Retomando seus temas do começo de carreira, Moodysson constrói um drama pequeno, mas muito forte e inclusivo.
Retornando ao universo que consagrou seu começo de carreira, Lukas Moodysson lança Nós Somos as Melhores!, filme onde duas amigas de 13 anos resolvem, por pura implicância, montar uma banda de punk rock, embora não saibam tocar nenhum instrumento. Através de uma Estolcomo oitocentista, personagens adolescentes e um escopo naturalista, o diretor retoma temas e visualidades que o revelaram ao mundo em seu primeiro filme, Amigas de Colégio.
Amigas de Colégio é um filme preciosíssimo, muito bem inserido no cenário de exaustão cultural dos anos 1990, retrata a descoberta de uma cumplicidade amorosa entre duas colegiais, enquanto ambas se rebelam contra o ambiente moralmente opressor da pequena cidade em que vivem.
O que mais me marcou nesse debut foi a aproximação a esse tema frívolo, dotado de uma rebeldia juvenil tão expressa, com extrema sinceridade e empatia. Em Nós Somos as Melhores, Moodysson manifesta essa sinceridade de um modo ainda mais marcante ao colocar-se diante de um filme ainda mais juvenil e leviano, sem aparentemente apontar seu dedo masculino a uma história fundamentalmente feminina.
Em momento algum a trajetória de vida das três protagonistas são menosprezadas ou diminuídas. Cada lugar e cada momento são dotados de uma curiosidade solene e respeitosa, e constantemente somos convencidos de que as pequenas atrizes e suas personagens são mais relevantes para o produto final do filme do que o próprio olhar do diretor, encarregado basicamente de observar e não invadir. Naturalmente, porém, a posição que Moodysson assume diante de seu filme é calculada e trabalhada, caracterizando escolhas presentes, mesmo que prototipamente, em seus trabalhos anteriores.
O tratamento ao drama é bastante interessante, pois a história se desenrola vagarosamente através de singelos acontecimentos, que vão pouco a pouco formatando a personalidade das personagens, propondo-lhes a profundidade que merecem. Não há grandes momentos dramáticos, grandes eixos ou curvas. A narrativa é reta, linear, sem lições morais ou julgamentos formatados.
A incursão de garotos e homens no filme acontece, especialmente em um arco marcante onde duas das meninas brigam por causa de um garoto. O arco tem caráter ambivalente: pode ser entendido como afronta, pois em uma história de amizade entre duas garotas, a presença de um possível interesse romântico não poderia ser forte o bastante pra abalar essa relação; pode também ser entendida como algo natural, que surgiu na vida das meninas tão rápido quanto deixou de existir, pois a amizade foi reatada prontamente.
Independentemente disso, é até as últimas circunstâncias um filme sobre a amizade de três garotas, que dão os primeiros passos durante nos percalços da adolescência. Garotas que, apenas por serem garotas, já estão dispostas em um mundo a qual não pertencem muito bem, mas que são ainda mais marginalizadas por serem peculiares, diferentes, ou inseguras.
A banda acontece não para proporcionar a escalada dramática da narrativa, mas como personificação da relação de mundo das personagens principais, especialmente as amigas Bobo e Kiara, íntimas desde o começo do filme. Por não saberem tocar, elas encaram a banda com descontração, mas não com descompromisso. Elas não são virtuosas, mas sentem a necessidade implacável de se exporem, para demarcarem seus lugares no mundo, de maneira vacilante e cacofônica, mas de corpo, de presença, de alto e bom som, para que não sejam ignoradas.
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