O ser humano, desde seu nascimento, carrega dentro de si o potencial para construir qualquer identidade, podendo ser cientista, artista, estudioso etc, assumindo caracteres que lhe aproximam de determinadas categorias e outras que lhe particularizam dentro das mesmas. Mas, em certos momentos, desejamos manter certas identidades que , por mais que nos encantem, não conseguem ou conseguirão comungar com as experiências das outras pessoas na sociedade.
Essa é a linha mestra do longa de animação O Mágico (L'Illusionniste, 2010), dirigido por Sylvain Chomet - de As Bicicletas de Belleville (Les Triplets Du Belleville, 2003) - a partir de um roteiro de Jacques Tati, que conta a história de um mágico que entra em decadência por não conseguir mais se encaixar no cotidiano de uma grande cidade. Como o público diminui cada vez mais devido à preferência por atrações mais jovens e populares, ele tem menos oportunidades de trabalho e precisa viajar para se manter. Numa destas viagens, rumo à Escócia, ele conhece uma garota, a quem presenteia com um par de sapatos e que decide seguir com ele.
Interessante como Chomet trabalha com a persona de Tati para compor o protagonista, mas, ao invés de utilizar da inadequação como um meio de extrair risadas, ele a utiliza de forma melancólica, extraindo sua poesia de pequenos momentos em que vemos a energia criativa surgir num cotidiano cercado de concreto e barulho. Com traços leves e contornos humanos, além de um sépia constante que ressalta a sensação de deslocamento temporal. Contudo, em seu final pessimista, mas ao mesmo tempo poético, Chomet chama atenção para nossa necessidade de sempre escolher o caminho da realidade, que, mesmo não sendo o caminho mais agradável, ao menos é aquele que nos encaminha para uma realização mais sólida da nossa identidade. Talvez a resposta não esteja na total negação do sonho, naquilo que desejamos para nós mesmos, mas nas possibilidades que, paradoxalmente, uma limitação pode nos fazer enxergar.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário