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Críticas

Cineplayers

Uma comédia que tenta fugir do óbvio acaba por ter um ótimo resultado.

7,0

Pelo trailer já dava para perceber que muito da graça de Com a Bola Toda havia sido desperdiçada. Não que o trailer fosse ruim, muito pelo contrário, fiquei com dor de tanto rir, mas ele passava a péssima impressão de que, como falei na minha matéria da Síndrome do Trailer, tudo o que tinha de bom já havia sido aproveitado ali, e o que tinha ficado de fora devia ser a mais pura porcaria. Bom, eu estava errado. Não totalmente, mas Com a Bola Toda consegue ser uma experiência positiva como uma comédia certinha em meio a tanta porcaria americanizada e apelativa por aí.

Eu rolei de rir quando vi o trailer pela primeira vez. Consegui rir nas outras duas ou três vezes em que assisti. O que eu não esperava era que fosse rir das mesmas piadas, de novo, ao assistir à versão integral do filme. Isso porquê ele tenta tomar alguns caminhos menos óbvios (mesmo que nem sempre consiga), o que torna extremamente engraçado o jeito com que a situação se constrói, na cena do trailer, e não no modo que ela se conclui. Portanto, mesmo que a piada tenha sido vista, já seja conhecida, seja óbvia, o modo como ela acontece é que a torna novamente engraçada. O jeito como a equipe consegue entrar no torneio de queimada é simplesmente genial!

O carisma dos personagens também contribui para que a graça seja alcançada. Há estereótipos, óbvio, como o menino rejeitado pela grande maioria da escola e que o único lugar onde ele não sofre preconceito nem é ridicularizado em público é na Academia Joe, ou o capitalista megalomaníaco que quer porque quer destruir a Academia Joe, entre alguns outros exemplos. É até estereótipo que haja estereótipo nesse tipo de filme. Porém, o modo fantástico com os personagens são caracterizados ajuda na identificação com o público. Por exemplo, eles apelam poucas vezes para piadas de tombos ou batidas com a cabeça em algum lugar (como Recém-Casados fez muito), não precisam exagerar nas caretas (finalmente perceberam que isso não é sinônimo de ser engraçado), não precisam utilizar do sexo para fazer rir (como o grosseiro e nojento O Dono da Festa)...

E é nesse ponto que Ben Stiller brilha e Vince Vaughn quase se afunda. Ter dois dos maiores comediantes americanos do cinema juntos só poderia acabar em confusão, claro – uma boa confusão. Porém, Ben Stiller rouba a cena ao criar um personagem extremamente engraçado, de boa presença de tela, safado, malandro, cheio de manias com relação à perda de peso e a manter a forma. O cara é um mala que se acha melhor que todos no mundo – ele inclusive fala isso em sua propaganda de televisão para chamar os clientes. O nome de seu personagem é White Goodman, dono da academia Globo, cheia de aparelhos, instrutores e da mais alta tecnologia. Ela é a academia dos sonhos de qualquer um que deseja manter a forma.

Claro que a Academia Globo está bem ao lado da quase falida Academia Joe, um lugar comandado por Peter La Fleur. Realmente um antro de perdedores que não têm mais o que fazer da vida. Até mesmo um homem que acredita ser um pirata malha por lá. Peter é o típico gente boa, não tem nada de excêntrico, é um cara totalmente normal, sem ambições na vida. Ou seja, Vincent acabou criando um cara sem sal, que apenas serve de meio para a história correr e outros tomarem as rédeas das piadas. Desejando monopolizar o mercado da região, White então decide tentar comprar a hipoteca atrasada da Academia Joe, que tem um prazo legal de apenas de um mês para que Peter e seus seguidores consigam a exuberante quantia de 50 mil dólares para pagar as dívidas. Eis que então um dos amigos de Peter, fanático leitor de uma revista de esportes obscuros, descobre um torneio de queimada nacional que premia com o mesmo valor a equipe vencedora.

Uma grande sacada do diretor estreante e também roteirista do filme, Rawson Marshall, foi de amarrar muito bem os fios soltos da história ao final, aqui sim fugindo totalmente do óbvio – o que me fez adorar o filme. Em alguns momentos, chegam a acontecer absurdos como em grandes clássicos pastelões, como Monty Phyton e Corra que a Polícia Vem Aí, mesmo que não seja esse o caminho básico que o filme adota. São momentos isolados que funcionam muito bem devido à pouca seriedade que o filme propositalmente impõe durante sua projeção. Outro acerto do filme foi não insistir em um romance forçado entre Peter e Kate, a advogada que vem executar a hipoteca e mais tarde se junta ao time.

Com a Bola Toda nada mais é do que um belo filme de Sessão da Tarde, que não precisa apelar para ser engraçado. Tem lá suas cenas onde beldades aparecem de shortinhos e tops curtíssimos, mas o fato de ser engraçado não vem da apelação, e sim da belíssima criação por parte dos envolvidos e um roteiro que não se limita ao óbvio. A força do filme nos Estados Unidos foi tanta (responsabilidade também dos nomes envolvidos no projeto) que até mesmo várias ligas adultas de queimada foram criadas no país após o seu lançamento. É o esporte levado a sério a partir de um filme que de sério não tem nada, mas que diverte tanto quanto uma partida de queimada real. Não espere algo de outro mundo, mas considerando a média das comédias atuais, esse vale o preço do ingresso.

Comentários (1)

Fernanda Pertile | sexta-feira, 28 de Outubro de 2011 - 21:07

Esse filme me divertiu muito, é bem agradável de se assistir, um bom filme.

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