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Volver

(Volver, 2006)
7,8
Média
584 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Mais um filme indispensável do espanhol Aldomóvar.

7,0

Pedro Almodóvar possui o que poucos cineastas na história conseguiram: criar uma identidade única, pessoal e intransferível para suas obras. Basta olhar para um plano apenas para identificar o mestre espanhol como autor, e isso é absolutamente fascinante. Após a maturidade artística obtida em meados da década de 90 com Carne Trêmula, suas obras atingiram então um nível de excelência invejável, e desde então quatro filmes foram concebidos, sendo Volver o último, um retorno do cineasta à comédia e ao universo feminino. 

A trama de Volver centra-se na história de duas irmãs: Raimunda (Penélope Cruz), mulher de passado traumático que vive ao lado do marido e da filha adolescente; Sole (Lola Dueñas, de Mar Adentro) mora sozinha em um apartamento, dentro do qual funciona um salão de beleza ilegal. Essas duas mulheres compartilham a tragédia da morte dos pais em um incêndio na antiga vila onde moravam, incêndio este que aparentemente enterrou segredos inconfessáveis. E que deixou incompletas as vidas das duas. O acerto de contas com o passado é indispensável para que suas vidas atinjam a completude. 

A chance aparece quando recebem a notícia da morte da idosa Tia Paula (Chus Lampreave). Raimunda é procurada pela vizinha da falecida, Agustina (Blanca Portillo), que acometida por um câncer terminal procura desesperadamente saber o paradeiro da mãe, desaparecida desde o citado incêndio. Agustina revela que a Tia Paula vivia sob os cuidados do fantasma da falecida Irene (Carmen Maura), mãe das duas irmãs, e caso esta faça uma ‘aparição’, que Raimunda pergunte se a desaparecida está viva ou não. 

É uma heresia tentar destrinchar tão complexo universo em tão poucas palavras, afinal, em se tratando de Almodóvar, elementos cênicos se misturam à personalidade do próprio filme e personagens, incorporados de tal forma ao cotidiano que aparentam uma falsa simplicidade inerente. Até a linearidade simples deste (em contraste com o virtuosismo do filme anterior do cineasta, Má Educação), é fajuta e engana os mais descuidados – a inclusão de elementos surpresas só faz tornar o filme mais delicioso. 

O mais surpreendente é constatar o quanto Penélope Cruz pode render em seu idioma pátrio e sob um comando firme. A moça, que nunca demonstrou maior talento em produções de língua inglesa, demonstra aqui vitalidade e sensualidade nunca dantes vista, além de um talento até então oculto. Contrastando com ela está Lola Dueñas, que parece deslocada no papel da insegura Sole. Fantásticas estão Carmem Maura, com timing cômico perfeito e segurança nas cenas dramáticas, e a quase desconhecida Blanca Portillo (cujos créditos incluem Entre as Pernas e o recente Elsa e Fred – Um Amor de Paixão), a fragilidade em pessoa em papel difícil. Todas elas, mais Yohana Cobo (a filha adolescente de Raimunda, que também impressiona em uma cena complicada), ganharam o prêmio de interpretação feminina no último Festival de Cannes – o filme ganhou também o prêmio de roteiro no mesmo festival, escrito pelo próprio Almodóvar. 

A sensibilidade na análise comportamental dessas mulheres torna Volver um filme de apuro emocional e, mesmo abordando temas complexos como morte e incesto, divertido – afinal, estamos tratando de uma produção essencialmente cômica. É Almodóvar voltando às suas próprias raízes (o filme tem algo de autobiográfico de acordo com suas próprias palavras, assim como já tinha acontecido em obras anteriores) em mais um filme indispensável.

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