«The Fountainhead» é um filme que nos fala de um tema que, provavelmente, é ainda mais importante hoje do que no ano do seu lançamento, em 1949: o poder do conformismo e o domínio desta forma de estar, que despreza a originalidade e a criatividade que faz sobressair certos autores de outros. É um filme essencial hoje, apesar das críticas negativas que a ele possam ser feitas (tanto como o desajuste da épica banda sonora de Max Steiner, como de uma ou outra performance, como também do argumento, escrito por Ayn Rand, a autora do livro homónimo em que se baseia, e que pode ser considerado demasiado sumptuoso e incorreto para a linguagem cinematográfica - mas ninguém pode negar a grande força de muitos dos seus diálogos), porque o seu protagonista, com uma "vontade indómita" (como nos diz - e bem! - o título português da fita) de querer ser original numa sociedade que deseja cada vez mais transformar-se num aglomerado de vulgaridade. «The Fountainhead» é um filme, mas também consegue ser um espelho da constante luta de muitos autores nos estúdios de Hollywood, onde a criatividade e as boas ideias são, não raramente, destruídas por outra "vontade indómita" - a da sede pelo lucro, da conquista de prestígio, da feroz competitividade que, ainda na atualidade, se sente entre as grandes fontes da indústria cinematográfica norte-americana. Ouvimos uma das personagens dizer a certa altura que "não há lugar para a originalidade na arquitetura", profissão em que se enquadra Howard Roark, o protagonista interpretado por Gary Cooper, e que quer ferozmente destacar-se no seu meio, onde a maioria combate a originalidade e quer apenas produzir aquilo que o público quer ver, em vez de utilizar a sua arte para poder inovar toda a conjuntura. «The Fountainhead» é, assim, uma obra invulgar no que era habitual ser produzido em Hollywood em finais dos anos 40, que, ironicamente, combate o tradicionalismo e as convenções com as ideias-chave da sua história, mas ao mesmo tempo, entra também nas convenções do Cinema americano com a sua estrutura formal a beber muito das formas clássicas (e algumas intenções visuais estão já datadas, mas são ainda deliciosas), que, felizmente, ganham um novo fôlego graças à grande invulgaridade da narrativa (apesar de alguns aspetos também muito habituais, como o romance exagerado e teatralmente expressivo entre Cooper e a personagem de Patricia Neal - e com o filme, a relação prolongou-se para lá da ficção cinematográfica) e da hipnotizante realização de King Vidor, que paira entre o melhor do expressionismo do film-noir e a grandiosidade dos épicos americanos.
Muitas foram (e continuam a ser) as personagens contestatárias do Cinema de Hollywood. Lembremo-nos de, por exemplo, a excecionalidade emotiva e argumentativa do Jefferson Smith do filme de Frank Capra «Peço a Palavra», um único homem a combater toda uma maioria corrupta e que se deixou levar pelo sistema que ele acusa e condena no seu longo e resistente discurso no capitólio. Howard Roark combate também o sistema, mas o que vigora no mundo da arquitetura e que toda a gente pretende não largar, o que lhe traz dissabores (enquanto todos os colegas sobem na carreira por se manterem na norma, a criatividade e inventividade deste arquiteto impede-o sequer de, muitas vezes, conseguir arranjar trabalho. E quando o corajoso Howard vê as oportunidades surgirem, não cede nem pela mais pequena e abusiva alteração que os seus clientes queiram executar no seu trabalho). É curiosa a sinceridade com que os "maus" do filme assumem a sua opinião que arruína tudo o que de novo pode surgir na Arte com uma grande sinceridade, dizendo todas as coisas que todos nós sabemos que são verdade, mas que não estamos acostumados a ouvirmos as pessoas falarem sobre elas (principalmente os indivíduos que, nestas questões de corrupção/censura, estão envolvidos). É a realidade que é retratada sem constrangimentos, numa película onde as personagens atacam os seus alvos sem meias medidas ou mensagens subliminares. «The Fountainhead» é o individualismo de Roark contra o "lobby" da coletividade e da standardização de ideias, que ele combate por todas e quaisquer ocasiões. Esse "lobby" ganha adeptos e a adesão das massas pela sua grande influência junto do cidadão comum, o que pode arrasar mentes brilhantes que, como Howard, se arriscam a fazer algo de original no meio de tanta "palha" igual e sem ponta de interesse.
«The Fountainhead» é um tesouro de Hollywood que, felizmente, tem vindo a ser redescoberto e reavaliado com a chegada de novas gerações à magia da Sétima Arte. Tem erros e coisas duvidosas? Sim, como muitos outros filmes têm, e isso vê-se no facto de não ser um filme bem equilibrado, flutuando entre os mais brilhantes momentos e uma ou outra parte mais exagerada e despropositadamente sentimental. Mas é de louvar encontras fitas que consigam passar mensagens tão importantes, e de forma tão densa e complexa, como a que passa este título. Relembrando a importância a que deve ser dada a individualidade, que nunca poderá ser destruída, King Vidor filma uma história atualíssima, para a humanidade nunca esquecer como a originalidade faz sempre a diferença na maioria, uma ditadura da popularidade que impõe uma certa tendência de gostos e opiniões que querem superiorizar-se constantemente face à mui grande diversidade de coisas que temos para descobrir (e que, infelizmente, nunca conseguiremos conhecer na totalidade). «The Fountainhead» é um caso ímpar e de grande mérito no Cinema Americano, e uma autêntica lição para um mercado que, tal como qualquer outro, nunca quis sobressair dessa específica ditadura. Nem em 1949, nem muito menos neste nosso século XXI.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário