abraçado Jesus Cristo nada disso teria acontecido. Ora, se ele tivesse deixasse isso apenas subjetivo e optasse por deixar o espectador se isso seria o certo a ser feito, tudo seria bem mais interessante. Outro ponto negativo da história é o pouco aprofundamento do mocinho e vilão. Eli se mostra um exímio lutador tanto, corporal quanto dominante de armas, mas nunca é ao menos mencionado como ele adquiriu essas habilidades e a personalidade mais interessante que é a de Carnegie também é deixada de lado, somente nos é retratado a sua constante obsessão pelo livro, sendo uma figura totalmente complexa, Carnegie é representado somente como qualquer outro vilão comum e o extremo potencial que sua imagem possui é jogada no lixo.
Não tem jeito, Denzel Washington trás grandeza para qualquer projeto em que esteja envolvido, o cara é bom. Qualquer outro péssimo ator deixaria que Eli caísse na caricatura e ridículo. Vivendo o típico herói solitário, o ator dá uma dignidade incrível a Eli, conseguindo transmitir ao público a fé e a convicção do protagonista, além do extremo carisma do camarada o que ele sempre proporciona na tela, faz com que todos acreditem que ele seja um messias divino. O papel da tchutchuca Mila Kunis não nos concretiza se ela é boa ou má atriz. Relegada a fazer caras e bocas, ela serve apenas para expor um papel feminino considerável a película. O filme ainda acrescenta coadjuvantes de luxo como Ray Stevenson e Malcom McDowell e uma surpresa! Ainda vemos a eterna Alex Owens de "Flashdance", Jennifer Beals em um papel irrelevante. Mas não tem jeito o melhor da fita é mesmo Gary Oldman. O cidadão já devia ter ganhado um Oscar de Melhor Ator a muito tempo. Oldman é bom até debaixo d'agua.
Os irmãos Hughes que tem em seu currículo o mediano "Do Inferno" demonstram habilidade em contar a história, construindo um ótimo cenário bem faroeste mesmo e com uma estupenda fotografia com tons sombrios e especificando bem um tom seco e árido. Albert e Allen Hughes também apostam em tomadas longas e em planos-sequências para dar um clima de maior realismo às cenas de luta. A ideia de uma terra totalmente devastada e sem esperanças é passada com veracidade absoluta. A montagem do filme também é competente, jamais deixando o ritmo do longa ficar moroso demais, mas o grande "vilão" da fita seja realmente o roteiro, talvez pelo fato de ser o primeiro trabalho de Whitta. Com breves citações ao judaísmo e ao islamismo "O Livro de Eli" possui uma reviravolta contundente e um final satisfatório, talvez em mãos mais experientes e que já conhecessem o tal do sci-fi o filme se sairia melhor, mas deixando bem claro que não é ruim... Uma nova, diferente e interessante história de esperança e fé...
Bom filme, apesar de não gostar de Denzel nestes papéis de heróis... Mas como você disse, Lucas, ele e Oldman trazem grandeza a qualquer projeto ao qual estejam associados.
Obrigado garotos, Gary Oldman merecia um Oscar a tempos viu...
DiCaprio foi o ator que mais evolução apresentou na carreira.
Ainda sobre O Livro de Eli, o visual do filme é muito bacana, em especial a cena da luta debaixo da passarela, vista apenas na penumbra. Excelente trabalho de fotografia!!