Uma obra-prima que mostra os efeitos agressivos das drogas. Imperdível!
De vez em quando surge um filme feito com pequeno orçamento, um elenco que não é recheado de estrelas, mas que consegue ganhar grande destaque e acaba virando cult. Réquiem Para um Sonho é um filme que se destaca tanto na parte técnica como no enredo e no conteúdo (principalmente nestes dois últimos pontos). Dois anos depois de seu lançamento, o filme já é considerado uma das obras-primas máximas a retratar o mundo das drogas, com uma linguagem moderna, ousada e incrivelmente realista. Requiém Para um Sonho é um filme obrigatório para os adoradores do bom cinema.
A história é sobre quatro viciados, que no início do filme estão cheios de sonhos e com boas perspectivas de realizá-los, afinal são jovens (três deles), cheios de idéias e energia. Porém, com o vício, acabam ferrando tudo. Harry (Jared Leto, mais conhecido da série adolescente My So-Called Life, que passava ou passa no Multishow, e que recentemente pode ser visto em O Quarto do Pânico), Tyrone (Marlon Wayans, de Todo Mundo em Pânico e Sexta-Feira em Apuros) e Marion (Jennifer Connelly, que aqui faz um trabalho muito melhor do que no filme que lhe deu um Oscar, Uma Mente Brilhante) formam um grupinho de amigos que se envolvem cegamente nas drogas. Enquanto isso, Sara (a ótima atriz Ellen Burstyn) é viciada em televisão e, quando recebe uma possível proposta de participar de um programa de auditório, resolve emagrecer com pílulas de anfetamina, que acabam perdendo o efeito com o tempo, e ela, viciada, começa a exagerar na dose para tentar recuperar a eficiência das pílulas.
O filme é isso que você vê eventualmente sendo demonstrado na televisão em campanhas contra as drogas: mostra os sonhos, depois o processo de ruína, e o fim trágico de seus usuários. E, acreditem, Réquiem Para um Sonho não é novela das oito, aqui dificilmente o final será feliz, para quem quer que seja. E esse é justamente um dos pontos fortes do filme: ele não tenta dar nenhuma lição de moral, não ensinar nada, apenas joga na tela, da forma mais cruel possível, os efeitos que as drogas podem causar sobre seus dependentes. Não há nenhum médico ou parente para confortar os personagens, só desespero e dor. Então, o espectador é quem decide se o que viu é o suficiente para alertá-lo ou não.
O filme, além da estonteante e bem apresentada história e das belas interpretações (sobretudo a de Ellen Burstyn, que deveria ter levado o Oscar de melhor atriz), é maravilhoso na sua parte técnica. Com cortes rápidos, uma trilha instrumental que serve muito bem a história e com uma montagem ousada (lembrando os filmes de Tarantino e Guy Ritchie), o filme passa suavemente (na medida do possível, se levarmos em conta sobre o que se trata) durante a sua projeção, servindo também como “entretenimento baixo-astral”. A cena final é uma das mais estonteantes já vistas na última década de cinema, e é magistralmente auxiliada por uma melodia inesquecível, chamada “Lux Aeterna” que, em conjunto com as imagens, vai levar os limites do espectador, juntamente com o dos personagens, às alturas.
Este é o terceiro filme do diretor Darren Aronofsky, o mesmo do estranho (e criticamente bem-sucedido) Pi, e ele desde já é um dos diretores mais promissores do cinema atual. Qualquer futuro projeto seu já entrará, com justiça, na lista dos filmes mais esperados. Talvez só não é ainda mais reconhecido justamente por seus dois últimos filmes serem altamente não-comerciais. Quando entrar no cinemão Hollywoodiano, é bem possível que continue nos surpreendendo, se bem que por um lado é bom esperarmos que ele jamais entre.
Esta sua obra-prima, Réquiem Para um Sonho, tem cenas que são fortes (o filme tem censura 18 anos e justificada), cujas emoções parecem ser verdadeiras (todos os atores, mesmo Jared Leto, que é ainda aprendiz de ator, estão muito bem). Algumas situações são repugnantes (como o médico que receita os remédios sem sequer olhar pra paciente), mas isso só ajuda no impacto que o filme causa. Este é um daqueles filmes que ficam gravados na mente de grande parte das pessoas que o assistem. Você decide se é de forma boa ou ruim...
Aceitável.
Obra-prima.