Alguns cineastas têm filmes facilmente identificáveis. Só de bater o olho, já sabemos quem esteve por trás das câmeras. Tim Burton (Ed Wood, Edward Mãos de Tesoura) é um deles. Seus filmes são dotados de uma excentricidade única, que possibilitam esse reconhecimento de paternidade imediato.
Alice no País das Maravilhas (que estreia com atraso por aqui) não foge à regra, e apresenta todos os elementos típicos dos filmes de Tim Burtom (visual sombrio, cenários que nos remetem ao expressionismo alemão, Johnny Depp, Helena Bonham Carter, etc.) – o que, ao menos, já o torna interessante.
Na história, Alice já tem 19 anos e volta ao País das Maravilhas, fugindo de um casamento arranjado. Lá, ela reencontra todos os personagens estranhos que conheceu em sua última visita, mas não lembra mais deles nem do mundo em que está. Mesmo assim, ela é a única que pode acabar com o reinado da Rainha Vermelha, que afastou sua irmã, a Rainha Branca, do poder, com a ajuda do monstro gigante Jabberwocky.
Quem interpreta Alice é a jovem australiana Mia Wasikowska, que se sai bem no papel. Os onipresentes Johnny Depp (A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça) e Helena Bonham Carter (Clube da Luta) também estão no filme (é claro), e são o que há de melhor no elenco. Seus personagens são os mais interessantes e humanos. Ele sendo o Chapeleiro Maluco, que é louco e triste de uma forma suave, meiga. Ela, por sua vez, é uma rainha malvada, que sempre sofreu com a solidão e por sua enorme cabeça. Ainda completam o elenco Anne Hathaway (que, é claro, faz uma princesa), Michael Sheen (Frost/Nixon) e Alan Rickman (da série Harry Potter), esses dois emprestando suas vozes ao Coelho Branco e à Lagarta Azul, respectivamente.
O visual do filme, como esperado, é incrível. Direção de arte, maquiagem, figurino, sem falar do uso de inúmeras tecnologias diferentes - como captura de movimentos e animação – contribuem para que o filme se torne avassalador nesse quesito. Tim Burton dá ao mundo das fantasias um ar soturno, tenebroso. A Wonderland que estamos acostumados some, dando espaço à Underland.
O 3-D do filme, alvo de grandes críticas, muitas vezes irrita, vemos coisas embaçadas e nada de inovador – problemas oriundos da conversão, que é a maneira mais fácil de incluir em um filme a tão badalada tecnologia. Mas está no roteiro, adaptado por Linda Woolverton (de A Bela e a Fera e O Rei Leão) o maior problema. Raso e esquemático, ele nunca envolve ou surpreende.
Visualmente magnífico, mas com pouco conteúdo, Alice no País das Maravilhas é mais um filme onde Tim Burtom emprega sua visão única e sombria sobre materiais já conhecidos (foi assim em Planeta dos Macacos, A Fantástica Fábrica de Chocolate e A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça). O resultado é algo interessante, mas que já está começando a cansar.
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