Que tente sobreviver aquele que não tiver pecado, já dizia a frase promocional de Seven, um dos melhores filmes policiais de todos os tempos, que nos remete a refletir sobre diversos valores, virtudes e defeitos inerentes a qualquer ser humano, aqui iluminado brilhantemente por David Fincher, diretor que dispensa comentários, tendo em vista seu currículo estar recheado de obras primas aclamado tanto por crítica e público. A trama do filme parece simplória para quem não o conhece, mas quando se assiste e mergulha dentro de uma trama tão densa quanto ácido, se torna impossível não interagir e acima de tudo, não aplaudir de pé o trabalho genial a que foi visto. O roteiro é simples, dois policiais (um jovem e um experiente) a caça de um serial killer que assassina suas vítimas a partir dos sete pecados capitais, sempre recheados por toques magníficos e requintes de crueldade que fariam qualquer um ficar chocado, tanto esteticamente quanto pela complexidade dos casos a que os mesmos estão envolvidos.
Fincher sempre brindou seu público com filmes inteligentes e corajosos, que estimulam a reflexão e a crítica social, além de ladeados por características imersas a um entretenimento eficiente e marcante. Filmes como Clube da Luta e o recente A Rede Social comprovam o quão magnífico pode ser o trabalho daquele que capitaneia toda a produção de um filme. Com Seven a coisa não é diferente, e o principal, tudo é orquestrado de maneira maior e melhor, convidando o público a mergulhar de cabeça em um mundo asfixiado por um mistério delicioso e envolvente, daqueles de roer as unhas e quebrar a cabeça, tamanha sua genialidade que se mostram em passagens exuberantes, ou até mesmo sendo manifestados em detalhes minúsculos, mas que ao final, somam ao processo e contribuem para conferir um caráter ainda mais brilhante ao filme.
Os crimes são, esteticamente falando, idealizados de forma magnífica, cada um trazendo um pouquinho de suas incríveis características, sempre munidas de uma criatividade fora de série na hora de juntar e orquestrar os quebra-cabeças que vão se formando ao longo da projeção. Aos poucos, o clima sufocante vai se atenuando até se tornar uma bola de neve incontrolável e deliciosa de se acompanhar, como há muito tempo não presenciava. A genialidade do serial killer é tão grande que desafia o público a entrar em seu jogo de gato e rato e participar efetivamente das investigações dos policiais a cerca de sua captura. Impossível não se pegar aflito com tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo, os conflitos crescendo a cada instante e o melhor, se ligando e construindo perspectivas nunca imaginadas pelo telespectador anteriormente, em passagens incrivelmente delirantes, como por exemplo, o momento em que o assassino se entrega aos policiais. Impossível ser melhor.
Tanto policiais quanto o público são pegos de surpresa quando o serial killer se entrega, já que se mostrava praticamente impossível detê-lo, tamanha sua engenhosidade em arquitetar e produzir seus crimes. Mas é ai que a trama, repleta de surpresas e reviravoltas, se mostra mais surpreendente ainda, partindo daqui a rumar sua história com base na personalidade brilhante e insana do criminoso, deixando a tela totalmente em chamas e imersa a um suspense de tirar qualquer um do controle. Com isso, Fincher em um dos mais belos trabalhos de sua carreira, conduz a história e seus personagens para o juízo final mais extraordinário que já pude ver em um filme. Acontece então uma confusão no que se quer dizer estereótipos de herói e vilão, já que ao final, nada se pode julgar, mas apenas sentir, a partir de cada um dos pecados representados pelas personalidades dos personagens.
Os 15 minutos finais são arrebatadores e com certeza estão presentes entre os melhores que o cinema já presenciara. Na minha mente, prossegue à passagem maravilhosa, mas ao mesmo tempo tão sufocante quanto um incêndio, que a qualquer momento pode levar à destruição de tudo e todos. Essa sensação que está presente a cada respiração dos personagens faz com que o público delire com o desfecho extraordinariamente bem conduzido por um diretor no melhor de sua carreira, e por atuações realmente sinceras e expressivas. Seven promove não apenas o entretenimento, proveniente de uma caça alucinante ao serial killer, mas também nos oferece reflexão a cerca dos limites de cada um, de até onde o ser humano pode suportar a dor, ou se entregar ao seu pecado. O final nos mostra isto, e a forma como tudo termina, a mensagem derradeira, a expressão dos personagens, a trilha fantástica que nunca sai de cena, tudo eleva este filme ao patamar de Obras Primas do cinema moderno. Seven é genial, nada mais que isto.
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