O terceiro Exterminador é o mais divertido de toda a série, e tem cenas de ação maravilhosas.
Considero até hoje os dois primeiros exemplares da série O Exterminador do Futuro filmes que ficam muito perto de serem considerados obras-primas do gênero ação. Exterminador 1 foi lançado em 1984 apresentando uma história inteligente e efeitos especiais que só não foram considerados revolucionários pois todo mundo ainda estava zonzo com o final da trilogia Star Wars, que teve seu Episódio VI lançado em 1983; Exterminador 2 já foi diferente. Ao lado de O Parque dos Dinossauros, ele é considerado o filme que alavancou o mundo dos efeitos especiais, no início da década de 90, dando os primeiros passos em alta escala em termos de computação gráfica no cinema. Sem esses filmes, hoje não teríamos os senhores dos anéis, as matrizes e, claro, não teríamos este Exterminador 3.
Mas o principal fator que fez os dois primeiros filmes clássicos do gênero ação-ficção não foi a parte técnica, e sim sua história. Muito antes da batalha Homem versus Máquina apresentada por Matrix, em 1999, ambos filmes da série Exterminador apresentaram a mesma premissa, mas de um jeito muito mais perto da realidade. James Cameron, que hoje ainda vive dos louros de seu mega-épico Titanic, lançado no longínquo ano de 1997, dirigiu e ajudou a escrever as duas primeiras versões de uma das histórias de ficção mais interessantes já vistas no cinema. Nelas, a batalha Homem versus Máquina é apresentada de maneira real e palpável, e se fosse possível realizar viagens no tempo (o único elemento impossível de acontecer na vida real encontrado nos filmes), certamente a história adquiriria sentido ainda mais importante do que já tem.
Confesso que assim que saiu a confirmação da produção deste terceiro exemplar da série fiquei receoso. Não cheguei a me importar com o fato de James Cameron ter confirmado que não faria parte do novo trabalho (e nem Linda Hamilton, que fazia a personagem Sarah Connor nos dois filmes anteriores), pois embora o diretor tenha feitos grandes filmes de ação, como o próprio Titanic (é ação também, oras) e True Lies, considerava que essa longa folga entre Titanic e seu próximo trabalho (do qual ainda não se tem certeza de quando será lançado) o teria deixado fora de forma, não em termos de direção, mas no uso das mais modernas técnicas para fazer um filme do gênero funcionar corretamente. Além do quê não sou fã do diretor, claro.
Então o quase inexperiente Jonathan Mostow, que antes de E-3 não fez muita coisa importante (seu trabalho mais recente é o drama U-571) é confirmado na direção e meu interesse ainda não aumentava. Tudo isso somado ao fato de Arnold Schwarzenegger já não fazer mais parte de um filme de sucesso há vários anos. Felizmente, posso dizer que todo esse alarde anterior ao lançamento do filme foi feito em vão: Mostow não apenas conseguiu fazer o que é, pra mim, um novo referencial em filmes de ação, como criou, para E-3, elementos superiores aos encontrados nos dois primeiros filmes da série, dirigidos por Cameron. Fico feliz, portanto, em saber que o diretor de Titanic (que já disse gostar desse terceiro episódio) acabou tornando-se “dispensável” para o filme, e até mesmo para um quarto filme da série, se um dia ele existir. O final de E-3 não poderia ser mais óbvio para isso acontecer... mas antes do final, conheçamos o resto do filme.
O filme passa-se doze anos após E-2, seguindo o intervalo de lançamento real entre os dois filmes. John Connor, interpretado agora por um novo ator, o competente Nick Stahl, tem 22 anos e vive uma vida solitária e cheia de medo após os catastróficos acontecimentos da década passada, onde com a ajuda de sua mãe e de outro exterminador, conseguiu salvar o mundo de uma futura destruição da humanidade. Ele acaba conhecendo, ou melhor, reencontrando quase sem querer, uma antiga colega de colégio, Kate Brewster, interpretada por Claire Danes. Ambos serão as principais figuras, no futuro, da resistência dos homens contra as máquinas, então uma exterminadora (T-X, Kristanna Loken) é enviada ao presente para matá-los, garantindo para as máquinas que a resistência sequer chegue a acontecer (ou pelo menos não do modo previsto), com a morte de ambos.
Para salvá-los de T-X, chega novamente o exterminador interpretado por Schwarzenegger (não o mesmo, que foi extinto em E-2, apenas um outro do mesmo modelo). A partir do encontro dos três personagens principais, o filme vira uma grande, poderosa, e inesquecível cena de perseguição, com T-X tentando aniquilá-los a qualquer custo. O mais surpreendente de E-3 é mesmo o roteiro. Quero dizer, E-1 e E-2 possuem histórias incrivelmente interessantes, complexas mas ao mesmo tempo simples de entender (bem diferente de Matrix), e eu não esperava que E-3 conseguisse ter uma história tão boa, envolvente e até mesmo possuidora de reviravoltas de perder o fôlego como de fato aconteceu. O final (não vou falar como é, obviamente) é um dos mais inteligentes do gênero em bons anos de cinema, e fecha com perfeição todas as pontas que o roteiro havia colocado no decorrer do filme.
Todos os personagens estão muito bem conectados entre si, fazendo com que a história do terceiro filme se adapte aos dois anteriores sem fazer o espectador de burro nem forçar demais a inteligência de ninguém. O filme teve que resolver questões difíceis como o fim que levou a mãe de Connor (já que Hamilton não aceitou participar do filme), como, também, após terem “salvo” o mundo do futuro negro no segundo filme, acharem um motivo para ele na verdade não estar salvo (a explicação é interessante e convence). Enfim, ao entrar na sessão esperando ver apenas um divertido filme de ação, deparei-me com um filme incrivelmente divertido de ação e com uma história muito interessante. No geral, a história dos dois primeiros filmes são mais bem resolvidas, e seus personagens um pouco melhores, mas E-3 não fica muito atrás nesse requisito, o que faz dele o melhor “blockbuster” do ano até agora.
De resto, pode-se elogiar os efeitos especiais também. E-3 é um dos filmes mais caros de todos os tempos, mais caro inclusive do que Matrix Reloaded, e justifica seus custos com cenas de ação de tirar o fôlego, com destaque para divertidíssima e espetacular perseguição (relembrando os dois filmes originais) de John Connor pela T-X. A luta entre o exterminador e T-X também é intensa e vibrante. Com exceção da luta de Neo contra os 100 agentes Smiths (pra mim a melhor cena de ação já criada no cinema), as cenas de ação encontradas em E-3 são superiores às de Reloaded. Até porque aqui elas sempre aparentam ser mais reais. Foi usado uma tonelada de computação para fazê-las, mas na maioria das vezes eram atores de verdade, e não computadorizados, que estavam lá trabalhando. E isso pode ser sentido na prática. E é um grande ponto a favor de E-3.
Claro, ia me esquecendo: como todo filme, esse também tem seus pontos fracos. Se forem feitas as comparações óbvias com os dois primeiros da série, E-3 perde por pouco em termos de enredo, como já foi comentado, e também no desenvolvimento dos personagens. O pai de Kate, por exemplo, é uma figura extremamente importante para toda a trilogia Exterminador (mas só ficamos sabendo disso neste terceiro episódio), e praticamente não aparece ao longo do filme, parecendo um dos inúmeros generais militares de tantos outros filmes de ação, ou seja, é apenas um fraco estereótipo. Fora isso, o filme também não possui uma trilha sonora que se destaque, apenas a música dos créditos é muito boa. No mais, não há nada do que reclamar.
Exterminador do Futuro 3 é um ótimo complemento aos dois filmes de James Cameron. Antes parecia ser um complemento desnecessário à uma série que era praticamente perfeita, mas o belo trabalho de Mostow faz com que, felizmente, a série não perca o seu respeito (como era considerado certo por quase todo mundo). Não apoiando-se apenas em efeitos especiais, E-3 possui uma história cheia de momentos inesquecíveis que, embora não tenham o impacto visual e emocional dos filmes anteriores, é a mais divertida de todos os filmes, e vai ser capaz de ser lembrada por muitos anos que se seguirão. Um filme incrível e, até agora, o melhor filme de ação de 2003. Revolutions vai ter que suar pra levar essa.
Achei esse o pior dos 4. (em ordem decrescente, 2,1,4,3), mas ainda é um bom filme. Não gosto do cara que faz John Connor e achei de mal gosto o exterminador (Schwarzenegger) vestido de dançarino do clube das mulheres.