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Críticas

Cineplayers

Um medonho e complexo filme indie.

7,5
Uma pequena semente de algo infernal é plantada em Starry Eyes (idem, 2014) e o primeiro sinal de atividade do que está para nascer é sentido em uma respiração ofegante presente nos créditos iniciais. A coisa por ora é bem simples: a nossa protagonista está realizando a sua primeira intervenção dentro de nossa experiência. Pode até parecer um momento bobo, mas esse tratamento de ações simples tem lugar na primeira fila dentro das pretensões desta obra de cunho estritamente psicológico – ao lado de todas as possibilidades de exploração dentro do campo pessoal de um personagem específico. Logicamente que Kevin Kolsch e Dennis Widmyer não estão aqui para subestimar ninguém: muito mais que um simples recurso atmosférico partido de um filme de horror, aqui se cria uma relação inicial de intriga capaz de deixar o espectador ciente de que a coisa nem precisou começar para já haver algo de errado.

Este é um bom exemplo de filme que lida de forma sábia com os seus próprios limites, ainda sustentando certa grandiosidade elaborada a partir do pouco luxo disposto. A elegância é exalada e não é preciso chegar muito longe para tomar consciência de que muito dessa alma vendida bebe de fontes antigas – o interesse em oferecer ao espectador o constante sentimento de mal-estar (consequência do estudo atmosférico) reflete descobertas feitas em obras como O Bebê de Rosemary (Rosemary's Baby, 1968). Os raros momentos de uso de lugares comuns ao gênero não representam qualquer forma de ameaça ao filme, servindo como um seleto conjunto de artifícios em prol dos interesses emocionais depositados sobre a protagonista – dando espaço para a frustração, a depressão e todo evento que possa exemplificar uma verdadeira bad trip capaz de contaminar a narrativa. Sem produtos enlatados.

O que realmente joga areia nos olhos de Starry Eyes é a construção dos elementos metalinguísticos postos em mesa. É óbvio que existe muito aproveitamento por trás de tudo isso, até mesmo porque o argumento do mesmo tem como pilar a autorreferência da linguagem cinematográfica (uma das coisas mais interessantes no filme, por sinal); mas chama a atenção o fato de algo tão interessante como o cenário industrial de Hollywood ter ficado em muitos momentos negligenciado em sua demonização. O experimento, de qualquer forma, está longe de se reduzir a isso: a simplicidade se trata de um dos maiores trunfos das ambições deste pequeno filme, ao ponto de tudo se envergar a uma estrutura de pesadelo puro – para o bem e para o mal, o uso do metalinguístico converge para esse aspecto.

A calma presente desperta a impressão final de que boa parte ocorreu ao seu devido tempo, ajudando na construção de nossa aceitação para a série de efeitos que somente um verdadeiro pacto artístico poderia oferecer; afinal, pouco há o que dizer sobre a naturalidade extremamente absurda com que aqueles vinte minutos finais chegam – um exercício pleno de gore trabalhado em cima do choque. A referida naturalidade do clímax se dá pelo domínio dos diretores ao realizar determinadas manobras dentro do desenvolvimento da narrativa, tendo a sua representatividade máxima pela sucessão de planos e de sons (onde entra o trabalho sensacional de montagem – a cena da entrevista) que tocam diretamente no repugnante. O desagradável em sua forma bruta está aqui como uma consequência emocional – uma doença (o que se concretiza na transformação física pela qual a protagonista passa após o pacto). No final das contas, as lágrimas são de sangue puro.

Um bom meio-termo entre o sugerido e o explícito. Capaz de deixar uma aura significativa de estranheza ao final da sessão – talvez a tal da semente infernal seja o próprio filme (não me espantaria se Le Fin Absolue du Monde, título que permeia Pesadelo Mortal [Cigarette Burns, 2005], de John Carpenter, fosse o foco de trabalho por trás do pacto firmado em Starry Eyes). Fluido e negativo o suficiente para ser considerado um notável exemplar de horror.

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