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Críticas

Cineplayers

O Anjo da Morte.

6,5

A representação de uma das figuras mais emblemáticas do nazismo tomou forma pelas mãos da jovem cineasta argentina Lucía Puenzo. A diretora filma em seu país, local onde um tal de Josef Mengele se refugiou sem nunca deixar de testar seus monstruosos experimentos. Dentro do cinema argentino tão em voga vem uma história verídica não contada, aspirada pela memória de tempos de fuga, já que o país recebeu diversos refugiados do regime nazista. Para isso, anseios se fundem na Bariloche dos anos 60: o sonho de uma pousada ativa prestes a ser conquistado por uma simples família camponesa aliado a ambição de crescimento de uma das filhas. A menina tem 12 anos, mas tem um atraso de desenvolvimento físico de pelo menos 4 anos que intriga a família e rende-lhe constrangedores deboches.

O roteiro se baseia em ideais de perfeição, ou pelo menos em paradigmas de sucesso. Não à toa, é notória a aspiração da cineasta pelo corpo humano, já que seu primeiro trabalho residiu nesse tema, o bom e questionável XXY (XXY, 2007). Na aventura de um tema aplicado pela distinção de lógicas dos personagens, dois se destacam: um motivado pelo apresso à ciência sem limites, à medicina propriamente; e outra pela possibilidade de rejeição futura tanto no âmbito escolar quanto no social. Se acentua dois limites que coincidem na trama em benefício de novas conquistas, do melhor humano, o conceito de raça ariana ascendeu sobre um viés de superioridade. Seus resultados estão estampados nos livros de história.  

O roteiro costura um núcleo de relações nesse contexto bucólico. Um estranho médico alemão chamado Helmut Gregor está passando algum tempo por ali, justificando sua estadia graças as suas experiências com animais. Ele vê na adolescente Lilith um alvo para suas pretensões, pois percebe seu desenvolvimento e que pode fazer algo pela menina. Outra questão o atrai: a gravidez da mãe da garota, Eva, que aguarda gêmeos. Buscando uma forma de ficar sempre por perto, torna-se o primeiro hóspede da bela pousada e cativa o interesse da família por seus feitos, dando a eles a promessa de ventura. Há uma abstenção do arco da história que quase prejudica a narrativa, a seu favor está a interação da menina por aquele que pode lhe garantir um sonho o qual os pais não tem condição de propiciar.

A história em volta de O Médico Alemão se constrói sobre dúvidas de intenções, o que garante nossa atenção a respeito das finalidades por trás dos testes que assistimos. Espanta ver, em alguns instantes, o distanciamento desse médico protagonista sobre todos em sua volta. A indiferença marca um ponto do roteiro que se choca pelo estranho apresso a Lilith, deixando o espectador antenado diante um suspense morno, porém intrigante, dos possíveis resultados daquela relação. Esse caráter de suspense se acentua pelo recurso da iluminação e fotografia que exprime imensa frieza quando algumas decisões fogem ao controle. Imparcialmente a sua constatação, a princípio, Puenzo elabora um filme gélido e imprevisível tal como seu protagonista. 

Entre tantas referências a reverência da perfeição, entra uma subtrama perfeitamente simbólica que dá todo um contorno à premissa: a confecção de bonecas. O pai de Lilith visa criar uma boneca o qual o coração mecanicamente pulse. A boneca predileta de Lilith, Wakolda (que dá o título original ao filme) foi concebida por seu pai. Torna-se outro motivo de atenção por parte do médico que decide investir e produzi-la em série. Um corte no filme! Em outro ato vindouro, visualizamos a modelo pronta. A pele clara, cabelos bem penteados loiros e expressivos olhos azuis.

A verdade sobrepõe a fuga e a obra se transforma através de nuances, quase se convertendo em um thriller. Falha nesse sentido. Ainda que não seja um grande filme, é abarrotado de inspirados momentos com uma trama coerente a sua proposta histórica. Lucía Puenzo coordena bem seu próprio roteiro. Os bons atores contribuem com a impressão assombrosa da obra. Destaca-se o ator espanhol Alex Brendemühl que vive Helmut Gregor, codinome de Josef Mengele, conhecido no campo de concentração como Todesengel, o anjo da morte que inspira sonhos e entrega infortúnios.

Comentários (1)

Lucas Souza | terça-feira, 10 de Junho de 2014 - 14:46

Mengele foi um dos maiores monstros da história da humanidade com seus experimentos diabólicos nos campos nazistas e na Argentina era considerado um bom homem... Não deve ter sofrido 1/3 do sofrimento que causou a seus semelhantes... O filme deve ser mediano mesmo, mas com certeza vale a conferida...

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