Uma das melhores histórias sobre amor impossível que o cinema já concebeu.
Esta é uma das maiores histórias de um romance impossível já criadas para o cinema. Temos uma princesa e um plebeu, e normalmente ambos nunca poderiam se encontrar para passar um dia agradável em uma cidade como Roma e se apaixonarem. Nunca na vida real, mas no cinema eles certamente poderiam, e o diretor William Wyler (a mesma mente genial por trás de Ben-Hur) resolveu filmar essa história, criando assim um dos filmes mais inspiradores do gênero no cinema. De “bônus”, o diretor ainda revelou uma das atrizes mais lendárias de todos os tempos, em seu primeiro papel principal em um filme. O primeiro e justamente o único que lhe deu o Oscar, entre seis nomeações para melhor atriz, no total. Esta atriz, obviamente, é a lindíssima Audrey Hepburn.
A Princesa e o Plebeu é uma espécie de história de Cinderela às avessas. Uma princesa riquíssima tem uma crise nervosa por causa da agenda cheia de compromissos repetitivos e entediantes: o que ela quer é apenas viver como uma garota normal. Então durante a noite foge do seu palácio e acaba encontrando não um príncipe encantado, e sim um jornalista interesseiro, que a reconhece (embora ela não saiba disso) e quer conseguir uma reportagem exclusiva que lhe renderá uma enorme quantia de dinheiro. Certamente para os dias atuais não é lá uma história original, mas talvez ainda seja a melhor desse tipo, mesmo tendo sido lançada em 1953.
O que a torna tão especial é justamente Audrey Hepburn. Dificilmente alguém conseguirá não se encantar com suas expressões de inocência, de pureza, em uma figura incrivelmente linda e simpática. Veja bem, durante todo o filme não há sequer um pingo de conotação sexual envolvendo sua personagem, ela conquistou a crítica e o público, tornando-se uma lenda, não com grandes decotes e nem com papéis “quentes”, como muitas grandes estrelas na atualidade o fazem (Julia Roberts é o exemplo mais óbvio, sendo lançada à fama com um papel de prostituta, em Uma Linda Mulher), e sim com seu carisma aliado à sua beleza singela, mas vibrante. A verdade é que fica difícil tirar os olhos dela quando está na tela, e esse tipo de atriz quase não existe mais hoje em dia.
Claro que Hepburn não é o único motivo que faz o filme ser tão incrível. Como diz o velho clichê, é todo o conjunto da obra que funciona perfeitamente. Começando pela sua simplicidade. Com um roteiro sem muitas novidades, de fácil entendimento, mas extremamente sincero e divertido, ao mesmo tempo que consegue criar ótimas situações dramáticas, A Princesa e o Plebeu passa rápido pela tela, enquanto você vai descobrindo as deliciosas reações que a princesa Ann tem a cada “novidade” que encontra nas populosas ruas de Roma. Tudo é inédito para ela: o contato com o povo, um café à beira da rua e, claro, o seu primeiro amor, justamente o repórter que, à princípio, quer tirar vantagem dela. É um filme ao mesmo tempo totalmente previsível (“ela vai acabar sendo descoberta”) e imprevisível (“será que existe realmente chance deles ficarem juntos?”), uma antítese de situações que encanta também com sua fotografia alegre e divertida de Roma, mesmo em preto-e-branco.
Há algumas histórias interessantes com relação à participação de Hepburn no filme. Ela conseguiu ganhar o papel em um teste que hoje é bem famoso, que consistia em atuar uma das cenas do filme. Até aí, tudo bem. Mas o operador de câmera recebeu ordens de deixar filmando após o diretor gritar “corta”, e a partir daí há vários minutos de rolo de filme com expressões e atuação espontâneas da atriz, que foram decisivos na sua escolha para o papel de princesa. Um outro fato interessante é que, em um determinada cena, Hepburn deveria chorar, mas como a atriz era bastante inexperiente na época, não conseguiu a reação que o diretor Wyler desejara, provocando reclamações por parte deste. Sensível, a atriz começou a chorar na mesma hora, então a cena finalmente pôde ser filmada. E de fato, tal cena é muito realista, digna de qualquer grande atriz.
Gregory Peck, interpretando o estereótipo do galã canastrão, é um ator que dificulta o trabalho de qualquer espectador em odiá-lo. Sua expressão honesta e serena, a segurança com que desenvolve seus personagens (seu personagem em O Sol é Para Todos foi considerado pelo American Film Institute o maior herói de todos os tempos no cinema) fazem do ator um dos melhores de sua geração. Finalmente, a direção firme e dinâmica de William Wyler, sempre levando o filme para frente de maneiras inesperadas e atuais até para os dias de hoje, complementam esse que é, como já foi comentado, um dos maiores clássicos de todos os tempos do gênero romance. Só que aqui o romance é daqueles impossíveis, improváveis, como o cinema gosta de exibir. Afinal, cinema desde sempre e até os dias atuais é lugar de sonhos e fantasia. Esse filme cumpre tal meta com perfeição.
A Princesa e o Plebeu é um romance clássico, que diverte, faz chorar, faz pensar se devemos aceitar ou não passivamente a vida que nos é dada. Um filme, à primeira vista simples, mas quando se chega mais perto, quando se quer entender seus personagens e suas aspirações, e se entregar à magia do filme, torna-se uma experiência incrível, linda e tocante. Um filme da época em que as atrizes realmente mereciam serem chamadas de estrelas, pois brilhavam em cada cena. Audrey Hepburn começou a se imortalizar com esse filme, e daí pra frente nunca mais saiu da cabeça de milhões de fãs ao redor do mundo. Mais um clássico obrigatório para qualquer cinéfilo.
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