Joe Gillis (William Holden) é um roteirista praticamente falido que foge de credores que tentam recuperar seu veículo por falta de pagamento. Acidentalmente, acaba se refugiando numa decadente mansão, cuja proprietária chamava-se Norma Desmond (Gloria Swanson), uma estrela do cinema mudo há tempos longe da fama. Ao saber que Gillis é roteirista, Norma contrata-o para revisar o roteiro que ela escreveu, acreditando ser esta a oportunidade de devolvê-la ao estrelato. Diante desta chance dada pelo destino, Gillis decide aceitar a proposta, e passa a descobrir através de conversas com o mordomo Max (Erich von Stroheim) as razões para que Norma ainda se considere uma estrela, ao mesmo tempo em que desenvolve um carinho especial pela também candidata a roteirista Betty Schaefer (Nancy Olson)...
Como ocorre em alguns filmes, 'Sunset Boulevard' revela seu final logo na primeira cena com tons de mistério e o desenrolar da trama vai sendo minucioso e totalmente cuidadoso. Enquanto buscamos entender as razões dos fatos mostrados, a excelente montagem de Doane Harrison e Arthur P. Schmidt mantém o bom ritmo da narrativa, dividindo claramente os acontecimentos em algumas etapas. Gillis é o personagem central da narrativa e servirá de fio condutor para que Wilder explore ao máximo os bastidores da indústria de Hollywood, ao mesmo tempo em que estuda a fundo os efeitos do esquecimento e do distanciamento da fama na mente de uma estrela abandonada. Temos ainda a primorosa Direção de Arte de Hans Dreier e John Meehan principalmente nas cenas de interior da mansão enfatizadas pela excelente fotografia escurecida de John Steinz refletindo o clima sombrio da trama.
A melhor coisa do filme sem dúvidas é a atuação de Gloria Swanson e a história dela é bastante curiosa e similar ao filme, parece que Wilder fez o papel pra ela. Swanson foi uma grande atriz nos anos 20 e 30, auge do cinema mudo. Erich Von Stroheim, famoso diretor nos anos 20 e 30, auge do cinema mudo interpreta um mordomo que na verdade era um diretor já aposentado. Coincidência ou não o filme exibido na mansão de Desmond "Queen Kelly" de 1929 é dirigido por Stroheim e com Swanson como protagonista. Convencida, direta, freqüentemente com olhar superior e rangendo os dentes, Norma é o retrato da auto-idolatria. Esta aparente autoconfiança, no entanto, escondia a enorme depressão que sentia por ter deixado os dias de glórias no passado e chegado ao fim de sua carreira. Seus gritos e maneirismos exagerados eram apenas uma forma de esconder a tristeza e melancolia que a afligia por ter sido esquecida pelo público, imprensa e pela própria Hollywood....
Joe Gillis, é uma espécie de alter-ego às avessas do próprio diretor, um roteirista fracassado, que não consegue vender suas histórias (Wilder também teve dificuldades para vender suas histórias em Berlim e quando chegou a Hollywood) e precisa de qualquer jeito arrumar dinheiro para pagar as contas e, principalmente, manter consigo o carro, símbolo de status naqueles anos em uma Los Angeles de grandes avenidas, sem calçadas e sem espaço público. Quando fez 'Sunset', Wilder já tinha dirigido oito filmes, escrito outros 30, ganho dois Oscar's, respeito de produtores e de sua classe naquela Hollywood que fervilhava. Naquele ano foi lançado ainda "A Malvada", com Bete Davis, de Joseph Mankievitz e com quem Wilder viria a brigar no tapete vermelho do Oscar. Ganha "apenas" três prêmios: Melhor Roteiro, Melhor Direção de Arte e Melhor Trilha Sonora.
O momento de parar a carreira e deixar pra trás todo o glamour e fortuna que trazem é provavelmente o mais complicado na vida de qualquer artista. No meio do cinema, ainda existe a possibilidade de continuar trabalhando, mesmo sem o glamour de outrora, até o fim de seus dias. Mas nem sempre foi assim. Na época da transição do cinema mudo para o cinema falado, muitos atores e atrizes perderam o emprego e deixaram, repentinamente, os holofotes da fama. Este era o caso de Norma Desmond. E conviver com a solidão imposta pela aposentadoria, enclausurada dentro de sua enorme mansão, não foi a melhor escolha para ela...
“Crepúsculo dos Deuses” exerce a metalinguística com extrema competência para criticar com acidez o mundo dos sonhos de Hollywood, mostrando sem pudor o que significou para a capital do cinema mundial aposentar suas estrelas do cinema mudo. Conduzido por um roteiro extremamente consistente e corajoso, Billy Wilder entrega ao espectador uma obra sombria com gosto amargo que desde os primeiros minutos demonstra sua enorme qualidade, e em seu trágico e melancólico final confirma a expectativa, se firmando como uma obra de primeira grandeza.
"Sr. DeMille, estou pronta para o meu close”!!! Fantástico!
Um dos melhores filmes de todos os tempos. Mais um belo texto, Lucas.