Um detetive da divisão de homicídios às vésperas de se aposentar (Morgan Freeman), recebe um novo parceiro (Brad Pitt) para, juntos desvendarem um caso estranho de assassinatos em séries. O que era pra ser uma investigação corriqueira, se transforma num complexo quebra-cabeça para aqueles dois homens. Durante todo o processo de descobertas, eles se dão conta que o assassino, então já classificado como um serial killer, vem matando suas vítimas de acordo com os sete pecados capitais.
Os sete pecados capitais é algo formulado pela antiguidade, que foi reformulado pela Igreja Católica, ficando assim: Inveja, Vaidade, Luxúria, Preguiça, Avareza, Gula e Ira. Partindo disso, esse assassino espalha medo, terror e morte à suas vítimas, não demonstrando nenhum sinal de piedade. Cabe aos dois detetives deterem esse psicopata antes que ele espalhe mais carnificina. Mas não será fácil combater um inimigo sem rosto, no qual parece estar sempre à frente de tudo, e que utiliza os métodos mais frios e sanguinários pra fazer o que quer e chamar a atenção de todos. O assassino dá as cartas, espalha pistas que levam às suas vítimas, brinca de gato e rato com seus opositores e em momento algum demonstra estar com medo de qualquer coisa. O detetive mais velho mostra segurança, confiabilidade no que faz, porém percebe que está lidando com algo incomum, e aos poucos vai vendo que seus últimos dias antes da aposentadoria pode significar seus dias mais tenebrosos. O detetive mais novo é curioso, impulsivo e só quer a qualquer custo pegar o assassino. Em contraponto a esses momentos de tensão, a esposa do parceiro jovem quer oficializar essa nova parceria de seu marido, convidando o velho e experiente detetive pra jantar em sua casa. São momentos raros de descontração, em meio ao terror que os assolam. E terror maior virá em forma dos pores pesadelos pra aqueles dois homens, quando, numa jogada inesperada, o assassino lhes arma uma estratégia fria e calculista e mostra que tem tudo planejado desde o início. No final, o assassino demonstra toda sua frieza e inteligência, numa atitude totalmente inesperada, elevando ao extremo tudo o que ele havia feito até então.
Seven é isso: A caçada a um assassino impiedoso. Tudo mostrado de forma crua e sem restrições. Em 1991, o filme O Silêncio dos Inocentes mostrava a caçada de uma agente do FBI a um serial killer. A investigadora contava com a ajuda (nem tanto) de outro psicopata. Aqui, os dois detetives não têm essa sorte e precisam buscar pistas em tudo que há pela frente. Um filme que sintetiza os maiores medos do ser humano em relação ao inesperado. Qualquer um pode ser vítima de um assassino cruel, independente de classe ou raça. Aqui, as vítimas são escolhidas de acordo com suas limitações humanas, ou seja, dentro de seus próprios erros. A mulher vaidosa tem seu nariz “empinado” arrancado; o “guloso” é obrigado a comer até morrer; o “preguiçoso” é amarrado em uma cama por um ano inteiro; e por aí vai.
O diretor David Fincher utiliza recursos interessantíssimos, tais como:
*Nunca mostrar o serial killer executando alguém.
*Colocar um clima chuvoso ou escuro em quase todas as cenas.
*Fazer com que uma pista vá levando a outra, de forma bem convincente.
*Mostrar que o assassino está mais próximo dos investigadores, sem que os mesmos se dêem conta disso.
*Um clima pesado e torturante o tempo todo.
*Os letreiros iniciais e finais são bastante originais.
Fincher é um dos poucos diretores de Hollywood que ousa fugir das fórmulas baratas e dar uma roupagem única e original a seus filmes. Seu primeiro longa-metragem foi Alien 3, depois vieram: Seven, Vidas em Jogo (com Michael Douglas e Sean Penn), Clube da Luta (com Edward Norton e novamente Brad Pitt), O Quarto do Pânico (com Jodie Foster e Kristen Stewart, da fraca saga Crepúsculo), Zodíaco (outro filme de caçada a um serial killer, estrelado por Mark Ruffalo, Jake Gyllenhaal e Robert Downey Jr.) e O Curioso Caso de Benjamin Button (terceira parceria com Brad Pitt).
O roteiro de Andrew Kevin Walker é nada menos que excepcional, uma obra de profundo profissionalismo, um dos melhores dos últimos anos. Um texto intenso que em momento algum derrapa em demagogias ou momentos desnecessários à trama. Une-se a essa excelente história, a fotografia exuberante de Darius Khondji e a montagem paralisante de Richard Francis-Bruce. Lembrando que, mais uma vez o Oscar escorrega feio e só nomeia Seven à indicação de melhor montagem. A trilha sonora é outro elemento que faz com que o filme cresça a cada momento, dando um clima mais agonizante.
O elenco também é ótimo: Morgan Freeman passa segurança e firmeza como o detetive a beira de se aposentar. Brad Pitt equilibra um ótimo contraponto com seu colega, entregando uma interpretação bastante convincente. Sua esposa, feita por Gwyneth Paltrow equilibra um pouco de doçura ao filme, toda vez em que ela aparece nos sentimos um pouco mais aliviados com todo aquele terror ali ao redor.
Seven é um filme complexo, angustiante, tenso e com um dos finais mais inesperados e impactantes dos últimos 30 ou 40 anos. É um desfecho que não dá espaço para que possamos respirar mais tranquilamente depois de passarmos duas horas torcendo pela captura do assassino. Falar mais a respeito seria estragar a grande surpresa. Só posso dizer que é um final corajoso que demonstra apenas uma das inúmeras qualidades dessa obra-prima de um diretor que não se vende ao cinemão fácil e mastigado que acostumamos ver pipocando por aí.
É um filme que faz pensar e refletir e especialmente pra quem tem estômago forte.
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