O Engenho de Zé Lins é um excelente documentário acerca da vida do escritor paraibano José Lins do Rego. Pequeno e modesto, mas bem produzido, o diretor, também paraibano, Vladimir Carvalho prova que com pouca coisa se faz um ótimo longa metragem.
O documentário trata especificamente acerca da vida de José Lins do Rego, alguns trechos de suas obras estão presentes, mas o foco mesmo é sua vida. O escritor nasceu na cidade de Pilar, teve uma infância problemática marcada pela asma e por um acidente que nunca mais abandonaria sua consciência. Quando menino era levado, e cresceu rodeado pelos engenhos. Fez direito em Recife, não o concluindo. Viveu sua vida intensamente, rodeada pelos amigos. Foi influenciado por Gilberto Freyre e Stendhal, o primeiro afirma categoricamente que o fez, o criou como escritor. Seus livros quase todos tratam da cana de açúcar e dos engenhos.
Zé Lins é um filme sincero, que permite ao espectador e leitor de sua obra uma aproximação íntima, que acaba um pouco com o distanciamento entre escritor e leitor. O documentário dá certo, principalmente porque é sustentado por depoimentos excelentes. Do escritor membro da Academia Brasileira de Letras Carlos Heitor Cony, passando pelo também escritor e membro da Academia Ariano Suassuna e pelo cineasta Walter Lima Jr., diretor de Menino de Engenho e chegando aos cidadãos da cidade de Pilar, pessoas que conviveram com Zé Lins e sua família, pobres, mas que transmitem suas histórias com muita sinceridade.
Em especial um depoimento é o melhor de todos, o do seu grande amigo, o poeta Thiago de Mello que narra à agonia final do escritor paraibano de uma forma tão humana quanto foi a vida de Zé Lins, marcada por paixões, ao seu time de coração, o Flamengo, a vida, e aos amigos. O cara era um ser humano normal, e se hoje ele não é colocado ao pé de Graciliano Ramos ou mesmo Machado de Assis, é por que como afirma Ariano, a crítica deve a Zé Lins, pois não foi feita justiça plena a sua obra. E como Cony diz, o modernismo brasileiro começou de fato com os caras lá do norte, o Zé Lins, o Graciliano, a Rachel de Queiroz. Ou seja, a importância de Zé Lins é inegável.
Mas essa importância não é esmiuçada pelo documentário, sua obra literária não é analisada, sendo nesse ponto falho. O documentário é mais um revisionismo do passado, que pega registros orais e o documenta no seu celulóide. Revisionismo reforçado pelo ótimo acervo de imagens históricas. Ainda assim, uma belíssima homenagem ao centenário de José Lins do Rego, um belíssimo tipo humano e um grande escritor.
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