Nunca pretendeu ser um grande filme, mas é bem pessoal e tem o seu charme.
Num pequeno povoado a 100 km de Buenos Aires, cinco adolescentes tentam vencer uma partida de futebol, mas levam surras seguidas. Mais difícil do que superar as dificuldades do jogo de futebol, no entanto, é enfrentar as agruras de suas vidas: um deles fica sabendo que a mãe trai freqüentemente o pai e está na boca do povo; o outro é obrigado a trabalhar pesado como carregador de verduras; o terceiro descobre que é adotado; um vê a namorada ir embora para a capital argentina, etc.
Tudo isso é reforçado pelo fato de os garotos, aos 13 anos, estarem entrando na adolescência. Há o despertar sexual e começa o interesse pelas mulheres, sufocado pela pobreza, pela crise econômica, falta de perspectiva e pela mentalidade muitas vezes tamanha e provinciana da maioria dos habitantes da cidade.
O filme parece se passar numa década perdida no passado, pois o atraso econômico estacionou a cidade no tempo. Uma aura nostálgica desconcertante paira sobre o filme, que segue num ritmo lento e melancólico na sua maior parte (o mesmo das tardes de verão sem nada para fazer dos meninos). O diretor tem um olhar agudo da realidade, mas tem imenso carinho pelos personagens e suas agruras.
Buenos Aires 100 Km atinge seu ápice ao dar vazão às histórias que um dos meninos escrevia. Falavam de um assassino de longos cabelos que matava suas vítimas a machadadas, geralmente passadas num cemitério. Os demais amigos do círculo pedem mais sexo e sangue. O filme, torna-se, então, um terror B de cenários infames e imaginação delirante, com feitio pobre e intenções baixas. Como se trata da mente de um menino de 13 anos, tudo soa irônico e engraçado, com estranhas conexões com sua realidade.
Não é um grande filme, nunca pretendeu ser; fala da crise econômica argentina da mesma maneira agridoce que muitos filmes contemporâneos. Tem o seu charme. Faltou ambição ao diretor para ensejar algo mais portentoso. Ele preferiu focar o ínfimo, que é onde está sua força e também seu limite. Trata-se de um assunto universal, mas a maneira de abordar foi um tanto pequena demais. A impressão que se tem é de que o diretor estava emocionalmente ligado demais ao assunto, de forma que sua visão saiu sem a isenção e o distanciamento necessários para que pequenas histórias como essas alcancem o formato clássico que lhes dá a moldura definitiva.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário