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2 Perdidos Numa Noite Suja

(2 Perdidos Numa Noite Suja, 2002)
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Críticas

Cineplayers

Conta a história de 2 imigrantes brasileiros que tentam ganhar a vida nos EUA.

6,0

Dois Perdidos Numa Noite Suja é o novo filme de José Joffily (o mesmo de Quem Matou Pixote? e A Maldição de Sanpaku, professor da UFF) que estréia dia 28 de Março no Rio de Janeiro e 4 de Abril em cadeia nacional. Tive a felicidade de assistir em sessão às 10 horas da manhã no Rio Design, Barra da Tijuca, uma pré-estréia fechada e, depois do filme, batemos um papo com o próprio Joffily sobre a produção. Confesso que me interesso muito por saber esses bastidores e o filme sempre fica um pouco mais interessante do que é na verdade, só que, sendo franco, ele não é tudo o que a peça foi, se perde um pouco, como detalharei mais à frente.

O roteiro foi escrito a partir de uma peça homônima de Plínio Marcos, que mesmo com 40 anos de existência continua atual. A história é sobre Paco (Débora Falabella) e Tonho (Roberto Bomtempo), dois imigrantes que vão para os Estados Unidos em busca do sucesso profissional e pessoal, o famoso sonho americano. Só que eles encontram a dura realidade do emprego difícil, da falta de oportunidades e do submundo do crime. Há dois pontos completamente distintos por aqui, pois Paco é complexo e cheio de existencialidade, enquanto Tonho é um personagem um pouco bobo, tapado, bundão, mas que funcionam completando um ao outro. Uma química que é imprescindível para o funcionamento realmente.

O nome de Paco real é Rita, mas ela não gosta de ser chamada assim e finge ser um garoto que se prostitua para homossexuais ricos da região. Há todo um background na história do personagem, só que Joffily optou por deixá-lo obscuro, somente com lapsos do que pode ter acontecido com Paco para que os expectadores digiram tudo e cheguem às suas próprias conclusões. Ele sonha em ser cantor, mostra até um certo talento (pouco aproveitado pelo filme), só que não conta com a sorte para conseguir explodir no sucesso. É um personagem bastante complexo, cheio de conflitos internos e em uma bela interpretação de Débora Falabella, um dos pontos altos do filme. O problema é que diversas cenas foram dubladas, o que tirou claramente muito da bela interpretação expressionista de Débora, deixando a parte sonora bastante inferior. E ela realmente dá um show, chegando a ficar completamente nua em uma cena, algo extremamente difícil, mas que deixou a cena final ainda mais tensa. Aliás, essa cena foi alterada da peça original, o final é diferente. Já que Plínio não é mais vivo, a equipe apresentou o roteiro para sua mulher e filho, que aprovaram a produção, mesmo preferindo o final original (já eu preferi o do filme, para não deixar nenhum furo de personalidade nos personagens).

Tonho é o inverso de Paco. Tímido, de poucas falas, chega a ser constantemente ridicularizado pela menina. Os dois se conhecem em um banheiro onde Tonho trabalhava. Paco estava fazendo seus negócios com um cliente e entra em perigo, pois o homem queria o serviço completo e descobriria, assim, que Paco não era um menino (ele só fazia oral em seus clientes). Tonho aparece e a salva da enrascada, começando assim o difícil relacionamento dos dois. Eles vivem em choque, sempre Paco destruindo sentimentalmente Tonho, que deseja voltar para o Brasil, mas não tem dinheiro. E o filme gira em torno disso, a prisão de Tonho por causa de Paco, o não reconhecimento da menina com o homem que tentou lhe ajudar, o difícil relacionamento entre os dois, forçado. Esse é o esqueleto do filme.

O problema é que a história é um pouco chata e cheia de exageros. Os palavrões são usados em demasia, mesmo quando não necessários, e não saem naturais da boca dos atores. Não é como em Cidade de Deus, onde você encaixa perfeitamente o que está ouvindo pelos atores. Aqui não ficou legal mesmo, muitas vezes forçados, claramente desnecessários. O inglês usado pelos principais é enrolado e simples (propositalmente), só que e o dos coadjuvantes? Mesmo sendo americanos, o roteiro tinha falas muito simples para eles, tirando um pouco mais da já prejudicada naturalidade das cenas.

Eu sempre fui muito fã das torres gêmeas, alvo do já histórico atentado de 11 de Setembro, e aqui há um fator bastante interessante: o filme acabou de ser rodado dia 2 de Setembro, apenas uma semana e pouco antes dos ataques terroristas, por isso o WTC pode ser visto em uma linda cena, ao fundo. E há um detalhe que acabou ficando bastante legal. Quando Tonho sai da cadeia (sim, não contei nada demais, isso é no início do filme), as torres não estão mais lá! Ou seja, eles voltaram para refilmar um pouco depois dos ataques, e quando o filme volta um certo tempo para contar sobre o relacionamento de Tonho e Paco, como quando eles se conheceram, por exemplo, lá estão elas, inteirinhas, firmes e lindas ao fundo. Muito bem fotografado, por sinal. O atentado não prejudicou o andamento do filme, já que não necessariamente utilizava-se das torres ou falava sobre o assunto, porém Joffily ficou doido quando viu o que estava acontecendo pela TV. Ainda bem que deu tudo bem.

Já que tocamos no assunto, a fotografia foi o ponto mais forte do filme pra mim, disparado o que mais gostei. Eu amo fotografias escuras, pessimistas, com bastante tons de azul, acho que isso dá uma beleza toda especial para os filmes, e Dois Perdidos Numa Noite Suja utiliza bastante desses meios. As locações (todas grátis, Nova York não cobrou nada por elas) são belíssimas, muito bem escolhidas, dando um clima todo especial às cenas. A sujeira, a desgraça, tudo está perfeitamente retratado pelos locais. O ponto baixo técnico, como disse antes, é o som. Depois de Cidade de Deus, não há como aceitar um som dessa qualidade mais para o cinema nacional. A dublagem está péssima, os sons ambientes ficaram baixos demais ao fundo e altos demais quando estão em destaque, muito mal mixados. Uma pena, mas creio que o cinema nacional já melhorou muito com relação a isso.

Dois Perdidos Numa Noite Suja é isso, um filme com boas interpretações (mesmo que prejudicadas), uma história boa, mas mal aproveitada, lindas locações muito bem fotografadas e um final diferente da peça original. E ousado. Para um filme tão barato (apenas 1,2 milhões), até que se saiu bem. É o cinema nacional crescendo, por isso mesmo eu não tenho gostado tanto assim do filme, achei apenas um bom passatempo, aconselho a irem ao cinema e creditarem um pouco mais ao nosso mercado, pois ele tem se esforçado bastante (mesmo com a certeza de que o dinheiro investido não terá retorno) para trazer cada vez mais opções para nós. É o mínimo que podemos fazer por eles também.

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