Todos os finais de semana as salas de cinema das grandes cidades lotam. Porém, na maioria das vezes, os espectadores acabam escolhendo filmes sem nenhuma mensagem intelectual; a preferência são os filmes de grandes efeitos especiais, cenas de ação ou romances tão adocicados e melosos que fariam qualquer diabético se remoer na cadeira do cinema.
Os irmãos Ethan e Joel Cohen, diretores, editores, produtores e roteiristas do filme “Onde os Fracos Não Têm Vez”, fizeram desse filme uma mistura de conteúdo e itens que atraem a grande massa, mas, mesmo assim, ao término do filme, muitos saem decepcionados da sala de cinema. O público deseja um filme que lhe dê mastigadas todas as explicações necessárias para o real entendimento da trama, um filme que não exija dele muito raciocínio, como dizem os críticos de cinema: “Um filme bem mastigado, para que o público não se engasgue com a pipoca.”
A trama mostrada em “Onde os Fracos Não Têm Vez” conta a história de Llewelyn Moss (Josh Brolin), um ex-combatente da Guerra do Vietnã, que, enquanto caça, encontra uma grande quantia em dinheiro cercada por vários cadáveres, cena possivelmente oriunda de uma (mal-sucedida)negociação de criminosos. Ficar com aquela mala não foi uma boa escolha, pois para recuperá-la foi contratado Anton Chigurh (Javier Bardem), a figura mais tenebrosa do filme. Toda essa situação é acompanhada por de Ed Tom Bell (Tommy Lee Jones), xerife local e homem que não compreende como a violência chegou a esse nível absurdo.
O conceito de violência não é o mesmo em todas as sociedades, aquele possui um determinado significado em um lugar e outro, às vezes completamente diferente, em outra localidade, muda de acordo com a época, de acordo com a cultura, de acordo com a geração. E é acerca dessa mudança (a de gerações) que o filme trata. O velho xerife Tom Bell não compreende mais o significado dado à violência, os crimes bárbaros e banais agora acontecem ordinariamente, os criminosos, na maioria das vezes, não expressam nenhum tipo de hesitação, no momento de cometê-los, ou arrependimento, após cometê-los. Anton Chigurh, a figura mais sinistra de todo o filme, pois mata sem piedade alguma e possui um visual deveras incomum, o que muitos dizem ser um simbolismo utilizado pelos irmãos Cohen para demonstrar o quanto aquele homem não era normal, gera em Bell um sentimento de incompreensão, um conflito de princípios morais tão grandes que nos faz perceber que aquele velho xerife, que lembra bucolicamente dos tempos onde os xerifes andavam desarmados pela cidade, representa aquela parcela da sociedade que não entende como a sociedade chegou a esse ponto, como chegou a esse estágio. A mudança no conceito de violência é normal, o que não é normal, porém, é o constante aumento dessa violência de uma maneira tão rápida e abrupta em um mesmo todo social e a maneira contemplativa com que a nova geração aceita essa violência. Os irmãos Cohen, ao levar um filme como “Onde os Fracos Não Têm Vez” ao cinema, demonstram fazer parte do grupo que não aceita o estado no qual se encontra a violência, e que buscam conscientizar aqueles que não conseguem compreender isso.
O final do filme, momento mais criticado de forma negativa pelo público, nos mostra um homem, aposentado, que não compreende mais a maneira de sua sociedade funcionar, que gostaria de não participar dessa caótica evolução pela qual a sociedade passa. Um homem possuidor de um sentimento típico de todo conservador, sentimento que o faz achar que tudo advindo dos tempos atuais é pior, se comparado ao advindo do seu tempo.
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