O filme De Lovely, encaixado no gênero biografia – o que fica na cara com nosso subtítulo nacional – não é apenas sobre Cole Porter, famoso compositor norte-americano. O velho Porter vê o retrato de Linda logo no início, e sua história, quando novo, começa a ser contada no momento em que a conhece. Tudo roda ao redor de Cole e Linda e é a história de amor entre os mesmos que o filme tenta pregar. Antes do casamento, maravilhas, amor, música. Depois do casamento, casos extraconjugais, desejo de ter filhos, um pouco de amor, mais problemas...
Esses casos extraconjugais merecem um pouco de destaque. Estes são da parte de Cole, não com prostitutas ou burguesas. Ele mantinha essa relação com homens, agora sim, prostitutos ou burgueses. Lendo um pouco sobre sua vida, vê-se que suas relações homossexuais eram muito mais frequentes e intensas do que como fora apresentada no filme. Ali essas relações são apresentadas como algo aproximado do puro sexo. Tanto que Boris Kochno, poeta russo que se relacionava com Porter, é apresentado na cama, coberto por um lençol. O roteiro tenta mostrar-se corajoso ao exibir um beijo gay, mas não tem coragem para ir mais afundo com isso. Tudo soa como uma tentativa de dizer “Cole amava sua mulher, apenas fazia sexo com homens, mas ele não os amava”.
Um dos problemas do filme também está em volta dessa centralização excessiva de atenção dada a Linda. Em função disso, a origem do compositor fica no ar. Quem são seus pais e onde nasceu não são respondidas. O espectador também não tem ideia do patamar da fama em que Cole estava. Nossas únicas dicas são a visita que o protagonista recebe de outro grande compositor – Irving Berlin – e também os grandes shows onde Cole era o compositor das canções.
Ainda que não recompense alguns defeitos, os números musicais são muito bem-vindos. Diversos artistas interpretando agradavelmente as músicas de Porter, entre eles, Elvis Costello, Diana Krall, Vivian Green, Alanis Morissette, Robie Williams, entre outros. Kevin Kline, ator que dá vida a Cole, também está ótimo em todas as músicas, em destaque Night and Day e Every Time We Say Good Bye. Vemos no filme muitas das músicas já conhecidas e interpretadas por grandes cantores como Ella Fitzgerald, Billie Holiday, Frank Sinatra, Nat King Cole, e outros, assim como também o número musical “Be a Clown” que homenageia não somente a obra de Porter, como também ao musical em que a canção foi apresentada, “O Pirata (The Pirate, 1948)”, com Gene Kelly e Judy Garland.
De Lovely não conta realmente nada em especial sobre Cole Porter – minto, ouve uma – Na cena em que Cole observa o ator que irá interpreta-lo em um musical e fala que este não canta muito bem, o diretor ou quem fosse diz que ele também não cantava. Aí temos a justificativa para Porter ser apenas o compositor, o que pode ser um pouco lógico. Tirando este detalhe mínimo, tudo que vemos no filme sobre o compositor pode ser aprendido com muito mais informações em uma visita rápida a internet de dez minutos. Agora, para alguém que já conhece um pouco sobre o trabalho dele, pode compensar a interpretações dos artistas citados acima.
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