Fim dos Tempos não é o filme mais difícil de ser interpretado de M. Night Shyamalan (A Dama na Água cumpriu esse papel), mas é com certeza o mais estranho em termos de proposta e ainda assim, o melhor dele desde A Vila. O roteiro altamente intrincado parte de uma premissa sensacional: a reversão do instinto de sobrevivência das pessoas que, entoxicadas por um agente biológico, passam a se matar com o que tiverem a seu alcance. Esse ataque, a princípio dito como "terrorista" seria, no caso, uma vingança da natureza contra o próprio ser humano. Nós, enquanto agentes predatórios, sofremos com a defesa poderosa das próprias plantas. Enquanto produto para fazer defesa ecológica, o filme tem seus momentos. Mas não se aprofunda nisso. As mensagens estão contidas nas tentativas dos personagens de explicar o fenômeno e só. No entanto, o que se percebe é uma espécie de analogia com a paranoia americana, o medo do terrorismo fundamentalista e até mesmo do inimigo interno. Várias propostas são levantadas: o ataque biológico seria a) fruto de ataque terrorista b) uma reação à energia nuclear, visto que a região Nordeste dos Estados Unidos é a que concentra o maior número de usinas do tipo e c) uma experiência da CIA. Shyamalan volta a abordar a questão do isolacionismo e do medo americano, como já fizera no ótimo A Vila. Mas essa ideia passa algo obtusa no filme e não encontra carga para o espectador. Aliás, o diretor faz uma espécie de pastiche de toda a sua obra: o medo e a incompreensão diante do que não podemos explicar de O Sexto Sentido, a ameaça invísivel de Sinais e o isolacionismo de A Vila, além da estrutura linear de A Dama na Água. Não é um filme fácil e por isso acabou naufragando nas bilheterias e na crítica. É um filme bastante amedrontador (a simples ideia do homem afetado por algo que reverte seu instinto de sobrevivência é aterradora), com cenas muito fortes (foi o primeiro de Night com censura para menores de 17 anos). As atuações ficam apenas no limite do razoável. Wahlberg se esforça, Deschanel pouco acrescenta e apenas a menina Ashlyn tem força na história.
É um filme muito bom, mas um tanto difícil. Para quem é fã do diretor, como eu, será satisfatório. Mas o grande público dificilmente entenderá as propostas de Shyamalan.
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