Tentando ser humana, a diretora Bier acabou criando uma obra chata.
Vigésimo oitavo filme com o selo do movimento Dogma (criado por Thomas Vinterberg e Lars Von Trier), que rege a execução de um filme preservando a pureza através de algumas normas, que por sinal, nunca foram seguidas à risca (chega a ser engraçada a exibição do certificado que o filme obteve do movimento, antes da projeção do filme, como se fosse a exibição de um troféu).
Comandado pela experiente diretora dinamarquesa Susanne Bier, tem um ponto de partida muito bom: Cæcilie (Sonja Richter) é pedida em casamento pelo seu namorado brincalhão, Joachim (Nikolaj Lie Kaas). Só que, logo em seguida, Joachim é atropelado (na cena mais impactante do filme, que acaba sendo diluída por ter sido apresentada no trailer) por Marie (Paprika Steen, de Festa de Família, ótima) e acaba se tornando tetraplégico. Cæcilie sofre ao ser expulsa do quarto de hospital de Joachim, e acaba se consolando nos braços do marido de Marie, Niels (Madds Mikkelsen, que pulou deste filme para a superprodução hollywoodiana Rei Arthur ), um médico que acaba se envolvendo e se apaixonando por Cæcilie, para desespero de Marie.
Depois da meia hora inicial (que possui um diálogo dos mais engraçados dos últimos tempos, quando um garotinho debate com o pai a possibilidade de vir a se tornar homossexual), o filme perde suas boas intenções e acaba se tornando um melodrama capaz de irritar até a mais ferrenha das espectadoras de novelas mexicanas (o próprio título original já entrega o conteúdo – Te Amarei para Sempre é de doer). É duro entender o comportamento de Marie, por exemplo, ao ser abandonada pelo marido, em uma cena que deixará as feministas de plantão mais irritadas do que nunca. E o velho clichê do paraplégico que acaba ficando de mal com tudo e todos que acaba tendo sua redenção, ao perceber que a vida continua...
O filme ainda perde muito ao ter uma protagonista fraquíssima. Sonja Richter, com aquela cara de coitadinha assustada, detona todas as cenas em que aparece. Já Mikkelsen constrói um grande personagem, que vai envelhecendo de acordo com o sofrimento de seu personagem. Niels é contraditório, intrigante, apaixonado e ingênuo, e todas as suas angústias são passadas sem sentimentalismos baratos. Mesmo tomando atitudes desagradáveis, ele acaba conquistando a simpatia dos espectadores, se tornando o personagem mais humano da história.
A diretora Bier tenta transmitir uma mensagem onde a amargura devia predominar, mas o máximo que consegue é ser piegas. Esqueça aquelas definições balelas como é “cru”, é “triste”, é “humano”, pois o máximo que consegue ser é chato. Não consigo recomendar o filme.
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