12 Homens e uma Sentença
Em seu filme de estréia no cinema, Sidney Lumet já demonstrava toda a habilidade que seria vista posteriormente em filmes que hoje são vistos como clássicos, como "Serpico" e "Rede de Intrigas". A construção pautada na crítica e na revelação de características humanas é uma das marcas de Lumet, que contou a história de um homem que assaltou um banco para pagar a cirurgia de mudança de sexo do namorado em "Um Dia de Cão" ou outro que acaba por convencer outros 11 na conclusão de um veredito, como vemos em "12 Homens e Uma Sentença".
Considerado pelo American Film Institute um dos 100 melhores filmes americanos da história, conta a história de 12 homens que fazem parte de um júri que vai sentenciar o caso de um garoto de 18 anos que supostamente teria matado o seu pai. O elenco é composto por grande atores, como Henry Fonda (vencedor do Oscar por "Num Lago Dourado"), Lee J. Cobb (que havia sido indicado ao Oscar por "Sindicato de Ladrões") e Jack Warden (indicado ao Oscar por "O Céu Pode Esperar", de 1978). Com apenas esses dados já podemos observar a grande obra-prima na qual estamos falando.
Um feito incrível é o de Lumet conseguir amarrar uma trama que se concentra em apenas um local: a sala de júri. Com a exceção de cerca de 3 minutos, o filme todo é realizado nesse local (além de uma cena no banheiro). Talvez isso permita que o espectador sinta-se ainda mais questionado, tendo em vista que as personagens estão praticamente "enclausuradas" e com um difícil impasse a ser resolvido.
No início, é feita uma votação. Como é necessário que haja unanimidade, todos previamente concluem que o veredito final seja "culpado" (ou "guilty", em inglês). No entanto, o jurado nº 8 (a personagem de Fonda), acredita na inocência do acusado e vota "not guilty" (ou seja "inocente"). Isso causa o enfurecimento do júri, que estava superficialmente convencido da culpa do acusado. A partir daí, o jurado nº 8 traz à tona suas argumentações com base naquilo que todos haviam visto no tribunal.
Argumentos como a faca utilizada pelo acusado, o tempo que uma das testemunhas havia levado para ver o suposto criminoso após o homicídio ou o óculos que outra testemunha poderia usar são mencionados durante o longa, e incrivelmente acabam por mudar pouco a pouco a opinião de cada um. Todavia, entre esses argumentos, um é extremamente interessante e provoca a repulsa dos próprios jurados. Com base em uma argumentação extremamente preconceituosa, o jurado nº 10 (Ed Begley, vencedor do Oscar por "Doce Pássaro da Juventude") julga o garoto como pertencente de uma "laia", de pessoas que mentem e que não "precisam de motivo para matar alguém". Dessa forma, pode-se perceber que o preconceito também é um dos fatores de julgamento e que ofuscaram a visão dos jurados.
Com um enredo que consiste na argumentação e no debate, muitas questões são colocadas em jogo e revelam os pensamentos da sociedade e o equívoco que os mesmos podem trazer. Além do preconceito, vemos no jurado nº 3 (em uma performance surpreendente de Lee J. Cobb) o que podemos chamar de "pré-conceito". Ele, com argumentos infundados, julga o réu culpado pelo fato de não gostar daquele garoto, daquelas pessoas. Porém, diferente do jurado 10, ele acaba por refletir sobre aquilo que havia pensado e, por fim, escolhe pela inocência do acusado. A cena em que isso acontece talvez seja uma das mais marcantes do longa.
O cineasta optou por não revelar a identidade, os nomes das personagens, que sugerem estar servindo apenas como pano de fundo da resolução daquele caso, que acaba por dar origem a novas conclusões e mostrar os reais pensamentos que temos dentro de nós. "12 Homens e Uma Sentença" é um daqueles filmes que todos deveriam ver, por ser quase como uma "lição de moral" dos conceitos que a sociedade transmite e persistem na nossa visão de mundo.
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