Há quem diga que o agora cult Bill Murray só passou a fazer bons filmes depois de velho. É verdade que hoje em dia o ator de Caça-Fantasmas escolhe melhor os trabalhos dos quais participa, mas isso não significa que ele não tenha feito bons filmes nas distantes décadas de 80 e 90.
Feitiço do Tempo, de 1993, é uma prova disso. A comédia fantástica – que fez fama no home-video – conta a história do egocêntrico Phil Connors (Murray), um jornalista frustrado com o seu emprego que, para sua ira, vai cobrir pela quarta vez consecutiva o “Dia da Marmota” – festividade de uma pequena cidade norte-americana, na qual uma marmota diz se o inverno continuará ou não. O pior é que, inexplicavelmente, Phil fica preso no tempo, acordando sempre no mesmo dia: o “Dia da Marmota”.
O diretor Harold Ramis (o Dr. Egon Spengler, de Caça-Fantasmas) realizou algumas modificações no roteiro originalmente escrito por Danny Rubin. Modificações essas que foram importantíssimas para o funcionamento do filme, como a repetição dos dias não receber nenhuma atribuição mágica, ao invés de ser obra de um feitiço vodu, como previa o original. Em relação à narrativa, o diretor de Clube dos Pilantras, teve, ainda, a sensibilidade de torná-la linear, contrariando o texto original e evitando que a trama se tornasse excessivamente complicada.
O filme usa muito bem o fator tempo para elaborar diálogos e situações engraçadíssimas (como a forma com que Phil conquista a sua chefa: “Antes de beber, eu faço uma prece e brindo à paz mundial”).
Mas Feitiço do Tempo não é só um amontoado de boas piadas, o filme também passa uma mensagem educativa. É só observar as formas como o personagem de Murray encara o fato de estar preso no mesmo dia. No primeiro momento, ele odeia tudo aquilo, afinal, está preso no pior dia de sua vida. A seguir, começa a usar sua “maldição” para benefício próprio (é esse o momento mais engraçado do filme). E, por fim, adota uma postura mais altruísta, deixando de pensar apenas em si, se importando mais com as outras pessoas. Tal transformação é muito bem interpretada por Murray, que, mesmo ao fim do filme, não perde ainda um pouco do ar insolente de seu personagem.
Outro mérito do filme é não se tornar repetitivo (mesmo passando-se quase inteiramente em um mesmo dia). Resultado de ótimos trabalhos de direção (mudando ângulos), edição (fazendo dias passarem em questão de segundos) e roteiro (diversificando as situações vividas por Phil).
Com um bom texto e uma atuação bastante inspirada de Bill Murray, Feitiço do Tempo peca por sua previsibilidade (afinal, é fácil saber quando o “feitiço” acabará), mas esse é apenas um contra em meio a tantos prós. Um filme que vale muito a pena assistir, principalmente para os fãs do Dr. Peter Venkman.
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