[Produção norueguesa discute velhice e solidão ]
“Parece que a maioria das coisas chega tarde na vida, não é verdade? Por outro lado, nada chega cedo!”
Odd Horten é um sujeito calado. Tão monossilábico quanto seu primeiro nome. Odd Horten é maquinista de locomotiva há 40 anos na Noruega. Sua vida é tão previsível quanto o trajeto de trilhos do trem que percorre diariamente. Odd Horten e sua locomotiva são praticamente elementos indissociáveis. Isso até ele se aposentar. A baixa no trabalho o obriga a encarar o mundo fora do seu vagão. Tarefa não muito fácil pra ele.
Odd não é um aposentado metódico como Warren Schmidt, interpretado por Jack Nicholson em As Confissões de Schmidt. Ao receber uma distinção da Associação dos Condutores de Locomotiva, sua reação passa longe do discurso pomposo do professor Isak Borg, de Morangos Silvestres. De semelhante entre esses personagens somente as divagações sobre velhice e solidão.
Dirigido por Bent Hamer, da palhosa adaptação de Factotum – Sem Destino, Caro Sr. Horten é uma comédia dramática, cheia de sutilezas e humor ingênuo e sofisticado. O filme foi o representante norueguês na seletiva do Oscar 2009. Não entrou pra disputa, porém não fica abaixo dos que concorreram ao prêmio.
Marcado por situações inusitadas que beiram o surreal, o longa norueguês faz da jornada de Odd uma reflexão sobre ações mal conduzidas. Ao restabelecer seu contato com o mundo exterior, o protagonista se obriga a seguir um caminho que não obedece ao itinerário vicioso da via férrea, que sempre serviu para distrair os fantasmas do passado.
Seja numa conversa sincera com uma solitária dona de pensão. Ou na companhia a uma criança com medo do escuro. Ou com a própria mãe. Pouco a pouco, ele percebe a necessidade de uma mudança que o leve pra bem longe da fiel locomotiva, e tudo de previsível que ela representa.
E como acontece na maioria dos filmes, coube a um desajustado dizer as palavras certas para Odd abrir os olhos. É no encontro com etílico diplomata Trygye Sissener (Espen Skjønberg) que ele encontra a inspiração para seguir em frente. Colecionador de armas primitivas (“o que é uma contradição, pois todas as armas são primitivas”) seu amigo é o típico bon vivant que possui o hobby de dirigir com os olhos vendados. Conduta totalmente oposta à personalidade insegura do protagonista. É com ele que Odd aprenderá algo muito simples e importante: ainda há tempo!
Com bela atuação do desconhecido ator Bård Owe, Caro Sr. Horten é um trabalho sensível e cativante, que merece ser descoberto. Feito com poucos diálogos, belas paisagens e com uma trilha minimalista que não incomoda, o filme faz da instrospecção do seu personagem-título uma fábula singela e bem-humorada. Longe de ser didático, é surpreendente.
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