Baseado em um filme de John Carpenter da época em que o diretor ainda entretia sua audiência (o início dos anos 1980), A Névoa é mais uma refilmagem que, acredito eu, ninguém pediu para existir e, na atual conjuntura das coisas em Hollywood, acabou ganhando facilmente o sinal verde para ser filmada. Oras, o filme original é ainda bastante recente! Mas já que eles cometeram a indelicadeza de filmar o desnecessário, aqui estamos para avaliar esse trabalho.

E que falta de qualidade e de conteúdo! O filme possui momentos que fazem rir quando deveriam causar tensão; uma história com boas intenções mas que foi desenvolvida em formas clichês e altamente desinteressantes; personagens imbecis que insistem em manter-se vivos quando, por exemplo, têm seus carros batidos por um caminhão e caem de um declive para o mar (!); mocinhas que gostam de andar semi-nuas no frio congelante, sem justificativa alguma; um bom moço que não deveria estar fazendo cinema, pois é tão medíocre como ator tal qual uma pessoa normal; efeitos especiais risíveis, que não conseguem alavancar momentos de tensão - o resultado é justamente o contrário, a tal névoa comporta-se sem lógica e de forma estúpida.

Haveria vários outros pontos a relatar, mas excetuando-se algum trabalho de arte intrigante (um cão putrefado e um corpo em chamas, o que é esperado em qualquer filme que tenha o dedo de Carpenter), o filme pode ser considerado tudo, menos terror. Para completar todo o pacote, temos um final excepcionalmente ruim e ilógico (tanto devido ao acontecido em si quanto ao fato de um personagem em questão não ter, em momento anterior algum, demonstrado ter caráter para fazer aquele tipo de coisa) e desenvolvimento de personagens nulo.

Apesar dos aspectos artísticos serem praticamente inexistentes, o filme poderia se sobressair caso fosse simplesmente divertido. Mas, como já ficou claro após a apresentação da lista de pontos negativos, em nenhum momento A Névoa pode ser considerado um terror (embora a música enjoativa tente enganar). As ações dos personagens são estapafúrdias demais para não tirar a atenção da ação. É um filme absolutamente sem conteúdo algum, não há analogias, segundas intenções, mensagens relevantes, entretenimento, não há nada! Somente uma sucessão de cenas que, no todo, tentam criar um fio de história que serve como desculpa para apresentar alguma violência estúpida. Violência essa que, além de infundada (o que é normal na indústria e pode ser desculpável), não propicia nenhum sentimento de diversão a qualquer espectador um pouco mais experiente.

A Névoa é mais uma bola-fora de uma indústria cada vez mais e mais sem idéias novas. Ele apela para praticamente TODOS os clichês do gênero, e ainda assim não funciona nem como comédia (como é o caso da recente refilmagem de A Profecia). Causa estranhamento o fato de o diretor Rupert Wainwright já ter filmado o gênero de forma infinitamente mais competente, quando fez Stigmata, em 1999. Aquele filme, embora não tenha sido uma obra-prima (longe disso), possuía substância e fino trato no trabalho com as imagens. Já este é filmado da maneira mais convencional possível em 99% do seu tempo. No final das contas, é novamente triste constatar que há trabalhos muito superiores disponíveis para serem assistidos. Mesmo a mediocridade é muito superior ao apresentado por esta grande porcaria.