O mais recente filme de Fernando Meirelles, 360 (360, 2011,Reino Unido, Ástria, França, Brasil), nem mesmo estreou no Brasil e já tem um detrator de peso, o próprio diretor. Isso, além das críticas internacionais desfavoráveis do The New York Times, do Washington Post e do The Guardian, pelo menos. Em entrevista concedida na abertura do Festival de Gramado, Meirelles disse que não faria novamente um filme com tantos personagens. “Tem um lado frustrante, cada história poderia ser desenvolvida muito mais, mas não há tempo para isso”, disse. O longa tem vários eixos narrativos e é falado em muitas línguas. A declaração não é exatamente um incentivo ao espectador. Se o próprio diretor faz essa sutil e eufêmica critica à obra, o que esperar?
Os detratores argumentam que há, em quase duas horas de exibição, muitos inícios, alguns meios e nenhum fim. A ideia era contar histórias aparentemente sem relação uma com a outra para, ao fim, uni-las por uma temática maior em comum. Na peça em que o filme foi livremente inspirado, Reigen (ou La Ronde), de Arthur Schnitzler, a interseção entre os personagens era o sexo.
A ideia, de fato, não é nova. O ganhador do Oscar de 2005, Crash, No Limite (Crash, 2004, EUA) - cujas qualidades não me canso de exaltar - costurou várias histórias sobre preconceito étnico-racial. Babel (Babel, 2006, EUA, França, México), que não é tão bom assim, conta com quatro narrativas que se conectam, frouxamente, por uma arma. Em 360, as decisões tomadas por cada um dos muitos personagens influencia o destino de outros. O que faz tudo, ou quase tudo, convergir é o desejo individual de melhorar.
Ao contrário dos que criticam o filme pelas razões acima, considero que há um recurso narrativo que salva o filme de ter que concluir todas as tramas que propõe. Logo nas primeiras cenas, uma voz feminina em off fala sobre o processo de tomada de decisões. Em um discurso relativamente clichê, a metáfora do caminho é exposta. Quando nos deparamos com bifurcação em uma estrada é necessário escolher uma direção. A partir desse momento, não há como saber o que teria acontecido se o outro caminho tivesse sido percorrido. O longa de Meirelles acompanha, do início ao fim, a história de uma mulher eslovaca que decide se prostituir. Esse é o plot principal que vai desencadear mudanças na vida de outras pessoas cujas decisões, não necessariamente, serão acompanhadas. Algumas delas optam por estradas que as afastam desse primeiro universo. Penso que é essa é a proposta. Assim, não há necessidade de costurar perfeitamente todas as pontas das diversos enredos apresentados. Isso, inclusive, seria contraditório se levarmos em consideração a metáfora da bifurcação de caminhos que volta a ser mencionada mais para o final da fita. Dessa maneira, 360 se distancia da estrutura de filmes como Crash e Babel e ganha individualidade. É um mérito.
Eu ainda destacaria a atuação do trio Maria Flor (Laura), Anthony Hopkins (John) e Ben Foster (Tyler), responsáveis por um clímax tenso. Li que Maria Flor temia que o Hopkins pudesse ofuscar os outros atores. Isso não aconteceu. Ela, Foster e o veterano compõem cenas harmônicas em que cada um brilha em seu tempo.
Eu até concordo que uns personagens a menos não fariam mal, especialmente o núcleo francês. Porém, isso não diminui a experiência interessante que é assistir ao filme.
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