"A criminalidade toma conta da cidade, a sociedade poe a culpa nas autoridades, o cacique oficial viajou pro pantanal, porque aqui a violência tá demais..." O que a musical "Cachimbo da Paz" do Gabriel, O Pensador tem a ver com o filme "Bronson"? Porra nenhuma...! Somente esse inicio aí, que demonstra o medo e temor que o cidadão de bem tem com pessoas de índole cruel e atroz. O trabalhador honesto vê muita das vezes outro camarada comprando carro do ano e ostentando, mas os meios adquiridos logicamente foram de forma ilícita. Michael Peterson queria ser famoso... Mas ele não optou por tentar atingir seu objetivo através da música, estudando, ou até mesmo sendo jogador de futebol. Michael Peterson tinha ou melhor ainda tem um talento e seu único talento é espancar pessoas, nada mais. E hoje ele conquistou sua meta de ser famoso, ele se orgulho de ostentar o título de "O criminoso mais violento do Reino Unido"... E o mais caro também... O diretor dinamarquês Nicolas Winding Refn dirigi o filme baseado na vida de Peterson... Ou pelo menos tenta...
Aos 19 anos de idade começa sua trajetória pelo mundo dos crimes. Desde sua época na escola como pré-adolescente, Michael já se envolvia em brigas com colegas e constantemente era levado pra casa por diretores do colégio. E como eu disse aos 19 anos por furto a uma agência de correios ele é preso e condenado a passar longos 7 anos atrás das grades. Hoje já se lá vão mais de 34 anos de cadeia, sendo 30 deles só na solitária!!! O cara perdeu uma vida inteira encarcerado, mas você pensa que ele não gosta tanto assim da cadeia? Em suas próprias palavras em um trecho do filme, pra ele, a cadeia nada mais é que uma espécie de "hotel". Conheci o trabalho de Nicolas Winding quando assisti o filme "Drive" e achei aquilo tudo fantástico e tive que ir atrás dos outros filmes do diretor. Mas aqui, dessa vez ele me decepcionou demais da conta...
Pra se ter uma ideia do quanto Michael Peterson é um maniaco psicopata ainda nos tempos de Boxe clandestino ele começa a utilizar o pseudônimo de Charles Bronson, e com essa nova identidade ele passa a extravasar toda a agressividade que existia dentro de si e preso, acaba se tornando queridinho da imprensa inglesa sendo sempre noticia nos tabloides tendo seu nome associado a manchetes sempre sanguinárias. Entre planejamentos de rebeliões, passando por atos de incêndios e protestos em telhados por dias e dias, Peterson já ameaçou devorar um guarda que ele mantinha como refém, já exigiu ser chamado por qualquer pessoal de general, uma boneca inflável, um helicóptero com uma xícara de chá, um avião fretado direto pra Cuba com uma Uzi, munição e machado e já passou um grande período cantando 'Yellow Submarine' dos Beatles e quando condenado alegou ser culpado como Hitler. Parou por aí? Que nada! Peterson também se casou duas vezes! E com a mesma mulher, Fatema Saira Rehman, se converteu ao islamismo desejando ser chamado de Charles Ali Ahmed, puta merda, mesmo que essa conversão tenha durado apenas por 4 anos... E Refn explora tudo isso não é mesmo? Não!
O diretor escreve o roteiro em parceria com Brock Norman Brock e pasmem, não exibe nem 1/3 das atrocidades de Peterson! Optando por focar no surrealismo em que o protagonista conta bem mediocremente sua história para uma plateia imaginária, uma bela bosta. Sendo uma crítica em que espoe como a sociedade louva e precisa de cultuar celebridades, em nenhum momento é mostrado a repercussão dos atos de Peterson fora da cadeia, não vemos ninguém lendo jornais e rindo ou se chocando com as barbaridades dele e também não é mostrado se alguém investigou ou tentou entender sua personalidade maligna. Não é focado a fundo a condescendência de seus pais sempre apoiando seus atos cruéis e nos breves 69 dias em que fica solto, praticamente se vê personagens rasos, não é exposto um relacionamento concreto dele com sua ex-mulher e um período que é retratado porcamente por Refn culminando em nova prisão de Peterson novamente por roubo. Dizem que pelo fato de Refn não ser inglês, não teve autorização para conhecer o presidiário pessoalmente limitando seu contato com ele através de telefonemas. Talvez isso explique como a personalidade dele seja tão mal retratada nas telas.
Mas uma coisa salva e muito "Bronson" da mediocridade e essa coisa é Tom Hardy. Hardy pelo fato de ser inglês foi autorizado a se encontrar pessoalmente com o preso, talvez aí explique sua ótima composição do personagem, que assustou até mesmo o verdadeiro Peterson dizendo que Hardy seria o único capaz de interpretá-lo. E pensar que o papel quase ficou com Jason Statham. Sem menosprezar Statham, mas ele não possui nem a metade do talento de Hardy. Pra quem ficou com medo quando Hardy foi interpretar o vilão Bane no filme 'O Cavaleiro das Trevas Ressurge' não precisava se assustar porque em matéria de personagens bombados ele tem as moral de se caracterizar firmemente. Para o filme, Hardy ganhou 19 kg e chegou a fazer mais de duas mil flexões por dia durante cinco semanas. Sua atuação é hipnotizante, nos mantendo próximo dele durante todo o tempo, incapazes de tirarmos os olhos da tela, mesmo nos momentos mais desagradáveis como uma passagem hilária envolvendo ele, sabão e um agente penitenciário.
Então Peterson é só maldade? Pode até ser. Mas difícil de acreditar, o cara além de ser foco de inúmeras entrevistas e tema de obras literárias ele também já escreveu livros, onze no total, alguns inteiramente dedicados a treinamentos físicos principalmente em espaços confinados recebendo até mesmo prêmios por alguns deles. Passando por mais de 120 prisões diferentes ao longo da vida, ganhando em 1999 uma unidade prisional própria, fala a verdade o cara é foda, atravessou também 3 hospitais psiquiátricos e o governo inglês teve a audácia de liberta-lo alegando que ele estava mentalmente são, fala verdade tá de sacanagem comigo né... O fato é que ninguém nunca entenderá o que se passa na cabeça dele, muito menos uma motivação concreta para seus atos...
O filme tinha um potencial gigantesco e se perde em momentos exagerados e caricatos demais. Tem qualidades além de Hardy? Tem, como exemplo momentos engraçados, fotografia e um final em que Peterson disseca seu professor e retrata nele mesmo um pouco de sua imagem, mas a sensação final é que faltou algo, faltou muita coisa e sua inimaginável curta duração se reflete na frustração sentida ao término da sessão. Peterson criou algumas frases ditas no filme como "era uma loucura absoluta e no seu melhor" e uma das loucuras envoltas ao filme, foi que o verdadeiro Bronson nunca foi autorizado a assistir seu filme, mas ele disse que se sua mãe gostasse, pra ele já seria o suficiente, bem ela disse que adorou então acho que isso é o que importa...
Mas ele não se sustenta no ator e sim no personagem.
Não me importo com a intenção do autor. Toda obra respira para além do que o autor quis dizer.
No caso de Bronson, a sensação foi de que a trama se restringiu demais ao personagem e quase não o contextualizou.
Piorou então Ravel, se ele se sustenta no personagem deveria ter apoio pelo menos nas motivações ou mostrar a cuca dele...
Acho que o autor se perdeu ao imprimir o tom certo no filme, sem saber se se contia ou extrapolava. Certos autores deveriam parar de abrir seus filmes com "baseado em fatos reais". Independentemente da intenção, espera-se veracidade a partir de ler tal anúncio. O filme como filme, é passável. 6 tá de muito bom tamanho....