A Saga Star Wars é a melhor e a mais bem-sucedida do Cinema. George Lucas criou nos anos 70 uma trilogia de ficção-científica que agregou milhares de fãs, com personagens fortes, frases e trilha sonora marcantes, maravilhosos efeitos especiais e que serviria de base para o futuro não só dentro da própria ficção-científica, mas também do 'subgênero' blockbuster, que teve como marco inicial Tubarão de Spielberg. É quase unanimidade (não só entre os fãs) que a Nova Trilogia iniciada em 1999 não possui a mesma força e magia dos episódios IV, V e VI, principalmente os dois primeiros. Entretanto, é também inegável que os três primeiros episódios são de uma grande importância, tanto para o mundo digital de Sétima Arte, quanto para a própria saga, afinal, estamos falando de uma trilogia que mostra a ascensão do maior vilão de todos os tempos, Lorde Darth Vader.
A Ameaça Fantasma tem vários pontos positivos. A começar pelo forte e coerente plano de fundo usado para mostrar as principais histórias do filme: a infância de Darth Vader, antes Anakin Skywalker, e a completa formação de Obi-Wan Kenobi como Guerreiro Jedi. Aliás, os planos de fundos sempre foram inteligentes na saga como forma de impulsionar a história e de imprimir uma profundidade e grandiosidade que nem sempre se atinge quando um universo totalmente novo é criado diretamente para o cinema (vide o recente Avatar).
O background do Episódio I é o bloqueio comercial feito pela Federação Comercial (que tem como aliado Lorde Sith Darth Sidious) ao pequeno planeta Naboo. Assim, dois Cavaleiros Jedi, Obi-Wan Kenobi (Ewan McGregor) e seu tutor Qui-Gon Jinn (Liam Neeson) são enviados pelo Chanceler Valorum (Terence Stamp) para uma negociação que prometia ser simples, mas devido a planos mais malignos e obscuros da Federação (uma verdadeira ameaça fantasma), os Jedi precisam resgatar a princesa de Naboo, Amidala (Natalie Portman), e levá-la a Coruscant, capital da República Galáctica, onde ela estaria a salvo. Só que no meio da missão os guerreiros fazem uma parada no país de Amidala e por acaso salvam um nativo da raça Gunga, Jar-Jar Binks, uma criatura visualmente cômica e simpática. Jar-Jar Binks os leva para a cidade submersa de Gunga City, onde o Rei concede um submarino de fuga. Os três finalmente resgatam a princesa juntamente com sua serva, mas no caminho para Coruscant a nave tem problemas técnicos e o grupo é obrigado a pousar no planeta Tatooine, nada menos que a moradia de Jabba Hutt, um planeta escravista e infestado de gângsteres. Como eles precisam de peças novas e o dinheiro da República não vale nada naquele lugar, Qui-Gon negocia com o fornecedor Watto através de uma aposta: se o escravo de Watto, o pequeno Anakin Skywalker (Jake Lloyd), vencer a popular corrida de Pod Racers, o prêmio é dividido e Qui-Gon fica com as peças e também com Skywalker, que seria libertado, mas se perder, Watto fica com a nave do Jedi. O interesse do Guerreiro no jovem escravo e a certeza que ele sairá vencedor na corrida apesar das baixas expectativas gerais reside no fato dele sentir a Força Jedi no menino, e assim acredita que a profecia sobre O Escolhido que trará o equilíbrio a Força se aplicaria ao garoto. Lucas encontrou um modo peculiar, divertido e muito interessante de nos apresentar Skywalker, criando questões sobre destino ou acaso intencionalmente impossíveis de serem respondidas.
Depois da primeira fuga dos dois Jedis, somos apresentados ao maravilhoso mundo submerso de Gunga City a partir de um dos planos mais belos da obra. O mundo de Lucas é sempre uma caixinha de surpresa e infinito de possibilidades, todas coesas e importantes para o desenvolvimento do enredo. A obra quase nunca perde o ritmo e as lutas dos Jedis com suas espadas de Sabre de Luz continuam hipnotizantes, principalmente o combate derradeiro entre Obi-Wan Kenobi e o pupilo de Lorde Sith, Darth Maul (Ray Park), claro que nada comparado a luta entre Obi-Wan e Darth Vader em A Vigança dos Sith ou entre Vader e Luke em O Império Contra-Ataca, e também não é essa a intensão de George Lucas, que tem o intuito de aumentar a epicidade através dos acontecimentos. A corrida dos Pod Racers é também muito bacana, apesar de um pouco mais longa do que o necessário. E ainda há a luta entre os dróides comandados pela Federação e os Gungas, grandiosa e impressionante por ser uma luta entre a natureza e a tecnologia. Mas a maior força desse primeiro episódio é obviamente a infância de Anakin e a descoberta de sua Força Jedi.
Ao contrário de Tom Riddle da saga Harry Potter, por exemplo, que bem antes de se tornar Lorde Voldemort já era uma criança com características megalomaníacas bastante definidas e que apenas se acentuariam ao longo dos anos, Skywalker é uma criança amorosa, gentil e se mostra relativamente pouco deslumbrada. Apesar de vislumbrar um possível futuro como Guerreiro Jedi e da sua pouca hesitação em abandonar a mãe para seguir seu destino, ele nunca é arrogante (mas sim decisivo), o que torna o personagem ainda mais interessante devido a esse caráter primeiramente inocente. Logo, o arrependimento de Darth Vader em O Retorno de Jedi não foi uma decisão errônea de George Lucas, que sempre se preocupou com o caráter dúbio do vilão, construindo paulatinamente sua personalidade ao longo dos novos episódios. O lado impetuoso e rebelde de Anakin vai naturalmente tomando forma aos poucos em O Ataque dos Clones até chegar ao ponto culminante em A Vigança dos Sith. É também uma jogada certeira de Lucas ao fazer com que os problemas políticos da Galáctica afetem diretamente o ponto de vista de Anakin, criando assim uma complexa teia de ações e reações.
Muitos fãs e saudosistas não curtem tanto a Nova Trilogia por ela ser quase que puramente digital, das mais de 2 mil tomadas, cerca de apenas 300 não foram digitalizadas, alegando que os episódios antigos são mais humanos por contar com mais cenário reais e muito mais humor. Realmente, a trilogia com Lucas Skywalker e a Princesa Léia é muito mais próxima ao espectador, não só devido aos cenários, mas ao carisma dos atores. Em 'A Ameaça Fantasma', tudo é muito sério e distante, e as poucas piadas ficam surpreendentemente por conta de um inacabado C-3PO, construído por Skywalker, que aparece muito pouco. Jar-Jar Binks, que seria essa força cômica, é um personagem forçado e com habilidade de tirar no máximo um sorriso enviesado. Fica então difícil não sentir falta das duplas Han Solo e Chewbacca e C-3PO e R2-D2. No Episódio II a situação muda um pouco quando começa a parceria entre os robôs e o cyborg diplomata tem mais tempo em tela.
A parte técnica também merece a nossa admiração, os cenários digitais, apesar de não serem perfeitos, trasmitem perfeitamente o Infinito e os figurinos são lindos, principalmente a da Guarda-Costas disfarçada de Amidala, seus figurinos exóticos e sensacionais convergem lindamente com sua personalidade fria. Por outro lado, Mestre Yoda provavelmente é o personagem mais decepcionante do filme, mas agora por motivos artísticos. O 'novo' Yoda desse episódio é feio de se ver, murcho e sem a aura mística e misteriosa do Yoda setentista, ainda bem que ele melhora de aspecto no filme seguinte. As atuações são outro ponto fraco, principalmente a de Ewan McGregor, que se em Moulin Rouge ele fez do escritor Christian um personagem cheio de paixão, aqui ele não transmite satisfatoriamente a importância de Obi-Wan Kenobi, nem em seu poder nem na sua insegurança. Liam Neeson também não está lá essas coisas, mas não decepciona e é competente em mesclar seriedade com um leve tom mais descontraído, já Portman também está apagada, e é irritante sua atuação cada vez mais canastra nos episódios que se seguiriam. O destaque maior mesmo vai para Jake Lloyd, o maior vínculo da película com o espectador.
O primeiro episódio de uma saga que começou de trás-pra-frente equilibra fatores positivos e negativos, no final o saldo é indubitavelmente positivo, a obra tem um forte propósito e só nos faz querer assistir aos próximos episódios e saber como essa história vai acabar, ou começar.
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