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Críticas

Cineplayers

Um musical que mistura as belas coreografias clássicas com um tema bastante urbano. Vencedor de 10 Oscar, incluindo Filme e Direção.

8,0

Se fôssemos tentar resumir Amor, Sublime Amor nos dias de hoje, poder-se-ia dizer que ele é, no mínimo, interessante. Imagine um Romeu e Julieta ambientado em uma Nova York caótica, com brigas entre gangues, mas com um clima de fundo enquadrado no musical clássico dos anos 50, no melhor estilo Sinfonia de Paris e Cantando na Chuva. Essa bagunça toda é Amor, Sublime Amor. Mesmo com quarenta anos de existência, continua funcionando, mesmo que não tenha tanto impacto em algumas pessoas como antigamente.

A sinopse é bem simples: duas gangues disputam um pequeno território do lado pobre de Nova York. Os Jets sempre foram os donos dos locais e já expulsaram outros invasores que tentaram tomar seus lugares. Os Sharks são uma gangue de porto-riquenhos que querem seu lugar ao sol. Ambas as gangues não podem se encontrar que saem faíscas entre elas. Quase sempre há briga e nem mesmo a polícia consegue controlar o caso. Por toda a parte há pichações de ambas as gangues, seja apenas colocando o nome da qual é integrante ou riscando-se o nome da adversária. Em meio a essa guerra urbana, Tony, um ex-Jet, ídolo dos atuais garotos, apaixona-se por Maria, jovem irmã do líder dos Sharks. Claro que isso acirra ainda mais a disputa entre todos e tudo vai tomando proporções catastróficas com o desenrolar da história.

Amor, Sublime Amor é um dos maiores vencedores do Oscar de todos os tempos, faturando dez estatuetas das onze ao qual estava disputando, inclusive filme e diretor. Prêmio, aliás, que foi dividido entre Robert Wise e Jerome Robbins, fato inédito na história da premiação. Robert Wise, famoso também por dirigir a obra-prima familiar A Noviça Rebelde, ficou encarregado de dirigir as partes dramáticas da trama, enquanto Jerome dirigiria os musicais. Jerome fazia um trabalho brilhante, mas de tanto exigir de seus atores (só deixava que parassem se algo acontecesse, como machucar o joelho ou se saísse sangue de seus pés), acabou estourando o orçamento e atrasando todo o cronograma de filmagem do longa, o que resultou em seu afastamento da obra com apenas 60% do planejado na lata.

Só que Robert Wise cumpriu o contrato e chamou Jerome Robbins para editar o longa, já que ambos haviam planejado tudo juntos. E sua ajuda foi fundamental, uma vez que Jerome sabia como ninguém as marcações das cenas de dança, e o ritmo imposto no filme ficou freneticamente delicioso. Não é o tipo de musical que toda hora tem dança, aqui todas são justificadas e de maravilhosas letras. O interessante é que esses números musicais não são ingênuos ou felizes, como a maioria dos musicais são, pois eles conseguem conservar a temática violenta que há de pano de fundo na história. Há algumas letras com grandes gritos de revolta e de opinião forte. Imagine alguém revoltado com a morte de um dos integrantes e cantando para acalmar o ódio que está dentro dele, para que a polícia não desconfie de nada. É mais ou menos assim que Amor, Sublime Amor se desenvolve. O musical seria como uma máscara para o tema violento que aborda.

Existem musicais mais tradicionais também, como o do ginásio da escola (Mambo!) e as declarações de amor entre Tony e Maria. A parte que eles simulam um casamento dentro da loja de roupas é linda! Porém, o que mais gosto é o musical onde as mulheres do Shark discutem com os seus homens os pontos positivos e negativos da América... Além de engraçado, ele tem um profundo ponto crítico que não retira a responsabilidade de tudo o que está acontecendo dos que se dizem prejudicados pelo preconceito, assim como outro número não exclui os jovens de serem burros por fazer o que eles fazem. Esse musical dos Jets, aliás, merece uma dose de atenção extra, uma vez que eles mesmo tentam achar mil e uma razões para serem do jeito que são e, no final, concluem que o defeito está neles mesmo. Não é como Kids ou Aos Treze, que tomam a cômoda posição de jogar a culpa no meio onde os jovens vivem, e sim assumem a responsabilidade por sua parte também.

Imagine uma briga entre gangues com membros saltitantes, coreografias exageradas, dançando no meio da rua como se aquilo tudo fosse normal. Amor, Sublime Amor é assim, por mais estranho que possa parecer. Sobre as danças, minha única reclamação paira sobre o fato desse estilo estar mais presente no início do longa e fica mais raro perto de seu final. Não que tenha sido deixado de lado, ainda está lá, mas apenas em pontos extremamente cruciais da trama, o que deixou o filme um pouco mal balanceado. Outra reclamação é sobre o fato do início do filme ter sido em externa e todo o resto do filme em estúdio. Tudo bem que o início era a única cena diurna do filme e todo o resto se passa à noite, mas ficou algo um pouco estranho, pois a locação funcionou tão bem, mas tão bem que acabou deixando essa má impressão com o passar do filme.

Ainda bem que isso se ameniza pelo fato dos cenários montados serem magníficos, como o estranho vermelho nas paredes do salão de dança ou o incrível pátio onde o confronto final entre as gangues acontece. O vermelho, aliás, é usado em demasia no filme, só que de maneira positiva, aproveitando bem as sensações que a cor consegue gerar. Outro aspecto bastante positivo são os figurinos dos personagens, que refletem bem suas personalidades e origens.

Quanto aos atores, todos estão bem, mas o destaque fica para a dupla porto-riquenha Bernardo e Anita. Ambos os atores, George Chakiris e Rita Moreno, levaram a estatueta de melhores atores coadjuvantes do ano para casa por suas atuações. A química entre Tony e Maria é excelente, com um destaque extra para Natalie Wood, simplesmente encantadora. A menina realmente convence no seu papel de apaixonada, mesmo que o roteiro tenha uma falha de não demonstrar tão bem o início da paixão entre os dois. Ficou algo forçado, mesmo para o estilo do filme. Algumas opções feitas pelos diretores não firmaram, como por exemplo Elvis Presley para o papel de Tony - o que seria perfeito - ou então Audrey Hepburn para o papel de Maria - também cairia bem, porém Audrey não pôde atuar por estar grávida na época.

Assim como outros grandes musicais, todos os atores sabiam que iriam ser dublados, então eles não precisariam necessariamente saber cantar para serem escolhidos para seus papéis. No nível da dança, é incrível ver o que alguns atores conseguem realizar, verdadeiras proezas, que ficaram ainda melhores pelo belíssimo trabalho dos dubladores do filme. Algumas canções se assemelham a óperas devido ao tom que seus cantores alcançam. Nesse ponto, Rita Moreno brilhou mais uma vez, por ter o mérito de não ser dublada em duas canções, devido ao seu maravilhoso desempenho nos sets de filmagem. Já Natalie Wood chegou a se irritar com a dublagem. Pelos extras do DVD, é possível ver algumas de suas cenas com o som original, sua própria voz cantando, o que deixa a certeza de que a opção dos diretores foi acertada ao optar pela dublagem da atriz.

Repetindo o sucesso da Broadway, Amor, Sublime Amor foi um sucesso de crítica e público na época de seu lançamento. Ainda com charme e bastante curioso devido à mistura que faz, o resultado é positivo e resistiu bem com o passar dos anos. Se você curte musicais, deveria dar uma olhada nesse aqui. Com certeza é algo diferente do que você está acostumado a assistir. Se você não curte o estilo, fica mais do que óbvia a minha contra-indicação.

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