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Críticas

Cineplayers

Arrastado filme com cara de produção televisiva.

4,0

Antropologicamente falando, Uma Vida Sem Regras trata de um típico rapaz ocidental, classe média, de 25 anos, com uma vida vazia de significado e nenhum objetivo prático, apenas o sonho de tornar-se músico compondo letras – até engraçadas -, justamente sobre ser esse jovem ocidental de 25 anos de vida vazia. E ainda tentando analisar o lado social desse perfil, muitos são os jovens hoje que, sem perspectivas político-sociais (“filhos da Era Thatcher”, como chega a dizer o personagem de Robert Pattinson), vagam pela vida como zumbis. E para aproximar essa referência política da realidade brasileira, basta trocar o termo “Thatcher” por “FHC”e poderemos entender uma geração calcada no liberalismo econômico e na globalização mediada pelos meios de comunicação digitais.

Aqui podemos listar também outro aspecto social contemporâneo que é o prolongamento da adolescência até os 30 anos, levando os adultos a estenderem o seu período de incertezas e instabilidades, tanto de fundo emocional quanto financeiro, um dos temas que perpassam também Distante Nós Vamos, último filme de Sam Mendes.

Porém, tirando essas referências de análise de personagens contemporâneos e falando dos aspectos propriamente cinematográficos, este filme do estreante diretor Oliver Irving parece mais do mesmo:  uma dramédia sobre personagens e famílias disfuncionais, com humor e estrutura baseados nas comédias independente norte-americanas.

Sua primeira meia hora de duração apresenta o personagem Art (Pattinson), seus amigos e parentes, além da namorada que ao lhe dar um fora o põe em contato com seus conflitos mais íntimos, o obrigando a pensar em uma solução para eles. A cena em que Art compra um carro com as economias de uma herança é bem emblemática, uma das pequenas boas sacadas do filme: sua ânsia em sair por aí dirigindo loucamente, de óculos escuros e cabelo ao vento aos poucos vai se desmanchando na confirmação de que possuir coisas não preenche o vazio existencial de ninguém.

Nessa meia hora inicial o ritmo de comédia / drama se mantém e segura o espectador, mas quando a sátira aos livros de auto-ajuda (a coluna vertebral da trama) começa, com a entrada caricata de Dr. Ellington (Powell Jones, a quem o filme é dedicado in memorian), o ritmo cai vertiginosamente, desanimando qualquer um e fazendo o restante de seus parcos 89 minutos de duração se transformarem numa longa jornada pelo mundo tedioso de Art e seus amigos não menos entediados.

Com cara de filme produzido para televisão, fica difícil não concordar com a opinião de que o lançamento nacional de Uma Vida Sem Regras vem acompanhando o rastro de sucesso da saga Crepúsculo, encabeçada por Pattinson. Aliás, sua atuação é interessante e ele acerta no tom com o pseudo-músico que só arranha uns acordes no violão, mas ainda assim quer viver de sua arte.

Talvez os problemas de ritmo do filme possam estar vinculados ao próprio ritmo de Art, lento e desanimado, como numa contaminação da estrutura da obra por características de seu personagem, e o que se salva são pequenas tiradas bem aplicadas, como por exemplo, as letras compostas por ele que explicam muito sobre como o jovem se sente deslocado socialmente e os esforços que faz para se enquadrar sem conseguir, mas sem agregar nenhuma novidade ao gênero é complicado embarcar na sensibilidade de Art e sua história.

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