Alguns filmes brasileiros são verdadeiros orgulhos para nosso país. Eu poderia ficar, com o maior prazer, horas falando de “Central do Brasil”, “Cidade de Deus”, “Casa de Areia” e “Os Normais, O Filme”. Mas, infelizmente, vou precisar ocupar meu tempo relembrando este ridículo “Saneamento Básico, O Filme” (idem, 2007), sem dúvida um dos piores filmes brasileiros dos últimos anos. E é também o maior desperdício de elenco que eu já vi, pois Fernanda Torres, Wagner Moura e Tonico Pereira não precisavam passar por esse tipo de humilhação.
A história é simples e banal. Os moradores de Linha Cristal, uma pequena vila gaúcha, reúnem-se para discutir a respeito da construção de uma fossa para o tratamento do esgoto do local, que incomoda muito com cheiro ruim e transmissão de doenças. Eles elegem uma comissão representativa para requerer à subprefeitura a verba necessária para tal obra. Apesar de a secretária considerar a obra necessária, ela alega que não possui verba suficiente, e aconselha os moradores a entrarem em um concurso da prefeitura, que premiará com R$10 mil o melhor vídeo enviado. O concurso exige que seja apresentado um roteiro, que o filme seja de ficção e tenha, no mínimo 10 minutos. Com isso, os moradores resolvem fazer um filme sobre um monstro que mora nas obras de construção de uma fossa.
Apesar de “Saneamento Básico, O Filme” ser um filme de comédia, são muito poucas as cenas realmente engraçadas. O roteiro apresenta inúmeras tentativas frustradas de fazer o espectador rir, mas o máximo que consegue é irritar o coitado que tenta encontrar alguma diversão. O primeiro exemplo que me vem à cabeça é a patética e pouco inteligente discussão acerca do significado da palavra “ficção”. São perdidos, no mínimo, quinze minutos para que seja descoberto o significado. Os personagens chegam a ir até o gabinete da subprefeitura para perguntar o que poderia ser visto facilmente em um dicionário (ou, simplesmente, não ter sido acrescentado ao filme, o que seria um grande favor). Outro coisa que irrita bastante são as infindáveis e desnecessárias discussões sobre o conteúdo do roteiro. O desperdício de tempo é a pricipal característica deste longa de 112 minutos, que poderiam ter sido facilmente reduzidos a uns 90 minutos.
O elenco de “Saneamento Básico, O Filme” é excelente. E desperdiçado. Primeiro, porque nem um elenco com os melhores atores da história faria com que este filme fosse bom (nem ao menos razoável). Segundo, porque a direção de Jorge Furtado é péssima. Impressionante como um diretor não consegue extrair absolutamente nada de seus atores, deixando-os sem qualquer rumo, utlizando apenas seu talento natural falar. E nisso, Fernanda Torres é a que mais se sobrassai. Melhor atriz de comédia do Brasil na atualidade, ela traz para si todos os holofotes, pois, com seu jeito desleixado, é a (única) responsável pelos risos do espectador. Nenhum outro ator consegue arrancar do espectador nem ao menos um risinho de canto dos lábios. É realmente uma pena que Lázaro Ramos, Camila Pitanga e cia tenham feito a grande besteira de aceitar fazer um filme como esse, ruim do começo ao fim.
O roteiro é péssimo. São raros os filmes de comédia que não me fazem rir, mas Jorge Furtado conseguiu essa proeza, pois, além de dirigir, ele roteirizou esta tragédia. Sinceramente, não sei o que se passa na mente de pessoas que têm péssimas idéias e, mesmo assim, insistem em pô-las em prática. E o pior: Jorge Furtado trabalhou por 2 anos neste roteiro, sinal de que ele desperdiçou completamente 2 anos de sua vida. É realmente lamentável que um profissional do gabarito de Jorge Furtado tenha tido um deslize tão grande em sua carreira.
“Saneamento Básico, O Filme” não consegue agradar nem aos amantes incodicionais de comédia. Se você espera assistir a um filme de comédia nacional, eu poderia recomendar vários. Mas tenha certeza de que este não estará na minha lista.
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