Já foi muito amplamente debatido a questão de como a falta de liberdade pode podar a imaginação criativa de um grande diretor, as vezes, creditam um total deslize a tal implicação. É bem verdade que Duna fora um filme “encomendado” por Hollywood ao então promissor underground David Lynch, que a pouco tempo obtivera ótimo resultado na adaptação Homen Elefante. Contando com um orçamento astronômico pra época, algo em torno de 60 milhões, cabia ao diretor uma grande tarefa em adaptar o catatau de mais de 600 páginas que era o livro Duna, relativamente conhecido. O resultado: fracasso de bilheteria e crítica, e uma guinada – ainda bem – de Lynch para um circuito mais independente.
Também pudera, o Duna de Lynch mais parece um filme em que o diretor divide a organização do filme com Ed Wood. Nem uma maior duração e/ou uma melhor Edição para o filme livraria o pior. Seja pelo quimérico roteiro, seja pelas terríveis atuações – o que até me surpreende se tratando de Lynch -, seja pelas abomináveis construções de personagens, seja pelos clichês absurdos, tudo tende para algo muito ruim. Nem as parábolas oníricas de Lynch pegam bem no filme. Salvam-se minúsculas cenas, pouquíssimas mesmo, isso graça a precisa – embora ausente na maioria das vezes – mise-en-scène de Lynch.
A história, como é corrente a algumas ficções-científicas, fala de um futuro distante, 10.190 D.C. , onde tá ocorrendo um pega-pra-capar dos infernos por causa de uma especiaria que é a matéria especial para viagens interplanetárias (somente!). Nisso, o confronto do bem contra o mal, sempre tratado de uma forma sagaz por Lynch, aqui toma uma noção mais clássica. No meio daquela disputa quase feudal entre os clãs pela especiaria, o bem é representado pelo Duque Leto Atreides (Jürgen Prochnow) e sua família, principalmente seu filho, o herói-fodão em questão, Paul Atreides (Lyle MacLachlan, que também protagoniza Veludo Azul). Eles são mandados pelo Imperador para Arrakis, um árido planeta conhecido como Duna, o lugar onde tem a especiaria. Esse Imperador (José Ferrer), de nome Shaddan IV (levem o filme a sério, por favor!) pretende destruir o duque e sua família, mas Paul escapa e procura se vingar usando a ecologia deste mundo como uma de suas armas.
Depois dessa complicada sinopse, você espera que o filme atue em cima de relações de poder nos parâmetros medievais, com traições, etc. Até ai, tudo bem, o filme de alguma maneira segue isso. Mas, o roteiro que fora adaptado do livro homônimo de Frank Hebert pelo própio Lynch é tão mal costurado (não me venham dizer que é um estilo, aqui a coisa é mal feita mesmo, mal desenvolvida mesmo), que a história vira uma confusão de eventos que acontecem com uma facilidade constrangedora e sem emoção alguma.
Tecnicamente, é fácil de ver exemplos de filmes bem anteriores, com orçamento bem menor, e que fazem melhor uzo de seus componentes, sobretudo os efeitos (defeitos nesse caso?) especiais. Há um escudo lá de Duna que me remeteu aos saudosos episódios de Chapolin em Marte.
Mas, é isso aí. O filme realmente fica a desejar em muitas, muitas coisas. Talvez alguns cenários enormes, hora ou outra mostrem-se eficientes ao planejado. No geral, Duna acaba sendo um pisada feia na bola da carreira de um baita diretor como David Lynch (sobretudo se pensarmos o quão seus filmes melhoraram depois de Duna).
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