"Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato... Ou toca, ou não toca." - Clarice Lispector
King Kong, este original de 1933, é provavelmente o maior e melhor filme de monstros de todos os tempos por uma razão: sobrevivência. Exatamente, meus caros jovens. Mesmo depois de mais de oitenta anos desde o seu lançamento, ainda me pego apaixonada por este clássico, que parece não envelhecer, mantendo-se envolvente e moderno até mesmo nos dias atuais, provando que suas refilmagens foram totalmente desnecessárias (principalmente a versão com a chata da Jessica Lange, que hoje só sobrevive de seriados de TV), com efeitos surpreendentes e realísticos que chocaram e continuarão chocando em gerações futuras. Trouxe a memorável Fay Wray no auge de sua beleza e de sua carreira como a mocinha Ann Darrow, uma bela loura feminista e totalmente revolucionária para a época; pois estamos falando de 1933, ou seja, a mulher em si ainda era tratada de forma equivocada pela sociedade, mas a personagem bate de frente com seu tempo e prova que não é apenas um rostinho bonito e uma voz escandalosa (apesar de seus gritos), ela se mostra superior aos demais personagens masculinos, sendo inteligente, determinada e, arrisco dizer, corajosa.
O roteiro do filme é algo bastante simples, e podemos ver a que intenção que a dupla Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack teve foi realmente esta. King Kong não foi feito para ser épico, mas o seu resultado se tornou o tal. Basicamente, a trama conta com três etapas: Antes de Kong, durante Kong e após Kong. Todas as três etapas foram muitíssimo bem trabalhadas, considerando que tempo era ouro na época e os filmes do gênero costumavam ser mais curtos que os do cinema decadente atual (Peter Jackson que o diga!) e este cumpre todos os requisitos em sua curta duração, de apenas noventa minutos. Os diálogos são ricos, as passagens são memoráveis e cada personagem em cena é bem desenvolvido, tornando a película não apenas um divertidíssimo passatempo, mas um passaporte para uma realidade interessante.
Mas nem tudo são flores. O trabalho conta com alguns erros, como inserir elementos extremamente fantasiosos em cena, por exemplo: os dinossauros. Por mais que se trate de uma ficção, acredito que os répteis são intensivamente desnecessários para o enredo, e poderiam ter sido, inclusive, substituídos por outras criaturas, como serpentes (algo em que a horrorosa refilmagem de 1976 acertou) ou quaisquer criaturas menos irreais, já que a grande estrela é o Kong. A trilha sonora também é outro problema, não causa emoção e impacto quando é preciso, nos fazendo questionar quem teria sido o imbecil que não se rebelou ao ouvir as faixas sonoras. Os figurinos também poderiam ser melhores, pois a década de 30 foi uma das mais elegantes se tratando de moda, mas já que o estúdio não sabia que tinha em mãos um futuro clássico, este fator torna-se até aceitável e não consegue estragar o resultado final, apesar de irritar.
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