Um filme pode ser considerado sob dois diferentes pontos de vistas. O ponto de vista ideológico, no qual tenta defende-se algum tipo de valor ou ideia. E o ponto de vista objetivo, do qual todo o valor ideológico é extraído, e o filme é visto como mero entretenimento.
Algumas obras trazem suas ideologias escancaradas para todos verem. Outras são mais sutis, deixando tudo nas entrelinhas. Amor Sem Escalas faz parte do primeiro grupo. Sua ideologia é bem clara. Trata-se de um alento, uma mensagem de esperança para os americanos que, naquele momento, viviam uma arrasadora crise econômica.
O roteiro se baseia no livro de Walter Kirn, lançado em 2001, mas que se enquadra perfeitamente no cenário econômico da época. Nele conhecemos Ryan Binghan (George Clooney), um executivo que ganha a vida de forma peculiar. Ele trabalha para uma empresa que presta serviços a outras demitindo funcionários em larga escala. Sob o eufemismo de Conselheiro de Transições de Carreira, Ryan passa o ano inteiro viajando, vivendo mais tempo nos hotéis e aeroportos do que em casa.
Mas isso não é um problema para ele. Ryan é um daqueles solteirões convictos e adora levar a vida sem muitos vínculos pessoais – como ele mesmo diz, devemos “esvaziar nossas mochilas” para sermos felizes. No entanto, essa maneira de pensar se transforma à medida que duas mulheres entram na vida dele.
A primeira delas é Alex Goran (Vera Farmiga), uma mulher com um estilo de vida semelhante ao de Ryan. Assim como o personagem de Clooney, ela passa mais tempo em aeroportos do que em casa, e os encontros só acontecem quando coincide dos dois estarem perto entre uma viagem e outra. A segunda é a jovem Natalie Keener (Anna Kendrick), nova na empresa e criadora de um novo mecanismo de demissões que, para o desespero do protagonista, não exige que viagens sejam feitas: tudo será via internet.
É com a entrada dessas duas na história que Ryan começa a repensar seu moderno estilo de vida, que abre mão de antigos valores, que, segundo a ideologia do filme, são importantes, como o casamento, os amigos e a família. O diretor e co-roteirista Jason Reitman (Obrigado Por Fumar, Juno) trata essa transformação com muita sutileza, fugindo muito bem dos clichês em que poderia esbarrar - que são vários.
No fim das contas, a mensagem construída por Reitman pode até parecer piegas (apesar do filme nunca chegar a esse ponto) e conservadora, mas é extramente oportuna. Nada melhor para os americanos do que alguém dizendo que os valores da vida moderna, incluindo aí o tão sonhado sucesso profissional, vem bem atrás do carinho dos amigos e da família.
Não se engane com título nacional, Amor Sem Escalas é uma comédia dramática (e não romântica). As atuações são bilhantes (principalmente a de Kendrick). A trilha sonora e o roteiro também. Infelizmente, tende a se tornar datado, mas vale a pena ser visto. É verdade que funciona melhor para o público norte-americano, que sofreu e ainda sofre os efeitos da crise econômica, mas isso não o impede de ser apreciado por qualquer outro público, nem que seja por mero entretenimento.
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