Eu particularmente não gosto muito de filmes de terror. São raros casos de sequências que realmente me assustam ou que me deixam atordoado depois da sessão. Roteiros na maioria das vezes rasos quase sempre apenas motivos para sangue e sustos baratos não me ganham. Outro fato que contribuiu para um certo desdem de minha parte para esse gênero foram as enumeras sequências em especial de quatro franquias que me afastaram mais ainda do terror. "Sexta Feira 13", "A Hora do Pesadelo", "Halloween" e "O Massacre da Serra Elétrica" possuem excelentes primeiros filmes, mas suas continuações se tornaram caça niqueis com apenas um objetivo: verdinhas. Curiosamente, um filme que está no meu top 10 de melhores filmes da história é uma fita de terror: "O Exorcista". The Exorcist possui toda uma carga dramática em torno da possessão da menina Regan, como dramas familiares, questionamento da fé em Deus e vários outros fatores que não tornam a violência, o medo e a deturbação gratuitos. O livro é deixar os cabelos da nuca em pé. Outros dois filmes do gênero que me agradam são "A Profecia"(o original é claro, do Richard Donner) e "A Morte do Demônio", do qual são lançados duas continuações, mas com o intuito total de mostrar isso como melhoria de narrativa e esteticamente.
Na verdade, cinco franquias das quais o gênero me fez se afastar do terror... "Hellraiser" também faz parte do barco...
O filme conta a história de uma caixa de puzzle chinesa que segundo dizem, quem o conseguir decifrar poderá abrir portas de dimensões com prazer absoluto, foi nessa promessa que Frank Cotton (Sean Chapman) a procurou e conseguiu encontra-la. Foi numa certa noite durante um ritual satânico que Frank consegue a descodificar mas ao invés dos prazeres celestiais, este torna-se um escravo num submundo povoado de Cenobites (criaturas demoníacas desfiguradas que procuram prazer na dor causada). Passado isso tudo, Frank cai no esquecimento e a sua antiga habitação é de povoada pelo seu irmão mais novo, Larry Cotton (Andrew Robinson – o Scorpio de Dirty Harry) que traz consigo a sua esposa, mas também ex-amante de Frank, Julian (Claire Higgins). É então que a fugitiva alam de Frank pede ajuda ao seu antigo amor, o pedido; trazer até si sangue para que este possa possuir a sua original forma humana. Enquanto isso, os Cenobites liderados pelo enigmático Pinhead (Doug Bradley) procuram-no.
Baseado em seu livro "The Hellbound Heart", Hellraiser possuía uma fantástica história. Na verdade, Barker nunca mais conseguiu o mesmo sucesso na sua limitada carreira. Dirigindo apenas mais dois filmes "O Mestre das Ilusões" e "Raça das Trevas", os mesmos não tiveram nem a metade da repercussão e o sucesso de Hellraiser. Barker escreveu alguns roteiros, algumas histórias mas novamente; sem tanto sucesso. Barker se concentrou muito no universo de Hellraiser mas também publicando mais contos, livros e até mesmo Hq's e games sobre a mitologia e outras histórias também. Mas Hellraiser continua sendo o que mais repercutiu e de maior sucesso também.
Catapultado ao lado de Freddy Krueger, Jason Vorhees, Michael Myers e Letherface, 'Pinhead' nos foi apresentado numa estética violenta, porém limpa, rica de detalhes, provocante e extremamente terrificante. Eis o resultado de seis horas de maquiagem. Sem uma gota de sangue ou arma em mãos, a ótima atuação de Doug Bradley (Que interpretou o personagem por toda a franquia), aliada à sua voz, acabou colocando Pinhead num local especial. E por mais que não seja o único, Pinhead é o símbolo máximo dos Cenobitas e de tudo referente ao curioso universo de Hellraiser. Não há como negar que ele detém os direitos de mais belo dentre os personagens do gênero que povoam nosso imaginário.
Hellraiser é um filme de terror que cruza os mitos de Fausto com a caixa Pandora dando origem a um “slasher movie” independente de qualquer referência já oferecida. Além do visual de Pinhead e dos outros cenobitas, existe um certo apreço pelo masoquismo e coisas nojentas que, por mais rápidas que apareçam, permanecem por toda a obra e em nossas cabeças. Apesar das limitações técnicas da época, tudo torna-se mínimo diante da intensidade e do cuidado com o roteiro e a criatividade da mente insana de Barker. Seu orçamento foi de U$$ 1 milhão, mas arrecadou apenas nos cinemas americanos, cerca de U$$ 20 milhões. E mais de U$$ 80 milhões ao redor do mundo. Sucesso absoluto e bolso cheio para Barker.
O termo “Cenobite” vem de Cenobita, uma palavra em Latim que significa “Membro de uma Comunidade Religiosa”. Eles também são mencionados no livro Weaveworld, no qual a personagem Immacolata os chama de “Os Cirurgiões do Além”. Apesar de também serem chamados de demônios, os trabalhos de Clive mostram que eles são seres bastante distintos daquilo que costumamos chamar de demônio. No livro Hellbound Heart, são mencionados como sendo “Teólogos da Ordem de Gash”, eles também são conhecidos pelo termo Hierofante. Não existem dois Cenobitas iguais, apesar da estética que os une.
A obra de Clive Barker é uma incursão torturada e nada meiga no que requer nos tratamentos das cenas mais “gores”, trazendo até ao seu legados clichés que ainda hoje perduram. Mas de facto o que o filme tem de grande valor, é o seu argumento, original até á medula que transpõe de uma complexidade fora do normal. A fotografia é outro fator a ter em conta, de uma beldade gótica e pessimista. A parte técnica da fita foi feita na raça e com apreço.
O problema maior da fita reside no elenco em geral. Nenhuma das interpretações consegue sair do mediano ou simplesmente do automático, certas reações das personagens conseguem serem teatrais em demasia e Andrew Robinson não é meramente um exemplo de representação glamourosa. Algumas horas as situações e atuações beiram realmente ao ridículo. Apenas Doug Bradley consegue interpretar aquilo que se pedia, trazendo até nós uma personagem tão assustadora como fria, uma “mascara” que nunca mais largou este britânico e subestimado ator. A fita hoje obviamente beira o datado em termos de efeitos especiais, mas só a sua caracterização, maquiagem e efeitos práticos valem por isso. Brinda-nos com um argumento de fazer inveja nos dias de hoje ao gênero que se cota e é responsável pela introdução de muitos dos mais profundos pesadelos humanos. Nos dias de hoje, o original possui mais de 7 sequências e uma promessa de remake constante por parte de Barker, mas o original é sempre uma porta aberta ao terror mais puro.
Um filme que não envelhece, tanto pelo lado estético quanto pela consistência de sua história. Um trabalho que merece ser assistido pelos admiradores do cinema.
Infelizmente Hellraiser tornou-se mais uma daquelas franquias onde, a partir de um determinado número da série, a coisa desanda como as outras franquias citadas. Mas de toda forma, assisti-lo de madrugada irá lhe provocar assustadoras lembranças na sua mente...
Clássico absoluto do terror!!!!
Sempre Cristian, não se fazem mais deste como antigamente...
Talvez um dos mais arrepiantes do gênero. O Hellraiser criou uma mitologia fantástica em torno dos Cenobitas.