Fruitvale Station – A Última Paragem é um drama sobre as decisões que tomamos na vida, os imprevistos da existência e as pequenas coisas que preenchem o nosso quotidiano, num determinado contexto social e cultural.
É a estreia na realização de Ryan Coogler e baseia-se numa polémica história verídica: a de Oscar (Michael B. Jordan), um jovem negro de 22 anos, que decide tomar uma série de resoluções para tornar a sua vida melhor, no último dia do ano de 2008. Mas o seu envolvimento numa rixa irá mudar todo o seu percurso e todos os planos que tinha feito para o seu futuro.
Recorrendo a técnicas vulgares do Cinema do nosso tempo (como a câmara desorientada e obcecadamente documental), eis uma película que se propõe a quebrar outras vulgaridades, ao nível da elaboração da narrativa e da montagem: Fruitvale Station começa com uma gravação amadora e anda para trás e para a frente na linha temporal da história dramática e cativante de Oscar, sem cair em sentimentalismos fáceis (como outros filmes extraídos de “histórias verídicas”).
Vemos um retrato indie do lado urbano e suburbano da América, que sendo de curta duração, acaba por pecar em, mesmo assim, parecer demasiado longa. Mas é impossível que o espectador não se deixe levar pelos pequenos dramas familiares que poderá ver, mesmo que alguns deles tenham um lado demasiado propositado e convencional. O que interessa aqui é a mudança da personagem principal, e todas as coisas que decide fazer para tornar essa mudança viável, quer seja pelas pequenas mentiras que Oscar conta às outras personagens para justificar os seus atos, quer pela importância que atribui a todos os que o rodeiam.
Ryan Coogler não cede à típica “poesia” emocional estupidificante, proporcionando um lado mais inteligente e subtil ao filme e abordando com inteligência e impacto uma série de temáticas que estão inerentes à sociedade norte-americana (sim, o racismo é uma delas). E Michael B. Jordan é o melhor de Fruitvale Station, num magnífico e impressionante leque de atores. Uma interpretação audaz, sem deixar de ser humana, sensível e credível, aproveitando as várias e contraditórias andanças do protagonista para criar uma composição notável, orientando-se muito bem entre a “realidade” e a ficção que paira na fita.
Pode não ser tão prometedor como muitas críticas e aclamações demasiado entusiasmadas pareceram prever, mas não há dúvida que este é um filme com os seus méritos, incluindo uma perspetiva ternurenta e turbulenta sobre a relação entre Pais e filhos, e a forma como as pessoas interagem umas com as outras num dia de festividades como o é o último do ano, que fecha mais um capítulo do livro das nossas vidas e, real ou ilusoriamente, inicia mais um, que ambicionamos ser aquele que trará todas as coisas boas que desejamos há muito tempo.
Um peculiar e especial conto da vida urbana e suas especificidades, Fruitvale Station pode estar centrado nos EUA, mas a sua mensagem é extensível para o resto do mundo. Na era das novas tecnologias, é importante lembrar que o impacto que estas podem ter em nós transcende, muitas vezes, as limitadas capacidades que lhes atribuímos.
A tragédia que sai deste caso verídico (derivada do descontrolo das forças policiais na tal estação de Fruitvale) só passou cá para fora graças ao telemóvel, esse media caseiro que trazemos no bolso e do qual estamos cada vez mais dependentes. Um filme que faz uma reflexão aos valores da modernidade, e uma grande rampa de lançamento para Ryan Coogler.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário