Mel Gibson começou mesmo a carreira com Mad Max (1979), alcançou mais reconhecimento com o sucesso de Máquina Mortífera e felizmente conseguiu se manter em evidência desde então. Começando como ator de filmes de ação, como aconteceu com vários de seus conterrâneos, resolveu diversificar os gêneros, atuando em dramas, suspenses, e até arriscando uma comédia estilo Adam Sandler em Do Que As Mulheres Gostam (2000). Seu trabalho como diretor também rendeu Oscar de melhor filme e diretor por Coração Valente (1995). Agora, com 56 anos de vida, voltou a encarnar o tipo matador.
Em uma perseguição de carro na fronteira entre os Estados Unidos e o México, o Assaltante (Mel Gibson), ao perceber que será capturado pela polícia americana, prefere arriscar a sorte no lado mexicano. Ao perceberem o volume de dinheiro em seu carro, os policiais mexicanos resolvem ficar com o estrangeiro e o enviam para a cadeia sob nome e acusações falsas. No México, o Assaltante se depara com um modelo inusitado de penitenciária, semelhante em tudo a uma pequena cidade na qual há moradores que podem entrar e sair a qualquer momento e prisioneiros vigiados por guardas armados. Aos poucos, vai mapeando os personagens influentes do local e arquitetando sua fuga ao mesmo tempo em que lida com um agente corrupto do consulado americano, os mafiosos americanos que querem o dinheiro de volta, a máfia local e os policiais que o jogaram na cadeia.
Em resumo, o filme é bom. O trailer é do tipo “melhores momentos”, passando a impressão de ser uma produção mais dinâmica e até certo ponto cômica, mas não é exatamente o que acontece. O personagem de Mel Gibson remete muito ao vingativo Porter, de O Troco (1999). Violento, implacável, durão e capaz de criar planos complexos que nunca funcionariam sem a ajuda da sorte. Se fosse uma espécie de continuação, não precisaria de nenhuma explicação a mais, e tampouco que o espectador visse o filme anterior. O Pueblito, ou Centro de Readaptação Social de La Mesa, parece fruto da imaginação dos roteiristas, mas realmente existiu, e era algo um pouco mais avançado do que a prisão do seriado OZ. Construído em 1956 em Tihuana, foi um modelo experimental de penitenciária com capacidade de acomodar 2000 prisioneiros e suas famílias, que poderiam morar com eles para ajudar na reabilitação. Quem não fosse prisioneiro, poderia entrar e sair a qualquer momento. Desconfiando da honestidade das autoridades mexicanas como todo o mundo, creio que o objetivo verdadeiro seria institucionalizar a corrupção dentro das cadeias como retratado no filme. O Pueblito foi fechado em 2002. Durante a trama, o personagem de Mel Gibson dá vários nomes, todos falsos. É mais um protagonista fora-da-lei, motorista de assaltos e sem nome tal qual os personagens dos filmes Caçador de Morte (1978) e Drive (2011) e da Trilogia dos Dólares, onde este último não guiava carro, mas cavalo. Mas esse se destaca por ser mais violento. Você pode esperar de Plano de Fuga um entretenimento divertido, regado a muitas balas, sangue, assassinatos e malandragem, mas nada tão a sério. Ainda tenta comover o espectador com o drama da vida de um garoto que se torna uma espécie de parceiro de crime do Motorista, e sua mãe, que vivem no Pueblito. Mas ao menos não colocaram a Charlize Theron ou a Michele Rodriguez no papel de mãe cujo marido bandido foi assassinado e agora precisa se prostituir para sustentar o filho. Foram condizentes com a realidade e escalaram uma atriz mexicana que aparenta mesmo uma vida sofrida. Um certo ar de romance surge entre os dois, mas não espere ver cenas “calientes”. A última meia hora se transforma em um tipo de apocalipse zumbi, com a ação no modo “vídeo-game”, e por isso que Plano de Fuga começa ótimo, mas termina apenas bom.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário