O filme que fui ao cinema assistir nesse fim de semana não está mais em cartaz, infelizmente. Estava ansioso para assistir a comédia “Pagando Bem que Mal tem?” do inovador e, na minha mais modesta opinião, um dos grandes diretores de filmes pop universitário dos últimos 20 anos, Kevin Smith (é claro que aqui estou me referindo, principalmente, ao Balconista e MallRats filmes divertidíssimos que refletem um pensamento de uma geração jovem presa num universo consumista em busca de sua revolução). Já foi estranho ver o filme dele em cartaz, tanto que durou duas semanas, eu deveria ter aproveitado.
Assim, resolvi escrever sobre o último filme que vi nos cinemas, há cerca de duas semanas, um enlatado hollywoodiano difamador de alemães, O Leitor.
Kate e seu Oscar
Vale aqui começar contando a história de Kate e o filme. Aparentemente a atriz fez o papel principal única e exclusivamente para ganhar um Oscar. A história eu li no blog do Zeca Camargo (muito envergonhado eu admito que às vezes dou um pulo por lá, e que ironicamente é um bom blog de cultura. Antes de atirarem pedras leiam lá, é bacana mesmo) O ator britânico Ricky Gervais tem um programa chamado “Extras”, que conta histórias de figurantes que sempre participam de grandes produções, mas nunca num papel importante e a cada episódio uma estrela de Hollywood aparece para fazer o papel dela mesma. No programa em que Kate Winslet aparece dizendo que não se interessa em fazer filmes de arte, mas sim para ganhar um Oscar, e a melhor maneira de ganhar um Oscar é ter um papel forte em história de Holocausto, ou fazer um débil mental!
Ironicamente ou não, Kate aparece no papel principal em O Leitor, filme sobre o Holocausto e ganhou Oscar. Bom, começa por ai. Não que ela seja uma má atriz, muito pelo contrário. Ela se sustenta nas mais de três horas do desastroso, e vencedor de 11 Oscar (ah… como esses prêmios não significam nada mesmo, né?), “Titanic”.
O filme
O filme não é decepcionante, pois para tal é preciso certa expectativa. Se passa na Alemanha pós-2ª Guerra em que o adolescente Michael Berg (David Kross) se apaixona por Hanna (Kate Winslet) uma mulher mais velha e vivem um intenso amor, ela some de sua vida e anos depois ele a reencontra sendo julgada de crimes cometidos nos campos de concentração. O mais Interessante é que o filme é contado em Flashback, recurso que me atrai muito e é muito bem utilizado pelo diretor inglês Stephen Daldry.
Ele começa em 1995, numa admirável sequencia em que Michael Berg (Ralph Fiennes) faz café da manhã para uma bela mulher com quem passou a noite, ai já se tem uma idéia do que vem pela frente. Michael é claramente problemático em relação às mulheres, assim, já se sabe que em algum momento em seu passado um amor lhe marcou profundamente. A seqüencia é bacana pela atuação destacada de Ralph, que de forma elegantíssima e sem exageros “expulsa” a mulher de seu apartamento demonstrando sua fraqueza marcada pelo passado.
Em seguida Michael olha pela janela e vê um garoto num trem, ai entra o Flashback e o expectador percebe que está em 1958 e onde Michael, agora jovem, está enjoado. Quem o acolhe na rua é exatamente Hanna. Depois disso pouco precisa se dizer, ele se apaixona por ela e eles tem uma relação bem sexual (é importante destacar esse elemento no filme que depois toma outro rumo). Nos encontros sexuais entre os dois, Michael leva livros e os lê para Hanna que se interessa como uma garotinha, anos depois Michael percebe que ela não sabia ler. Kate faz um belo papel, isso é inquestionável, uma cobradora de bonde dura e forte sem meias palavras, mas com sentimentos bem infantis. Em certo ponto Hanna some o que tem enorme impacto em Michael, que não se interessa por garotas de sua idade.
O problema não está no drama lenga-lenga do filme, isso já é esperado, o problema vem na discussão, meio como pano de fundo meio como eixo central, sobre o nazismo, seus reflexos e a vergonha alemã. Nesse momento o único sentimento que fica é de levantar da cadeira. Já me cansei de filmes que desmoralizam os alemães, todos sabem dos horrores do holocausto e do eterno fardo dos alemães em carregar Hitler e o nazismo em sua história. Mas, ninguém se importa em comprar um perfume Hugo Boss quando foi ele quem fazia os ternos nazistas. Ninguém se importa em lembrar como acabou a guerra, duas bombas atômica no Japão, lá pessoas nascem defeituosas até hoje. Ninguém nem cita milhares de horrores cometidos pelo governo norte americano em diversos momentos históricos (Guerra do Golfo, do Vietnã, da Coréia, do Iraque, da caça ao Che, do treinamento de tortura concedido aos militares brasileiros etc.)
Voltando ao filme, Michael, ainda jovem, mas estudante de direito, vê Hanna sendo julgada por ter sido guarda de um campo de concentração. As partes do julgamento tem uma fotografia broxante. Todos a vêem como um monstro etc. Essas cenas eu quase desisti, até numa fala em que Hanna diz que trancou a porta de um galpão em chamas com os presos dentro, pois caso contrário os presos fugiriam e sairia da ordem. Ai se vê um esboço de uma discussão um pouco diferenciada, mas só o esboço. Na sequencia entra uma Mulher judia e toda sua melancolia. Os filmes de Holocausto já se esgotaram, nem disfarçando esse moralismo hipócrita numa triste história de amor entre um adolescente e uma mulher analfabeta eles escondem esse cinismo.
Mas, no que diz respeito à história de amor, tem belos momento sim. A relação de Michael e Hanna quando ela está na prisão, ai entra a fantástica habilidade hollywoodiana em emocionar, mas é só, não passa disso. A boas atuações também ajudam a melhorar longa. Em suma, O Leitor é um filme que até tenta, mas não consegue se desligar da maldita e incansável fórmula norte-americana de criar um artefato de dominação artística através do cinema pautado em um simulacro imperialista.
Caio Maciel
Ressalvas
Se quiser ver um filme sobre o Holocausto recomendo A Arquitetura da Destruição, um belíssimo documentário sobre o assunto. Ou mais recente, A Queda. Aguardemos também pelo Iglorious Basterds do Tarantino, esse parece ser bem jocoso no que diz respeito à negação desta forma de crítica histórica.
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