Toda obra de arte está a serviço de uma tese, e poderá chegar mais perto ou mais longe de prova-la. No cinema não é diferente e é na capacidade do diretor Sergei Eisenstein, em seu relato da crueza do sistema czarista, de provar que não haveria outro caminho para a Rússia senão a revolução armada, em que reside o encanto de “O Encouraçado Potemkin”. O filme é uma ode a liberdade e fraternidade que permearam a luta contra o Czar.
Os argumentos usados na obra de Eisenstein são o sofrimento do povo e os abusos da elite. E ele os apresenta expondo a vida dos marinheiros do Potemkin, apanhando de seus superiores e comendo carne estragada. A gradação da revolta se dá diante e dos olhos do espectador e de maneira a torna-lo cúmplice da insurgência.
Aliás, essa cumplicidade está altamente ligada à emoção provocada pelo que vemos. Ao intercalar momentos de calmaria e tempestade, Eisenstein toma nas mãos o coração do público, levando-nos à felicidade extrema com o sucesso da insurgência e principalmente à comoção e revolta na famosa cena do massacre na escadaria de Odessa. Poucas vezes o cinema produziu imagens tão impactantes quanto à da mãe vendo o filho alvejado pelas balas dos soldados e pisoteado pela população em fuga, leva-o nos braços e suplica por ajuda aos seus algozes impassíveis e desprovidos de toda e qualquer humanidade.
Eisenstein ganhou com o filme, o título de mestre do cinema. Usou para isso, muito mais imagens que palavras, afinal não só o “Encouraçado” é um filme “mudo” como o cinesta sempre teve certo ódio ao cinema “falado”, por considera-lo “um pleonasmo”. Assim, era tudo feito na base da montagem, havendo para isso um apuro técnico muito grande no sentido de produzir seqüências memoráveis.
“O Encouraçado Potemkin” é uma das obras mais importantes e revolucionárias da história do cinema. É ao lado de “Cidadão Kane” o que há de mais respeitado na sétima arte. Uma película que prova muito bem a sua tese inicial através da montagem, do poder das imagens e da capacidade do diretor em causar emoções, muito mais do que na maior parte do cinema descartável da Hollywood de hoje.
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